Com a nova década, a direção da empresa também tomou conhecimento do trabalho de um engenheiro italiano, que desenvolvia seus próprios projetos em Molsheim, na Alsácia francesa. Seu nome era Ettore Bugatti. Ele tinha sólida formação artística de família e seu trabalho refletia um esmero artesanal. Entre os projetos do italiano, o que mais chamou a atenção da Peugeot foi o protótipo Tipo 19 de 1911. Bugatti acreditava que a busca da qualidade dos materiais e da produção não precisava necessariamente resultar em carros grandes, embora ele próprio tenha chegado a extremos com seu imenso Royale (leia história).

O fabricante francês, então dirigido por Robert Peugeot, decidiu comprar o projeto de Bugatti e fazer as adaptações necessárias (bem poucas) para produzir o Tipo 19. Batizado oficialmente de Tipo BP1, mas conhecido como o novo Bébé, o compacto veículo só teria o nome em comum com o original. Seria apresentado no Salão de Paris em dezembro de 1912. Enquanto cada vez mais carros levavam quatro passageiros, o Bébé dispunha de espaço para apenas dois – e sem bagagem.

É surpreendente que Ettore Bugatti, criador de modelos de competição e do suntuoso Royale, tenha desenvolvido para a Peugeot um carrinho simples, econômico e de linhas despretensiosas como o Bébé

Com 2,62 metros de comprimento e 1,83 m de entreeixos, tinha todo o jeito de um brinquedo, em especial por seus dois pequenos faróis e a alta capota rebatível de lona. Seu nítido capô e seu pára-brisa o diferenciavam das carroças motorizadas de poucos anos antes, como o próprio Tipo 69. Possuía uma única porta, do lado esquerdo, onde ficava o passageiro. Sobre o radiador, o nome Peugeot com sua tipologia que parecia dizer Geugeot. O Bébé custava quatro mil francos, sendo que o salário médio no país era de 297 francos. Ainda assim, era um preço baixo o suficiente para ser o destaque de sua campanha publicitária.

Considerando um médico que se deslocasse 40 quilômetros diariamente, a brochura do Peugeot enfatizava que ele podia substituir dois cavalos pelo preço de um. A estratégia de marketing não fazia alusão à potência do carrinho, que chegava a 10 cv a 2.000 rpm. O Bébé trazia um quatro-cilindros em linha de 855 cm³ com válvulas laterais, 55 mm de diâmetro e 90 mm de curso, carburador Claudel simples e refrigeração a água. A lubrificação era por um sistema de gotejamento por gravidade. Era o bastante para levá-lo a 60 km/h.

O BP1 tinha tração traseira e câmbio manual de duas marchas, mas em 1914 o B3P1 já oferecia a terceira. A suspensão do Bébé consistia em eixos rígidos, tanto na frente quanto atrás. A dianteira vinha com mola semi-elíptica e a traseira com feixe com molas quarto-elípticas reversas, esquema usado pela primeira vez num projeto de Bugatti. Os freios eram tambores instalados apenas nas rodas posteriores.

Embora não permita comparação em termos de volume de vendas, o Bebé foi para a Peugeot o que o Modelo T representou para a Ford -- e pode ser tido como um precursor de muitos pequenos europeus das décadas seguintes

De 1913 a 1916, a Peugeot vendeu 3.095 unidades de seu “garotinho”. A comparação com os mais de 15 milhões de unidades do Carro do Século 20, o Ford T, é em parte injusta. As fábricas da empresa francesa estariam em plena zona de guerra, a primeira mundial, e o modelo americano duraria até 1927 – 19 anos no mercado. Para os padrões europeus dos anos 1910, o Bébé foi um tremendo sucesso. No final da Belle Époque, a Peugeot emplacava seu carro das massas. Paralelo ao fortalecimento do negócio da família, vieram as conquistas nas pistas: vitória na 500 Milhas de Indianápolis em 1913, que seria repetida em 1916 e 1919.

O moral da marca do leão andava alto. O Bébé saiu cedo de linha, mas não da memória de quem o viu ganhar as ruas como o primeiro carro democrático francês. Concebido por um Bugatti que criaria alguns dos mais sofisticados e exclusivos automóveis já feitos, era um prazer de dirigir para muitos. Criado para ser pequeno, prático e popular, ele foi um precursor dos compactos europeus de grande aceitação e permanência no mercado, como o Austin 7, o Fiat Topolino, o Volkswagen Sedan e o Citroën 2CV. Outros trabalhos do projetista italiano foram mais respeitados, mas nunca tão estimados quanto o Bébé Peugeot.

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