Utilitário esporte segue a filosofia atual de desenho dos suecos, mas o faz com uma identidade mais jovial
Texto: Danillo Almeida – Fotos: divulgação
O mercado de utilitários esporte está vivendo seu auge. Se no passado esse tipo de carro destinava-se ao uso rural, hoje é comprado e desejado por todo tipo de consumidor, do mais convencional ao mais arrojado. Ele seduziu marcas de base e de luxo, cresceu o suficiente para passar por várias subdivisões e oferece, literalmente, dezenas de opções mesmo no Brasil, cada uma com proposta diferente. A última Análise de Estilo que o Best Cars apresenta em 2018 tem como objeto um dos membros mais novos dessa estirpe no mercado nacional: o Volvo XC40.
Quando uma categoria de carros tem muitas opções disponíveis, ser bom não é suficiente: o fabricante precisa investir em diferenciar seu modelo, dar-lhe alguma característica única. Isso pode ser feito com itens pontuais ou trabalhando sobre todo seu caráter. A Volvo, que tem feito um belo trabalho de modernizar sua imagem, usou tal estratégia para promover o XC40. A semelhança de nomes reflete a óbvia intenção dos suecos de trazer à memória os irmãos maiores, XC60 e XC90, mas não se engane: o novato tem muito mais a oferecer.
O prefixo XC vem da expressão inglesa cross country, com a qual a Volvo denomina seus modelos de vocação aventureira. O número, por sua vez, indica o tamanho — 40 representa a base da linha e, até o momento, era usado apenas pelo hatchback V40. O fabricante teve a chance de criar algo totalmente novo e, como se pode ver, uma das partes do carro em que isso se nota é o estilo, por dentro e por fora. O XC40 quer fazer seu próprio destino no mercado e exibe personalidade forte o suficiente para isso.
Em estilo, definir quais elementos são dominantes e quais ficarão em segundo plano é importante para evitar excesso de informação. No XC40, a dianteira concentra as atenções nos faróis e na grade e precisa respeitar o formato geral retilíneo. Assim, só resta ao capô a discrição que se vê. Ele tem dois vincos espessos, focados em ressaltar a entrada de ar, e só. Ele jamais será um dos primeiros itens a atrair os olhares, mas essa foi a intenção.
Nos tempos de austeridade, o fabricante sueco abusou da simplicidade no desenho dos faróis. Como tal característica se tornou famosa, resistiu a sua recente mudança de rumo. Os novos faróis exibem mudanças leves na forma, mas pesadas no estilo interno: os leds diurnos são agrupados de modo a lembrar o martelo de Thor. Embora simples, esse detalhe consegue romper com a seriedade de outrora e, ao mesmo tempo, exaltar a nacionalidade da Volvo de uma maneira positiva.
Outra herança que foi apenas modernizada, e não mudada. A grade ostenta contorno simples, quase retangular, e filetes pequenos e múltiplos, com acabamento que varia conforme a versão. São itens discretos o suficiente para concentrar as atenções no logotipo do fabricante, que abrange toda a altura da peça. Itens assim mostram que o XC40 consegue seguir as tendências atuais sem deixar de ser um legítimo Volvo.
Como faróis e grade são tão chamativos, não surpreende que a porção inferior da dianteira tenha ficado quase tão discreta quanto o capô. Há uma entrada de ar ao centro e duas regiões pequenas, para envolver os faróis de neblina, ladeando-os. A maior função estilística da região é dissimular a altura geral do carro, e não chamar atenção para si.
Formas retilíneas costumam conferir seriedade e conservadorismo. Por outro lado, carros pequenos passaram muito tempo usando estilo arredondado porque isso traz um ar lúdico — para os fabricantes, essa parecia a melhor forma de atrair seu público-alvo. Hoje o XC40 entra para o clube dos modelos que desconstroem essas concepções: é o menor modelo entre os Volvo mais recentes, mas abusa das formas retilíneas. A dianteira curta e quase horizontal é um exemplo disso.
Para um fabricante que usa linhas de cintura largas, ainda que com dobra suave, o estilo do XC40 se torna surpreendente: a carroceria tem vincos apenas em regiões estratégicas. Uma fica entre as rodas, em claro esforço para quebrar o excesso de área vazia; outra é o capô, já mencionado; e a terceira fica logo atrás das janelas, de modo a evitar que a coluna traseira pareça grande demais e ainda direcionar o olhar ao teto, que pode ser pintado em cor contrastante.
Esse é o menor, mais barato e mais jovial XC — e precisa mostrar isso de todas as formas possíveis. Um recurso eficaz é o desenho das janelas: não há peças à frente ou atrás das portas, o qual ajuda a fazer a carroceria parecer curta. Além disso, a linha de base das janelas subindo para a traseira foi intensificada: essa subida começa na metade da porta traseira, mas é forte o suficiente para chamar atenção.
Quem conhece um pouco mais da Volvo lembra que outro pilar da sua imagem é o desenho das peruas das décadas anteriores, como as das séries 200 e 700 e a 850: teto longo e horizontal terminado em um corte abrupto. Assim, o estilo do XC40 volta a ser considerado moderno porque é muito mais inclinado. Isso evita a necessidade de uma janela auxiliar atrás das portas e destaca a transição entre o teto e o restante da carroceria, que usam cores diferentes.
A parte superior da traseira não é um elemento de estilo dominante; por isso, a Volvo a desenhou da maneira mais simples possível. O vidro domina toda a largura disponível entre as luzes e tem formato retangular. A transição para o restante da tampa é feita com uma simples linha horizontal.
Hoje é fácil ver um elemento de estilo e lembrar-se de outros aplicados a carros de marcas diferentes, mas a fonte real de inspiração para as lanternas do XC40 está na própria Volvo: o formato vertical, ladeando o vidro, ficou famoso nas peruas; já a extensão à meia-altura apareceu com mais frequência nos SUVs. O formato e o tamanho das luzes do novato mostram que não é uma V70 ou um XC90, mas é tão Volvo quanto os dois.
Acomodar a placa na região inferior cria excesso de área vazia na altura da tampa, sobretudo em carros de traseira alta. No XC40 isso foi resolvido com o uso de poucos elementos e desenho horizontal para os vincos. O resultado visual é simples e volumoso, o que colabora com a aparência de robustez sem chegar a passar ideia de luxo — o modelo precisa manter distância da imagem dos maiores. Detalhe interessante é a região em baixo-relevo que abriga o nome da marca.
Aqui, acontece uma situação quase oposta à da dianteira: como não há muito destaque nas partes superior e central da traseira, a inferior exibe visual mais chamativo. A faixa espessa em plástico preto dissimula a altura: o carro parece “levantado” e, com isso, passa sensação de leveza e agilidade. As luzes auxiliares adotam desenho horizontal para não chamar atenção e há outra faixa em prateado fosco.
Se ainda havia dúvida de que esse carro é um Volvo moderno, todas caem quando se entra no carro. O console central do XC40 é dominado pela tela vertical da central de áudio, tendência também vista nos carros da Tesla. Aqui, esse recurso aumenta a utilidade da central e colabora com a intenção de tornar a aparência simples e jovial, sem abrir mão do nível de qualidade da Volvo. O toque de elegância é dado pelos difusores de ar cromados e pelo acabamento que segue o tom do resto.
Carros altos trazem sensação de imponência ao dirigir, portanto precisam usar painéis também altos para não a quebrar. O novato da Volvo respeita isso, mas evita que a aparência do painel fique vazia recorrendo a uma faixa espessa com cor e acabamento contrastantes. Outra escolha de bom gosto é de saídas de ar laterais com o mesmo desenho das centrais — aqui, elas funcionam como uma espécie de miniatura daquelas. Belo caso prático de identidade visual.
O dilema do desenho dos painéis de porta recebeu aqui a solução de baixo custo, como era de se esperar: dar às portas desenho independente daquele do painel, em vez de prolongá-lo, permite obter um visual agradável sem encarecer demais a montagem (o alinhamento entre as peças não precisa ser praticamente perfeito). Não obstante, nada disso significa que os painéis de porta fujam do nível da Volvo. O acabamento usa dois tons, porção grande revestida em couro e maçanetas prateadas.
Como qualquer outro projeto bem-executado, o Volvo XC40 tem todos os elementos de estilo desenhados de maneira a transmitir a mesma mensagem: ele é um carro moderno e jovial, mas também procura ser perfeitamente um Volvo. A identidade visual que os suecos adotam tem atraído elogios, mas não poderia ser aplicada a todos os modelos da mesma forma. O novato agrada justamente por exibir uma bela versão menor e mais casual dessa identidade.
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