Embora a atual geração da
linha A6 já tenha seis anos, o S6 conquista pelo equilíbrio de linhas,
acentuado pela decoração da versão esportiva
O motor V10 "domesticado" do
Lamborghini Gallardo oferece torque de 55 m.kgf; dentro das rodas de 19
pol, discos de freio que impressionam |
Um carro longo, preto, elegante. Quatro portas, amplo porta-malas e
todos os itens de conforto, conveniência e segurança que a mais recente
tecnologia pode oferecer. Tudo isso custa caro — nada menos que R$ 399
mil —, mas não são o luxo, o requinte e a exclusividade do Audi S6 as
partes mais cativante de sua personalidade. O que há de mais especial
está escondido sob o capô: o motor V10 de 5,2 litros.
Nascido na Itália, na pequena cidade de Sant’Agata Bolognese, na Emília
Romanha — tida como a região mais fanática por tudo que é movido a motor
no país —, tal V10 foi originalmente concebido para equipar o
Lamborghini Gallardo, mas há algum tempo "emigrou" para a Alemanha. E
lá, em Ingolstadt, a Audi, dona da Lamborghini, fez questão que o bruto
V10 frequentasse um curso intensivo de boas maneiras para se adequar a
modos e usos de quem compra um sedã de quase cinco metros de
comprimento. Imagine a tarefa hercúlea que é domesticar um ser selvagem
para frequentar os melhores "salões" da nobreza endinheirada.
Mas alemães são um povo conhecido pela tenacidade, além da indiscutível
capacidade técnica, e assim o V10 de
aspiração natural, que no Gallardo chega a ter até 570 cv, desceu
bons degraus em termos de potência para entrar no cofre do S6. Agora são
435 cv muito bem lapidados, quase tanto quanto na geração anterior do
RS6 (450 cv), versão que representa o
topo da linha A6 e que hoje tem 580 cv. Já o portentoso torque de 55
m.kgf se manteve e ganhou distribuição muito melhor pelo arco de
rotações úteis, com o ponto máximo constante entre 3.000 e 4.000 rpm.
Contribuem para isso as variações do coletor
de admissão e do tempo de válvulas
(de forma contínua) tanto de admissão quanto de escapamento.
Vamos direto ao ponto: dirigir o S6 é uma experiência impressionante. E,
em certos aspectos, até mais do que guiar o
Audi R8 V10, que usa o mesmo
motor, só que com 90 cv a mais (e em um carro com 300 kg a menos). Como
assim? Assim: no R8 V10 estamos num superesportivo, onde o posto de
condução pequeno, a pouca altura do solo e as dimensões contidas armam o
clima óbvio de um carro poderoso. Afundar o pé e sentir os largos pneus
mordendo o solo e arremessando o carro à frente, costas coladas ao
banco, é o roteiro manjado, sem novidade.
Já sentir coisa parecida num sedã para levar toda a família muito bem
acomodada e notar que a competência, no frigir dos ovos, é equivalente,
impressiona mais. E outro detalhe importante é o fato de termos guiado o
S6 no mundo real, em vias públicas, e não em pista, conferindo durante
mais de uma centena de quilômetros de estrada como reage um "monstro"
elegante, bem educado, mas que sabe ser terrível quando cutucado.
A tração integral permanente Quattro em condições normais distribui a
potência em 40% para as rodas dianteiras e 60% para as traseiras, mas a
repartição varia conforme a aderência de cada eixo. A ela está associada
uma caixa de câmbio automática de seis marchas, que impressiona por
dissimular as passagens de marcha de maneira impecável. Não se trata do
câmbio CVT presente no A4, batizado pela
Audi de Multitronic, e tampouco o manual
automatizado S-Tronic com duas
embreagens presente no A3.
No S6 o câmbio automático tradicional — com opção de troca manual na
alavanca do console ou nas pequenas aletas do volante — só faz o
motorista perceber a passagem das marchas de duas maneiras: visualmente,
olhando para o ponteiro do conta-giros, ou da maneira mais divertida,
"socando o pé" e deixando os ouvidos se maravilharem com o urro de 435
cv. Como todo carro de faceta marcantemente esportiva, o S6 alterna seu
lado suave e silencioso de quando levado com um fiozinho de acelerador a
uma estupenda ignorância.
Quando as comportas se abrem e a mistura ar-combustível chega às 10
câmaras de combustão via sistema de injeção
direta FSI (Fuel Stratified Injection, referência à mistura
estratificada, ou composta de diversas camadas), os quatro escapamentos
comunicam com "voz" gutural que o motor está a pleno. De acordo com a
fábrica, a aceleração de 0 a 100 km/h requer apenas 5,2 segundos, apesar
do robusto peso de 1.910 kg, e a velocidade máxima é de 250 km/h, quando
atua o limitador eletrônico.
Continua |