Nova nacionalidade: a Valmet fez por dois anos o Samara na Finlândia

O picape feito pelos russos, com cobertura de furgão, e o conversível

Em tentativa de modernizá-lo, a Lada deixava a frente mais arredondada

Samaras de rali: EVA (em cima), com 300 cv, e T3 com motor Porsche

A primeira variação desse Lada aparecia em 1987: o modelo de cinco portas, com motores 1,1 e 1,3. A unidade 1,5 só viria a equipá-lo três anos mais tarde, ao mesmo tempo em que surgia o modelo de três volumes e quatro portas Samara Forma, com linhas um tanto conservadoras. O sedã foi dotado apenas do motor 1,3 e do 1,5, pois o 1,1 era retirado do catálogo nesse ano. Outras novidades em 1990 eram o picape Chelnok, baseado no hatch e voltado ao mercado interno, e uma reforma na parte dianteira, em que o capô avançava ligeiramente sobre a grade e já não havia a divisão nos paralamas dianteiros pouco atrás dos faróis. Uma evolução técnica — injeção eletrônica multiponto no motor 1,5 — acontecia em 1993, com vistas a normas de emissões poluentes mais rigorosas nos principais mercados.

Dois anos depois era lançada a versão a diesel, com motor Peugeot de 1,5 litro e 57 cv, destinada apenas a exportação. Em 1996 o Samara ganhava uma segunda nacionalidade: finlandesa. A Valmet, que produzia carros como Opel Calibra e Saab 900 (e hoje faz os Porsches Boxster e Cayman), passava a fabricar o modelo russo com pequenas mudanças visuais e o nome Euro-Samara ou Samara Baltic, conforme o mercado onde fosse vendido. Com motor 1,5 dotado de injeção General Motors, ganhava melhorias como barras internas de proteção nas portas, interior redesenhado e bem mais atraente e opção de bolsa inflável. Apesar dessas vantagens e da qualidade de soldas e pintura claramente superior, o Lada finlandês não atingiu as metas de vendas (a má imagem do original ainda era marcante) e foi feito por apenas dois anos.

Na versão russa, uma re-estilização mais ampla da parte dianteira e retoques na traseira vinham em 1997, o chamado Samara 2. Embora as formas mais arredondadas dessem um sopro de modernização, ficava claro o desacordo com a seção central de linhas retas. O primeiro a passar pelas mudanças foi o sedã, seguido em 2001 pelo cinco-portas e um ano depois pelo três-portas. Foram usados o motor 1,5 e um inédito 1,6 a gasolina nesses modelos, cuja produção se encerrou em 2004, após 20 anos do lançamento do primeiro.

No mercado brasileiro o Samara esteve de 1990 a 1995, em versões de três e cinco portas e com os motores 1,3 e 1,5 a carburador. A exemplo do Laika e do Niva, atraiu compradores pelo baixo preço (a versão mais cara, com valor competitivo ao de modelos nacionais menos equipados, custava 25% menos que o mais simples Peugeot 205 e 30% menos que o Hyundai Excel), ao qual associava bom espaço interno e desempenho adequado. Mas não convenceu pela qualidade de construção e teve problemas de "tropicalização": o importador não os adaptava à gasolina com álcool vendida aqui, o que trouxe problemas crônicos de mau funcionamento.

O Samara pode ter sido para o público apenas um despretensioso carro de baixo custo, mas contou com interessantes variações para propósitos especiais. Para uso policial foi instalado um motor rotativo Wankel com dois rotores de 654 cm³ e 140 cv, que lhe dava alto desempenho. A Lada trabalhava desde 1974 em uma versão russa do Wankel, aplicado pela primeira vez em 1980 a um Laika com 70 cv. No Samara, o rotativo resultava em velocidade máxima de 200 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h ao redor de oito segundos, mas o consumo de combustível era o dobro do modelo comum, o motor não apresentava longa vida útil (o que se atribui à qualidade dos materiais disponíveis) e sua manutenção era complexa, razões para que não tenha sido oferecido ao público.

O Wankel foi, por outro lado, aplicado ao Lada Rotor-Sport, versão de competição para a categoria Super-Tourism russa. Com três rotores, 190 cv e câmbio de seis marchas, fazia de 0 a 100 em 6 s e chegava a 240 km/h. E, assim como o Laika, o Samara teve versões desenvolvidas para ralis. Uma delas, o EVA, trazia motor central-traseiro de 1,9 litro e 16 válvulas, com turbo e 300 cv, e tração traseira. Foi feito pela VFTS, empresa que construía carros de corrida em Vilnus, na Lituânia.

O EVA contava com carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro bem mais larga que a da versão de rua, dois altos aerofólios na traseira, rodas e pneus largos e faróis auxiliares integrados à frente. Houve uma versão, a S-Proto, com tração integral e 350 cv. A ideia era participar do lendário Grupo B, classe de rali que teve supercarros com até 600 cv e foi extinta após graves acidentes. Contudo, a Lada não cumpriu a exigência do regulamento de que 200 unidades fossem construídas, o que impediu sua homologação.

Ainda mais potente foi o Samara T3, preparado pela Poch, uma concessionária Lada francesa, para competir no severo rali Paris-Dacar. O motor Porsche de seis cilindros opostos e 3,6 litros podia chegar a 400 cv, enviados às quatro rodas por um sistema de tração integral cedido pelo Porsche 959, e a carroceria era de material composto, muito leve. Esse super-Samara foi 7º colocado no Dacar de 1990, com Jacky Ickx ao volante, e 5º no de 1991 com Didier Auriol, além de conquistar 2º, 3º e 4º lugares no Rali da Tunísia de 1990. Um dos T3 está no museu da AutoVAZ para contar a história do modelo pelo ponto mais alto.

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