A nova caixa de três marchas, com sobremarcha opcional, era outro atrativo técnico do projeto. Já os freios a tambor eram praxe na época. O chassi, com entreeixos de 2,89 metros, era inteiramente novo. E era mesmo sobre ele que se depositava a maior esperança da Ford no projeto da linha 1949: seu desenho. O modelo podia ser adquirido em dois níveis de acabamento, básico e Custom. As duas linhas eram disponíveis com carrocerias sedã, de duas e quatro portas, e Club Coupe. No acabamento básico ainda havia um cupê de três lugares. O conversível e a perua woodie (com decoração de madeira nas laterais, apesar da estrutura já em aço) de duas portas eram exclusividades do padrão Custom.

O Club Coupe era o mais interessante dos vários modelos de carroceria, com um teto mais curto e linhas harmoniosas

Exceto pela perua e o conversível com sua capota arriada, as carrocerias dos Ford 1949 formavam, a exemplo dos modelos da Studebaker e da Kaiser, três volumes bem definidos. Eles eram bem lisos na lateral, sem os pára-lamas dianteiros ressaltados do Mercury, ressalto este que os novos carros de GM e Chrysler tinham na traseira, como se fossem asas recolhidas. O pára-brisa ainda era dividido ao meio, item que o Nash daquele ano já dispensava. Mas a simplicidade arredondada de suas linhas indicava a direção que a concorrência seguiria nos próximos anos, antes que a escalada dos cromados e barbatanas atingisse um patamar de exagero.

O mais marcante aspecto do desenho do Ford 1949 estava na grade. Bem em seu centro havia um elemento que fazia alusão a uma turbina de avião, o que o Studebaker 1950 imitaria, levando a idéia um pouco além no chamado estilo "nariz-bala". Essa associação visual de tecnologia bélica, sobretudo da aeronáutica, viraria uma forte tendência nos carros americanos dos anos 50. Na traseira as lanternas ovais horizontais criavam um discreto — e único — ressalto nas laterais do carro, exceto na perua. No painel, um grande instrumento circular conferia uma elegante simplicidade e sensação de mais espaço.

O Crestliner Tudor, baseado no sedã de duas portas: duas cores na carroceria, pára-lamas traseiros que cobriam parte da roda, teto revestido em vinil

Talvez o mais belo Ford 1949 fosse o Club Coupe, com seu teto mais curto, suave e de visual mais esportivo. As janelas laterais traseiras tinham forma de leque, enquanto as do sedã de duas portas — o Tudor, corruptela de two-door ou duas-portas em inglês — eram mais alongadas, com colunas traseiras sobre os pára-lamas e frisos verticais que o deixavam parecido com o sedã de quatro portas. E foi do Tudor que a Ford criou o Crestliner Tudor para 1950. Com teto em vinil, duas cores de carroceria e saias nos pára-lamas traseiros, ele supria a falta de um cupê hardtop, mania em Detroit desde o Cadillac 62 Coupe de Ville 1949.

Com luzes de direção frontais alojadas em bases cromadas e o novo logotipo Ford sendo as novidades mais perceptíveis, o Ford 1950 foi eleito o Carro da Moda do ano pela New York Fashion Academy — bisando o reconhecimento conquistado no ano anterior. Embora o prêmio hoje seja desconhecido, ele mostra o impacto e o carisma do projeto do Ford 1949 na época. Problemas de qualidade de construção do ano anterior, que teve a produção acelerada para atender a enorme demanda, também foram corrigidos nos modelos 1950. Os padrões de acabamento agora eram DeLuxe e Custom.

Em 1951, último ano daquela geração, as novidades do cupê Custom Victoria, das duas "hélices" na frente e da opção de câmbio automático

A linha 1951 trouxe o primeiro cupê hardtop da Ford, o Custom Victoria. Com colunas traseiras em "V" e desenho creditado a Gordon Buehrig, ele foi responsável por 11% das vendas dos Fords daquele ano. A frente trocava a "hélice" central por duas e o ressalto das lanternas ficava cromado. O painel foi revisado, assim como o ornamento do capô e a divisão de cores do Custom Tudor. A perua passava a se chamar Country Squire. Kits de estepe externo faziam sucesso, assim como as customizações, febre surgida no pós-guerra. Tecnicamente, o destaque ficava com a opcional Ford-O-Matic, primeira caixa automática da marca.

Analistas questionam se a Ford teria chegado a seu cinqüentenário, em 1953, não fosse o modelo 1949. Enquanto o lucro da companhia em 1946 havia sido de meros dois mil dólares, graças a esse carro em 1950 foram 258 milhões de dólares no azul. Com ele se firmava a era de Henry Ford II, em que a empresa tornou-se mais flexível e rápida na renovação de seus produtos. O modelos 1952 já eram uma nova geração. O Ford 1949 ainda inspiraria os modelos ingleses Consul/Zephyr e o alemão Taunus. Mas seu maior feito foi levar a Ford à segunda metade do século 20. Passado o centenário da empresa, o brilho do Ford 1949 reluz ainda mais.

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