Em 9 de março de 1932 ficava pronto o primeiro exemplar do V8 da Ford, conhecido como Flathead (cabeçote plano) por ter válvulas laterais, dentro do "V" formado pelas bancadas de cilindros. O comando ficava acima do virabrequim, como nos motores modernos com comando no bloco. Também estavam no "V" os coletores de admissão, mas os gases de escapamento precisavam passar entre os cilindros para chegar ao respectivo coletor, o que transferia calor ao bloco e exigia refrigeração mais eficiente. O Ford 1932 vinha com câmbio de três marchas.

Sedãs, cupês, conversíveis: a ampla família Ford 1933, que contava com maior entreeixos

O desenho das carrocerias era herdado do Modelo A e, a exemplo de outros carros daquela época, não tinha uma identidade típica da marca. No cardápio de versões estavam o sedã Fordor (corruptela de four-door) e a perua de quatro portas, o sedã de duas portas Tudor (idem para two-door), o Victoria, o cupê e o picape, além dos modelos abertos Phaeton, Cabriolet e Roadster. O cupê, que podia ter cinco ou mais raramente três janelas (fora o pára-brisa), recebeu um apelido que duraria: Deuce. A única diferença externa entre os Modelos B e 18 era o logotipo "V8" na grade do segundo. As rodas raiadas de aço eram calçadas por pneus 5,25-18.

A recepção aos novos Fords foi calorosa. Consta até que Clyde Barrow, da dupla de assaltantes Bonnie & Clyde, escreveu uma carta elogiosa a Henry Ford sobre o V8 em que o considerava perfeito para fugir da polícia... Mas a marca ainda vendeu bem menos que a Chevrolet no primeiro ano. Além disso, alguns V8 iniciais apresentaram problemas como consumo exagerado de óleo e cabeçotes trincados. Ainda assim, a durabilidade da idéia de Ford seria seu maior mérito. Claro que constantes melhorias não ficariam de fora desse fenômeno de longevidade — e elas surgiriam já em 1933.

O modelo 1935 ganhava teto arredondado e portas convencionais, não mais do tipo "suicida" como as adotadas dois anos antes; o motor já desenvolvia 85 cv

A mudança mais relevante foi o alongamento do entreeixos, de 2,92 para 2,84 metros, mas ela não foi a única. A frente portava uma grade inclinada e o pára-choque abaixo dela era curvado no centro. Os pára-lamas estavam mais encorpados com saias e as portas tinham abertura para trás, ao estilo "suicida". Se o quatro-cilindros era praticamente o mesmo no Modelo 46 (apelidado de "Modelo C"), o V8 já recebia sua primeira evolução, com um sistema de ignição revisado. Isso rendeu 10 cv a mais ao Flathead, que chegava a 75 cv. Seu nome oficial agora era Modelo 40. Apesar da depressão econômica desde 1929, a Ford vendeu quase 60% mais em 1933 que no ano anterior.

Na linha 1934, fora detalhes de acabamento, o Ford V8 passava a ser identificado oficialmente como Série 40A, graças a uma nova revisão do motor. Com um carburador de corpo duplo e taxa de compressão de 6,3:1, passava a produzir 85 cv a 3.800 rpm. O motor de quatro cilindros seria fabricado só até março de 1934, pois desde o ano-modelo 1932 sua participação nas vendas gerais da Ford despencava. A empresa só voltaria a oferecer motores de quatro cilindros nos EUA com o Pinto nos anos 70. E essa opção não faria falta: em 1934 a Ford passava a Chevrolet em vendas.

O Deuce Coupe do filme "Loucuras de Verão" (American Graffiti, 1973) e a capa do
disco "Little Deuce Coupe" dos Beach Boys (1963): ícones entre os hot-rodders

Para 1935 a Ford lançava a Série 48, bem mais arredondada, sobretudo no teto dos modelos fechados. As portas eram abertas para a frente e a versão Victoria saía do catálogo. Nos Fords 1936 (Série 68) as rodas raiadas eram abolidas e a buzina vinha embutida. O Flathead original com bomba d'água à frente dos cabeçotes era modificado nos modelos 1937, de estilo streamline, isto é, fluido para melhor aerodinâmica. Mas sua concepção básica duraria sem grandes renovações até 1953.

A partir da Segunda Guerra Mundial, quando Detroit só fabricava veículos militares, os hot rods dariam novo brilho à imagem desses primeiros Fords V8, em especial na Califórnia. Por ser simples, o V8 da empresa oferecia muito mais potência, com poucas e acessíveis modificações, que um seis-em-linha com comando no cabeçote e cilindrada similar. Eram os primórdios de uma febre de personalização e preparação de carros. Mas o Ford 1932 teve uma importância maior: definiu o motor do típico carro americano, padronizado no pós-guerra como grande, macio e, graças ao Oldsmobile 1940, dotado de câmbio automático. Até a sagração de modelos menores com tração dianteira, nos anos 80, pouco mudaria nessa preciosa equação.

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade