
O pequeno Tipo 13, com motor de
1,3 litro e apenas 20 cv, já trazia a grade em forma de ferradura que
caracterizaria os futuros Bugattis

O estilo "charuto" fica evidente
no Tipo 29 de corridas, que deu origem ao 30, o primeiro modelo de rua
da marca com oito cilindros em linha


No GP de Lyon de 1924 estreava o
Tipo 35, com carroceria de alumínio, dois lugares e motor de 3,0 litros
que o levava à máxima de 170 km/h |
O
nome Bugatti ganhou projeção mundial desde que o Grupo Volkswagen
anunciou — e concretizou — a produção do carro de série mais veloz do
mundo, o EB 16/4 Veyron, que
supera 400 km/h com seu motor de 1.001 cv. Mas, se falássemos o nome
Bugatti no Brasil décadas atrás, só os aficionados por modelos antigos,
que conhecessem a marca de prestigio francesa do começo do século
passado, saberiam que se tratava de um fabricante de automóveis de
excelência.
Ettore Bugatti nasceu na Itália em 15 de setembro de 1881. Já na
adolescência se mostrava muito interessado em mecânica e, aos 17 anos,
fez seu primeiro estágio em uma oficina que fabricava triciclos
motorizados. Nesta época, em 1898, participou de sua primeira corrida,
mas hesitava em ser piloto ou construtor. Seu primeiro carro foi um
quadriciclo com dois motores adaptados da marca Prinetti-Stucchi, onde
ele estagiava. Com ele, ganhou uma corrida entre as cidades de Pádua e
Bassano, perto de Veneza, na costa do Mar Adriático.
Em 1900 se associou ao Conde Gian Oberto Gulinelli e construiu seu
primeiro carro. Tinha motor de quatro cilindros em linha e 3.054 cm³,
câmbio de quatro marchas e transmissão por corrente. Comportava dois
passageiros, pesava apenas 600 kg e chegava aos 65 km/h. Pouco tempo
depois, por causa deste automóvel, Ettore se uniu ao Barão de Dietrich e
começaram a fabricar carros em Niederbronn, na Alsácia, que na época
pertencia à Alemanha. Mas ele logo se desentendeu com Dietrich e se
associou a Èmile Mathis, na cidade de Estrasburgo.
Juntos, construíram uma dúzia de carros — pouco depois Ettore estava só
outra vez em seus projetos. De rara inteligência e muita ambição,
apresentou para a Deutz em Colônia, na Alemanha, outro protótipo. O
motor tinha quatro cilindros em linha e
comando de válvulas no cabeçote. Denominado Tipo 8, entrou em
produção com a marca Deutz e logo evoluiu para o Tipo 9. Em 1909 Bugatti
conhecia Louis Blériot, famoso aviador que rodava com um Deutz Tipo 10.
Convenceu-o a fabricar seus próprios carros e no mesmo ano, após
conseguir um financiamento, a pequena cidade de Molsheim, 30 quilômetros
ao sul de Estrasburgo, mudaria para sempre. Ali se instalaria uma das
mais famosas marcas da primeira metade do século.
Um de seus primeiros sucessos, lançado em 1913, foi o Tipo 13, um carro
muito pequeno, já com o radiador em forma de ferradura que se tornaria
sua identidade, desenhado por seu irmão Carlo Bugatti. O motor de quatro
cilindros em linha tinha 1.327 cm³ e potência de 20 cv a 3.800 rpm, para
velocidade final de 90 km/h. O principal concorrente era o
Bébé da Peugeot, desenhado pelo mesmo Ettore. Com
um motor robusto, os sucessos do Tipo 13 nas pistas foram muitos. Em uma
corrida de estrada que no futuro daria origem a uma das provas mais
famosas do mundo — a 24 Horas de Le Mans —, chegou em segundo lugar
geral atrás de um Fiat com potência bem maior. Mostrou eficiência,
robustez, velocidade e agilidade.
Nessa época os Bugatti já eram chamados de puros-sangues por conta de
seu desempenho. Mas o construtor queria um motor maior e um carro digno
para ele. Em 1921 foi construído um verdadeiro motor com oito cilindros
em linha — um “pseudo” já havia sido usado no Tipo 13 em 1912, quando
dois motores de quatro cilindros foram acoplados. O novo propulsor tinha
2.991 cm³, três válvulas por cilindro e dois carburadores feitos pela
própria empresa. Foi montado no Tipo 28, que não foi bem-sucedido. Então
teve a cilindrada reduzida a 1.991 cm³ e foi aplicado ao Tipo 29, carro
com formas aerodinâmicas que imitavam um charuto, destinado a
competições.
Dele nascia o Tipo 30, “civilizado” para ser vendido aos que tinham
contas bancárias polpudas. Era o primeiro Bugatti com oito cilindros em
linha à venda ao público. Tinha freios com acionamento hidráulico na
frente, mas os traseiros eram acionados por cabos, recurso ultrapassado.
Bugatti era criticado pelos freios de seus carros, mas respondia
simplesmente que um Bugatti era feito para correr, não para frear...
Continua
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