Lambo em pele de cordeiro

A aparência discreta e elegante do Islero até podia enganar, mas
sob o capô — e na estrada — ele foi um autêntico Lamborghini

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: Lamborghini Registry e divulgação

Como os pioneiros 350 GT e 400 GT, o Islero era um cupê de 2+2 lugares e motor dianteiro, mas no formato de três volumes definidos

O mais espaçoso Espada, o Islero no centro e o ousado e curvilíneo Miura (à direita): a linha 1968 da Larborghini e seus diversos estilos

Ele herdou o que havia de mais primordial em termos de Lamborghini. Primordial no sentido de existente desde o início, desde o primórdio. Afinal, o Islero era a evolução natural do 400 GT, substituto do 350 GT — o primeiro carro de rua da marca italiana. Era o terceiro passo de uma rápida evolução iniciada em 1963. Introduzido em 1968, o Islero chegou ao mercado apenas dois anos depois do 400 GT e do aclamado Miura. Assim como o temperamento de seus carros, a Lamborghini seguia uma política rápida e ousada de lançamentos.

Seu nome era homenagem a um touro do rancho Miura, na Espanha, que matou o toureiro espanhol Manuel Rodriguez "Manolete" em 1947. Pela segunda vez, mas não pela última, a Lamborghini reverenciava esses animais bravos, até os que ceifaram vidas. Apesar do gosto questionável — Ferruccio Lamborghini, fundador da empresa, adorava touradas —, ao homenagear a força e a resistência da natureza a marca criava uma metáfora para o ímpeto de seus esportivos. E muitos devem concordar que os nomes eram, quase sempre, fortes e sonoros.

A estréia do Islero se deu no Salão de Genebra de 1968, ao lado do Espada (criação de Bertone) e do Miura S. Ele mantinha duas características do 400 GT, a carroceria em formato cupê e a disposição interna 2+2. A diferença é que, em vez do desenho fastback, tinha nítidos três volumes. O porte era quase o mesmo do seu antecessor, com frente longa, traseira curta e carroceria baixa. Já o desenho seguia um caminho distinto tanto dos traços heterodoxos dos 350 GT e 400 GT quanto do arredondado Miura. Os trabalhos de estilo ficaram a cargo da Lamborghini e da Carrozzeria Marazzi, pois a Touring havia  entrado em falência. Mario Marazzi, proprietário do estúdio que levava seu nome, era um colaborador da Touring, o que fez da escolha uma conseqüência natural.

Apesar de o Espada já ter influência da nova estética da marca, essa parceria fez do Islero o primeiro Lambo com predomínio de traços retos. Era a última palavra em desenho de carros na época, mas evoluiu ao longo dos anos de maneira radical e dura até hoje. Logo de cara já se notava a primeira maior diferença entre o Islero e o 400 GT. Enquanto este adotava faróis circulares duplos e expostos em um ressalto, o Islero usava os escamoteáveis, que deixavam a frente mais limpa. Abaixo deles havia uma lâmina fina para cumprir a função do pára-choque, sob a qual ficavam as luzes de direção e a generosa grade. No capô havia uma tomada de ar central.

Eram 4,52 metros de comprimento, 2,65 m entre os eixos, 1,73 m de largura e 1,30 m de altura. As laterais não tinham qualquer ressalto, limitando-se a uma dobra logo acima da maçaneta. A abertura dos pára-lamas dianteiros formava um arco em torno das rodas Campagnolo de magnésio, iguais às do Miura. A dos traseiros era achatada na parte superior, combinando com a retidão do conjunto. Fora a sutil curvatura do pára-brisa, o teto tinha traços retos. O bocal do tanque ficava na base da coluna traseira direita e as colunas eram finas. Continua

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Data de publicação: 23/9/08

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