Cobalt, Cronos, City, Yaris e Virtus mostram as diversas soluções para o desenho de um sedã compacto
Texto: Danillo Almeida – Fotos: divulgação
O mercado brasileiro viu a formação de um segmento superior entre os compactos no começo dos anos 2000. Na época a Volkswagen trouxe o Polo de quarta geração, visando substituir o Gol e elevar o padrão da linha brasileira. O problema foi que tudo isso teria um preço: como a construção mais refinada tornava o novato caro para quem costumava comprar o Gol, a mudança não aconteceu. O que se viu, na verdade, foi o Polo acomodar-se logo acima no que viraria um nicho de mercado, fortalecido pelo segundo Chevrolet Corsa e, mais tarde, por Citroën C3 e Fiat Punto. Esses hatches firmaram-se acima dos outros compactos e abaixo dos médios, como Chevrolet Astra e Ford Focus.
Os carros pequenos que formaram uma espécie de segmento premium, no Brasil, são populares nos países de origem. Mesmo assim, caíram como uma luva nas mãos de quem buscava algo mais elaborado sem chegar a comprar um médio. Ao longo dos últimos anos, esse segmento se estendeu à carroceria sedã e alcançou vendas estáveis. Hoje ele se encontra aquecido por causa dos modelos de Fiat, Honda, Toyota e Volkswagen — esta, mais uma vez, com o Polo.
Escolhemos os quatro sedãs desses fabricantes — Fiat Cronos, Honda City, Toyota Yaris e Volkswagen Virtus —, mais o Chevrolet Cobalt, para nossa primeira análise de estilo comparativa. Entre eles há modelos desenvolvidos sozinhos e outros criados a partir de hatches, de modo que é grande a diversidade de soluções de estilo. O Ford Fiesta Sedan, que seria outra presença relevante anos atrás, é mencionado à parte.
Nesta análise conjunta, não é intenção do Best Cars apontar vencedores — ou perdedores. Beleza é sempre um assunto subjetivo; portanto, um mesmo carro pode parecer lindo para uns e feio para outros. A escolha de soluções de estilo, contudo, pode ser avaliada de maneira objetiva porque lida com conceitos como a harmonia de linhas e volumes, o equilíbrio de elementos visuais ao longo da carroceria e da cabine e a eficácia das soluções que corroboram as características que o fabricante desejava oferecer.
Estilo dianteiro é marcado por contrastes: City é o mais diferenciado do hatch (Fit), Cobalt se inspira nos grandes sedãs dos EUA, Virtus é austero e sóbrio, Yaris é fluido a ponto de ser incomum e Cronos mostra equilíbrio na aplicação de tendências
O City deriva de um hatch com formato quase de monovolume, o Fit. Isso se expressa em sua dianteira curta e com grande inclinação do capô. Já o Cobalt foi projetado sozinho e precisava manter distância do Prisma, derivado do Onix: explica-se a frente mais horizontal, que faz a carroceria parecer mais comprida. Quanto a Cronos, Virtus e Yaris, o “parentesco” com hatches levemente esportivos levou os fabricantes a usar capôs mais longos e um pouco mais horizontais. Essa solução atrai o olhar para o compartimento do motor, o qual evoca a ideia de desempenho.
Todos os faróis seguem as tendências atuais. A maior diferença é como suas formas se estendem rumo às laterais da carroceria. Os do Yaris são afilados e elevados. O desenho do Cronos traz proporção mais convencional entre o tamanho das luzes e das entradas de ar. Esses desenhos, que sugerem influência da passagem do ar, são muito usados para sugerir esportividade. Nos demais, observa-se o contrário: faróis menores e contornos mais suaves passam imagem de solidez e austeridade. Isso é interessante para o Cobalt, porque o opõe a Prisma e Cruze, e para o Virtus, porque segue a “cartilha” alemã. No City o formato da dianteira torna os faróis baixos e curtos.
Como Fiat e Toyota não têm identidade de estilo única, as entradas de ar de Cronos e Yaris só remetem aos hatches da linha. O Cobalt destaca a superior a ponto de dividi-la em duas, enquanto a menor é a do Yaris, porque a principal é a inferior. O contorno tem acabamento preto no Cronos, na cor da carroceria no Virtus e cromado nos demais. City, Cobalt e Yaris estão no redesenho de meia-vida; o desenho da entrada de ar é harmônico em todos porque mudou pouco no City, cujo redesenho foi sutil, e muito nos demais, porque tiveram a dianteira refeita. A Fiat aproveitou apenas os faróis do Argo. Já o Virtus repete as peças do Polo nacional.
City e Cobalt têm a entrada de ar superior destacada, então é natural que a inferior assuma papel secundário no estilo. No Yaris é o contrário: a entrada inferior domina a dianteira. Seu formato trapezoidal ajuda os faróis a tornar o estilo fluido, enquanto os outros dois têm aparência robusta e assentada. A entrada do Cronos é larga, mas fina nos extremos: fica destacada e evita a sensação de excesso. Já a do Virtus tem estilo influenciado por modelos como o Arteon. A profusão de linhas horizontais e verticais polui seu visual.
O primeiro destaque vai para o Virtus por fugir das luzes circulares. O segundo vai para os suportes das luzes do Yaris, com formato de bumerangue. Em terceiro lugar, as soluções de Cronos e Virtus: faróis de neblina em posição elevada dão aparência nova e agradável. City e Cobalt adotaram soluções conservadoras. Os do Toyota tornam seu estilo tridimensional, em que dianteira e laterais têm ligação forte. Cronos e Virtus obtêm aparência inovadora e “saltada”, que chama atenção. Os de Honda e Chevrolet seriam esportivos há 10 anos, mas hoje não passam de triviais.
Nas laterais, o Honda se destaca pelas linhas fortes e esculpidas e o Toyota pelo contrário; o Fiat pelas sugestões de esportividade e o VW pelo contrário; os quatro pelas variadas tentativas de parecer sofisticados e o Chevrolet, infelizmente, pelo contrário
A lateral da dianteira é um indicador da proposta do carro. A cunha acentuada de City e Yaris sugere esportividade e fluidez, ao passo que as formas horizontais de Cobalt e Virtus passam sensação mais conservadora e imponente; o primeiro se inspira nos sedãs norte-americanos. Já o balanço longo de Cobalt e Yaris cria uma imagem assentada ao piso, a qual pode se confundir com pesada quando mal executada. O Cronos é moderado na inclinação da dianteira e no comprimento do capô e usa vincos para parecer esportivo. De lado, a dianteira do City é equilibrada pela traseira também curta. Já o Yaris, suave e arredondado, lembra o Corolla de duas gerações atrás.
Vincos permitem diferenciar os carros com facilidade. Em City e Yaris, começam na porta dianteira e vão à traseira subindo. O Cobalt usa dois vincos fortes e horizontais na parte superior, cada um sobre uma roda. Cronos e Virtus têm vincos longos com uma ascensão sutil — o do Cronos é único e divide a carroceria usando luz e sombra, enquanto o do Virtus é duplo e fino. City e Yaris passam a ideia de movimento, mas o Yaris peca pelas maçanetas “soltas” em relação aos vincos, em posição quase aleatória. Compare com as do Cronos, também prateadas, mas alinhadas ao vinco. O Cobalt repete essa falha, mas em menor intensidade.
Janelas são um ponto interessante no estilo de sedãs. Virtus, Yaris e City as usam com molduras finas. Isso requer processos de montagem mais sofisticados, mas traz melhor resultado visual. À exceção do Cobalt, todos trazem a peça triangular de acabamento à frente da porta dianteira: ela causa a impressão de área envidraçada além do limite das portas, de modo que parece maior e mais harmônica. O Chevrolet não só a dispensa como usa janelas de perfil baixo — o visual fica pobre, mais do que imponente, e torna a cabine claustrofóbica.
Na parte traseira, o Virtus usa vigias porque sua coluna é larga demais para ficar vazia. City e Yaris contornam isso com outra peça plástica, a qual custa menos. Cobalt e Cronos não usam nada, mas só o primeiro tem colunas estreitas. Colunas sem janelas dissimulam o comprimento da cabine e colunas largas passam sensação de robustez. A Fiat quis usar ambos os recursos para tornar o Cronos mais esportivo, mas sua coluna está no limite de largura para que isso tenha resultado agradável.
City e Yaris apostaram em uma transição suave: a linha do teto desce de forma contínua e sem dividir atenção com outros elementos. No City, isso é feito com menor comprimento em relação ao restante da carroceria e tampa mais alta, que chega a lembrar sedãs dos anos 90. Tudo isso o faz parecer mais compacto. No Yaris a transição ocupa mais espaço e deixa a tampa pouco abaixo das janelas. O carro parece mais comprido e um tanto volumoso, ainda mais por ter uma carroceria de relevo suave. Cobalt e Cronos usam volumes separados, com vincos horizontais para ressaltar a tampa do porta-malas. Só que o Chevrolet abusa disso almejando ar conservador, típico de sedãs maiores, enquanto o Fiat é moderado para não quebrar a aparência ágil. O Virtus destoa pelo caimento de teto mais suave de todos.
Vincos: City, Cronos e Virtus os usam para criar um forte jogo de luz e sombra, que quebra o excesso de área vazia sem precisar de frisos. O Yaris segue o caminho oposto — é arredondado e liso — e o Cobalt usa um par de vincos horizontais que vão da dianteira à traseira, para o ar de “carro grande”. As traseiras são claramente curtas e altas. No Virtus e no Yaris, menos: o VW para se inspirar em cupês e o Toyota pelo relevo que faz sua traseira parecer baixa. O problema do Virtus está nas proporções: o entre-eixos foi aumentado em relação ao do Polo e o balanço é grande, o que torna sua traseira mais comprida do que deveria ser.
Traseira bem-resolvida em todos: escola oriental com presença forte em City e Yaris, com elementos do presente e do passado; soluções atuais em Cronos e Virtus, reflexo dos projetos mais novos; bom esforço em fazer o Cobalt parecer diferente sem mexer muito
Essa quina bem marcada aparece em todos porque confere dinamismo ao estilo e ajuda na aerodinâmica. Em quatro deles, a faixa espessa sugere um defletor. Em City, Virtus e Yaris esses vincos abrangem toda a largura do carro e têm formato parecido. O vinco do Cobalt, por sua vez, está restrito à tampa do porta-malas: foi criado no redesenho de meia-vida como mudança de custo baixo. Já a quina do Cronos é a mais discreta. Como seu estilo traseiro é carregado na parte central, ressaltá-la causaria poluição visual e roubaria espaço do emblema.
Lanternas horizontais têm aplicação cara porque é preciso dividi-las entre carroceria e tampa do porta-malas. No entanto, combinam tão bem com um sedã que estão virando regra. O Cobalt as ganhou no redesenho: o formato original, vertical, foi mantido só na região onde invade a carroceria, porque seria mais cara de mudar; a parte que invade o para-choque foi trocada por uma extensão na tampa. Não é a solução mais elegante, mas causou grande mudança.
O Cronos adota lanternas esguias como manda a tendência italiana. As de Virtus e Yaris, mais chamativas, usam contornos retos no primeiro e arredondados no segundo para combinar com suas propostas de estilo. As do City, em vez de serem o destaque da traseira, adaptam-se ao estilo do resto. A porção branca foi delineada de modo a continuar o filete cromado que une as lanternas.
O suporte da placa atua como coringa. No Cobalt ele está no para-choque para baratear a produção da tampa. City e Yaris o têm na tampa e em baixo relevo para integrá-lo às peças vizinhas, mas isso causa sobrecarga visual. Cronos e Virtus, por fim, usam as placas na tampa e distribuem bem os elementos.
As soluções de Honda e Toyota são boas, mas criam desequilíbrio ao ter o suporte muito próximo da linha de base da tampa — rebaixar esta última evitaria o problema e facilitaria o uso do porta-malas, mas existe a questão de rigidez estrutural. No Chevrolet reestilizado o suporte da placa ficou perdido, sem ser seguido por nada, e a tampa ganhou vincos que a fazem parecer vinda de outro modelo. Há ainda um vinco logo abaixo de cada lanterna que dissimula muito mal a “cirurgia” comentada no item 2.
Cobalt, Cronos e Virtus usaram a solução genérica de conectar laterais e traseira com vincos. O Cronos usa só um, porque tem uma parte grande em plástico preto logo abaixo. Os dois vincos fortes do Virtus reforçam seu caráter sóbrio, mas tornam a aparência pesada. Como os vincos do Cobalt são mais leves e altos, ele não deveria ter problemas, mas a Chevrolet queria fazer o modelo reestilizado parecer o mais diferente possível.
Em City e Yaris, a região tem um vinco muito leve. No primeiro isso é bom: há muitos elementos de estilo logo acima e a parte debaixo tem desenho forte, incluindo falsas saídas de ar e um vinco espesso. No segundo, essa suavidade repete o que se vê em toda a carroceria, mas isso nem sempre é bom: conforme o ângulo e a iluminação, não se vê relevo nessa região do Yaris. Isso lhe dá um aspecto pobre.
Diversidade também na seção inferior do para-choque. City e Cronos a destacam bastante, um com vincos e outro com a diferença de material e cor, ao passo que Virtus e Yaris apostam em elementos horizontais. Ela assume um visual discreto no Cobalt, por ser o único a usar a placa ali: evita poluição visual. City e Cronos combinam plástico preto, refletores, vincos e até falsas saídas de ar; o primeiro chama atenção pelo jogo de luz de sombra e o segundo pelo contraste de cores. No Virtus, a linha cromada tem ressaltos baixos e largos demais para sugerir saídas de escapamento, então este elemento acaba parecendo perdido. O Yaris causa sensação parecida: falta conexão visual com as laterais.
Painéis de conservador a arrojado, de objetivo a carregado, de monocromático a colorido; consoles de antiquado a moderno, de estreito a largo e até de vertical a quase horizontal
A indústria tem preferido volantes de três raios e detalhes em preto brilhante ou prata fosco, com raio inferior maciço ou vazado. É comum que o fabricante use o mesmo volante em vários modelos, embora seja a peça que o motorista mais vê e toca. Cobalt, Virtus e Yaris desagradam por causa disso — será que essa economia compensa o prejuízo à imagem? City e Cronos, por sua vez, compartilham seus volantes somente com os irmãos de projeto.
A tela da central de áudio costuma ocupar três posições e aqui temos todas. A tradicional é a de City e Cobalt, abaixo dos difusores de ar, como nos rádios antigos: traz sensação de familiaridade, mas limita o tamanho da tela. Em Virtus e Yaris ela fica no topo do console. Pode ser vista baixando menos o olhar, mas obriga o console central a ser largo e alto na parte superior. Aqui, o Cronos é a exceção. Isolar a tela acima do console permite usar vários tamanhos e permite manter o resto do painel baixo, o que favorece a visibilidade. Por outro lado, um elemento saltado pode quebrar a harmonia.
A discussão do console central se aprofunda aqui. O mais convencional é o do Yaris, estreito e alto, com componentes discretos que remetem aos anos 90. O do City é mais largo e tem formas internas horizontais, de modo que perde a aparência de coluna; no Cobalt ele é protuberante e baixo, o que faz os lados do painel parecerem mais recuados e dá sensação de espaço.
Cronos e Virtus fazem valer a modernidade dos projetos. Painéis com formas horizontais evitam a sensação de que a cabine é dividida ao meio, de modo que ela parece mais espaçosa. O perfil baixo implica “espalhar” os componentes no console, o qual os deixa mais próximos das mãos. A Fiat usou formas arredondadas e uma faixa horizontal cinza ou bordô, dependendo da versão. Já a Volkswagen permaneceu fiel às formas retas, criticadas por muitos pela simplicidade, e usou o branco como opção contrastante.
Como o painel fica vazio no lado do passageiro, preenchê-lo de maneira que combine com o restante é um desafio. O Cobalt recorre a uma simples superfície inclinada e baixa. O Cronos traz uma variação mais adornada, em que a saída de ar chama mais atenção e a superfície é quebrada pela faixa contrastante. Em ambos procura-se evitar que o painel “avance” sobre o passageiro, mas o Cronos denota mais capricho e atenção aos detalhes. City, Virtus e Yaris usam superfícies horizontal e vertical bem delineadas. O painel do City é o que mais passa impressão de altura, portanto é bom que use elementos fortes para dissimulá-la. Já o Virtus ameniza essa impressão com as formas horizontais. O caso do Yaris é intermediário.
Por mais bonitos que sejam o painel e as portas, vão deixar o conjunto feio se forem desconexos. Essa integração é fraca em City e Cobalt: as portas têm estilo independente, que segue o do painel. Por outro lado, o Virtus repete a faixa branca nas portas de um modo que parece papel dobrado. O Yaris faz uma transição nos relevos e, no Cronos, o painel não tem formas que pudessem ser prolongadas às portas. Elas então são cheias de formas arredondadas, com puxadores de porta saltados, em alusão ao desenho geral do carro.
O segmento dos sedãs compactos superiores se encontra acima da esfera popular, mas ainda abaixo da dos médios, e isso é fácil de perceber: há modelos projetados no Brasil, outros vindos do exterior e outros que são adaptações locais de projetos estrangeiros. Além disso, eles têm uma diferença de idade que, nos tempos atuais, implica seguir tendências de estilo muito diversas. Some tudo isso às características particulares de cada fabricante — conservadorismo, esportividade, inovação — e se entende que, embora pequeno, esse segmento já se tornou uma bela representação do mercado automobilístico brasileiro de hoje.
Se a análise tivesse sido feita alguns anos atrás, o Ford Fiesta Sedan teria participação garantida, mas sua situação começou a desandar em 2014: só o hatch foi nacionalizado e o sedã, vindo do México e sujeito à variação cambial, passou a vender cada vez menos.
Embora seu estilo esteja datado em relação aos outros sedãs, a carroceria mostra contornos angulares e vincos fortes e muito equilibrados. A área envidraçada reduzida cria um problema: a lateral traseira tem uma área metálica enorme, o que confere a sensação de rodas pequenas. Por dentro, o painel exibe formas agradáveis, mas a tela da central de áudio atesta sua idade.
Infelizmente, não se pode esperar muito do futuro desse carro: a nova geração europeia não está prevista para o Brasil e, mesmo no exterior, ainda nem se fala em uma versão sedã.
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