

A primeira versão do Publica em
1961: linhas e acabamento simples, motor boxer de dois cilindros e 700
cm3 arrefecido a ar, tração traseira


Perua, picape leve, conversível:
em três anos a família Publica estava formada -- e estava por chegar o
Sport 800, cupê com base nessa linha |
Dez
anos após toda a destruição trazida pela Segunda Guerra Mundial, o Japão
continuava em seu esforço para se levantar e se tornar uma potência no
globo. Em 1955, o Ministério da Indústria e do Comércio Internacional (Miti)
anunciava o programa do "carro nacional", que incentivava os fabricantes
a desenvolver e produzir no país automóveis baratos e econômicos, ideais
para aquele período. Entre os parâmetros estipulados estavam quatro
lugares, peso abaixo de 400 kg, cilindrada de até 500 cm³, velocidade
máxima superior a 100 km/h, consumo melhor que 30 km/l quando rodasse a
60 km/h e robustez suficiente para rodar 100.000 quilômetros sem maiores
intervenções mecânicas.
Fundada oficialmente em 1937, a Toyota não poderia ficar de fora do
empenho nipônico em abandonar os projetos estrangeiros produzidos sob
licença (como o Renault 4CV feito pela Hino de
1953 em diante) para criar um carro verdadeiramente nacional. Contudo, a
empresa percebeu que o mercado daria boa aceitação a um modelo pouco
maior e mais potente do que pretendia o governo, mesmo que isso o
deixasse de fora dos benefícios fiscais. Assim, a cilindrada passou de
500 para 700 cm³ de forma a obter melhor desempenho em estradas — e,
para sorte da empresa, o incentivo anunciado para motores até 500 não se
concretizou. Outra mudança de planos foi na tração dianteira prevista no
início. Como exigiria testes mais extensos do que o tempo (dois anos da
aprovação do projeto à conclusão) permitia, preferiu-se manter a tração
traseira já tradicional na marca.
Lançado em junho de 1961, o carro nacional da Toyota era designado
internamente como UP10. O nome para o mercado, Publica — forma reduzida
de "public car", ou carro popular em inglês —, foi escolhido após um
concurso de sugestões e votação. As vendas caberiam a uma rede de
concessionárias própria com o mesmo nome, em vez das já conhecidas
Toyota e Toyopet. O sedã de três volumes, duas portas e quatro lugares
era bastante simples em sua aparência, caso dos para-choques diminutos e
da quase total ausência de detalhes cromados. Linhas arredondadas,
vidros laterais planos, faróis em destaque em relação ao capô e
discretas aletas nos para-lamas traseiros refletiam os padrões de estilo
da década de 1950, deixando-o algo defasado já no lançamento.
No interior, com bancos dianteiros individuais quase unidos, a
acomodação era a mínima aceitável para quatro adultos. Aquecimento e
rádio, considerados luxos, não estavam disponíveis — nem retrovisor
externo existia! Dotado de estrutura
monobloco, o carro media 3,50 metros de comprimento, 1,41 m de
largura, 1,38 m de altura e 2,13 m de distância entre eixos. O motor da
série U, também desenvolvido pela própria Toyota, tinha dois cilindros
opostos e arrefecimento a ar — mesma
fórmula simples, barata e resistente do
Citroën 2CV, mas que a
Toyota nunca empregou em outro modelo. Trazia o
comando de válvulas no bloco,
câmaras de combustão hemisféricas e
tuchos hidráulicos que dispensavam ajuste de folga de válvulas, pela
primeira vez em um motor japonês.
Com 697 cm³, a unidade fornecia potência de 28 cv e torque de 5,4 m.kgf,
que se traduziam em velocidade máxima de 110 km/h e razoável agilidade
no trânsito para o modelo de 580 kg — baixo peso obtido pelo uso de
ligas leves e materiais plásticos em percentual bem acima do que era
comum na época. O câmbio manual tinha quatro marchas e alavanca no
assoalho. Nas suspensões, os conceitos então usuais: dianteira
independente por braços sobrepostos, traseira de eixo rígido com feixes
de molas semi-elíticas. Inesperado era o uso de barras de torção na
frente, em posição que apontava a intenção de usar tração dianteira,
pois havia espaço para a passagem de semi-árvores de transmissão. Os
pneus diagonais tinham a medida 6,00-12
e o tanque comportava meros 25 litros.
Continua
|