Muito charmoso era o local onde estava o pneu sobressalente, apoiado na lateral direita do capô. Também elegantes eram as duas correias de couro que o prendiam. Um artefato muito comum em carros esporte potentes da época. E vigor é o que não faltava sob o capô: o quatro-cilindros em linha, com enorme cilindrada de 4.398 cm³ (1,1 litro por cilindro!), era refrigerado a água e tinha um radiador de proporções notáveis. Sobre ele o emblema da casa indicava, pela cor, a cilindrada do motor. Neste automóvel era preto. O comando no cabeçote era dotado de quatro válvulas por cilindro, o que surpreende quem imagina que este seja um recurso recente.

Uma bem-feita miniatura do 4.5 Litre mostra detalhes como as cintas de couro no capô, o acabamento interno e o compressor, instalado à frente do radiador

A potência máxima era de 175 cv a 3.500 rpm, expressiva para a época. Era alimentado por dois carburadores SU e tinha dupla ignição, com dois magnetos de alta tensão. Uma mecânica fina e eficaz. Para lubrificar o motor eram necessários 11 litros de óleo. A contragosto de W.O., podia ser equipado com um compressor Amherst Villiers do tipo Roots, que aparecia com clareza na frente imponente, pois ficava abaixo do radiador. Também faziam presença, ao lado deste, dois faróis circulares Lucas de dimensões generosas. A tração era traseira e o câmbio manual de quatro marchas não era sincronizado. Exigia pratica e habilidade. A velocidade máxima de 170 km/h fazia dele um dos carros mais rápidos da época.

O painel era completo: velocímetro graduado até 120 milhas, conta-giros até 4.000 rpm, amperímetro e marcadores de pressão do óleo e temperatura da água, mas não tinha indicador de nível de combustível. O tanque, posicionado atrás dos bancos traseiros, tinha capacidade para 113 litros, consumidos à razão de 3,5 km/l. Quando o motor começava a "ratear", abria-se uma pequena torneira para que a reserva entrasse em ação, como ainda acontece em motos. A posição dos pedais era pouco ortodoxa: o do acelerador ficava no meio, entre os de embreagem e freio. Exigia treino antes de pegar tráfego, estrada ou pista, sob risco de desagradáveis surpresas.

Esse modelo da Bentley não obteve mais que um segundo lugar em Le Mans, mas brilhou em outras pistas: na foto, o vencedor da 500 Milhas de Brooklands

O Bentley usava freios a tambor nas quatro rodas, acionados por cabos, e um volante de bom tamanho que não era leve. Dirigir esse carro necessitava certa experiência, e não só pelos pedais. Para colocar o motor em ação era necessário colocar a chave do primeiro magneto na posição ligada, depois a do segundo, então o dínamo, mais a bomba de gasolina e, por fim, apoiar o dedo num botão preto no meio do painel. Então o motor ganhava vida, emitindo um som forte e disposto. Além disso, a frente longa era de impor respeito. O pára-brisa retangular podia ser rebaixado e a capota de lona cobria todo o habitáculo, mas era comum dirigi-lo só com os bancos de trás cobertos, apesar do frio.

Seus concorrentes na época vinham de marcas renomadas como Bugatti, Isotta-Fraschini, Mercedes-Benz e Rolls-Royce. Este Bentley, porém, não fez bonito em Le Mans: os dois modelos que competiram em 1930 não terminaram a prova, embora um deles tenha batido o recorde de volta mais rápida. Em contrapartida, tirou o segundo lugar no Grande Prêmio da França no mesmo ano, nas mãos do milionário Henry Birkin, e ganhou a 500 Milhas de Brooklands em 1929. O 4.5 Litre teve 662 unidades fabricadas do primeiro modelo, seis da versão de corridas e 55 com motor dotado de compressor, encerrando-se em 1931. Com problemas financeiros, a Bentley Motors foi incorporada à Rolls-Royce nesse ano. Mas algumas unidades do belo 4,5-litros sobreviveram e participam de provas importantes de carros antigos em toda a Europa. Sempre que chega é muito festejado. Um marco na história da casa britânica.

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