Corvette escandinavo

Primeiro esportivo da Volvo, o P1900 era esquisito, problemático e raro,
mas foi um dos carros mais surpreendentes criados pela marca

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

O clima da Suécia, gelado por boa parte do ano, está longe de ser um convite para se explorar os prazeres de um carro esporte, ainda mais se for um conversível. Mas a Volvo, uma empresa que começou a se expandir mundialmente a partir dos anos 1950, queria criar uma aura mais sofisticada para sua linha logo que começou a estender seus negócios para a América. O PV444 ainda nem havia desembarcado nos Estados Unidos para tentar consolidar essa expansão, mas para Assar Gabrielsson, presidente da empresa, era o momento de criar um produto de mais glamour.

A idéia era projetar um roadster. Mesmo com todos os melhores modelos desse segmento nos países vizinhos no continente, Gabrielsson preferiu aproveitar sua visita aos Estados Unidos, em 1953, para inspecionar os primeiros lançamentos desse porte em Detroit. Não era uma mera cisma: ele tinha grandes planos – que se provariam bem fundados – de entrar no mercado americano. O ano não poderia ser mais propício. O empresário sueco pôde conferir ao vivo o recém-lançado Chevrolet Corvette.

Enquanto o Corvette ganhava grande repercussão como o primeiro roadster de um grande fabricante americano, em contraponto a suas vendas minguadas, o Nash-Healey evidenciava a ascendência européia desse tipo de automóvel ao ser montado na pátria dos MG TD e Jaguar XK, a Inglaterra. Mas uma característica do Corvette intrigou Gabrielsson em particular: sua carroceria era de plástico reforçado com fibra-de-vidro, inspirada no Brooks Boxer 1950 da Glasspar. Na General Motors ele foi aconselhado a contatar Bill Tritt.

Primeiro carro europeu com carroceria em plástico com fibra-de-vidro, o P1900 foi uma tentativa breve de fazer um roadster da Volvo: apenas 68 foram fabricados

Tritt era fundador e engenheiro da Glasspar, empresa da Califórnia que vinha trabalhando com carros e barcos em fibra desde 1948. Ao receber Gabrielsson, ele lhe apresentou uma série de desenhos para um esportivo de dois lugares. Empolgado, o sueco instruiu sua equipe para desenvolver um chassi que comportasse tal veículo. Não demorou para a equipe da Volvo despachar um chassi com motor e transmissão para os Estados Unidos. Assim foi concebido o Volvo P1900, também conhecido como Volvo Sport, o primeiro carro em plástico e fibra-de-vidro da Europa.

O chassi era feito de tubos de aço duplo com reforços, ligados por elementos sulcados a uma complexa estrutura tubular de aço inoxidável. Ambos eram obras de Uno Backstrom. O motor era um quatro-cilindros de 1.414 cm³, versão mais forte do que equipava o PV444, com carburadores SU duplos, comando de válvulas diferente, válvulas de admissão maiores e maior taxa de compressão (7,8:1), que gerava 70 cv a 5.500 rpm e 10,4 m.kgf de torque a 3.000 rpm. O nada esportivo câmbio manual de três marchas tinha alavanca longa montada no assoalho. Por cima do conjunto a Glasspar deveria criar um belo esportivo.

Três unidades do chassi foram feitas pela própria Volvo. O restante foi construído pela Motala Verkstad. Bill Tritt reclamou do formato estreito do chassi e da posição alta do motor, mas de nada adiantou. Ele então criou um modelo em argila para que o engenheiro Don Kingsbury pudesse transferir suas formas para um molde. Com pára-brisa envolvente, estilo hardtop com janelas laterais fixas, tampa do porta-malas elevada, luzes de direção dianteiras circulares e nada de lanternas traseiras, nascia o primeiro protótipo do P1900, chamado de X1. Continua

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Data de publicação: 28/9/04

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