Fiat Toro é meio-termo que pode agradar a extremos

Estilo, espaço e comportamento convencem; desempenho é discreto na Flex e ótimo na Diesel

Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação

 

Não tão grande quanto as picapes médias, mas com o motor turbodiesel e a tração nas quatro rodas que os modelos compactos não oferecem: assim é a Toro, nova picape da Fiat, que vem ocupar um segmento superior ao da Strada. Com um nome que evoca robustez (significa touro em italiano e espanhol), a novidade inaugura uma subcategoria não apenas para a marca de Betim, MG, mas para o mercado em geral.

Embora possa concorrer de alguma forma com a Renault Duster Oroch, que abriu no ano passado um espaço entre as picapes pequenas tradicionais e as médias, tanto as dimensões do novo modelo quanto suas opções mecânicas, como motor a diesel, colocam-no em plano superior ao da adversária de marca francesa. Em termos de porte, porém, ela permanece abaixo de modelos médios como Chevrolet S10 e Toyota Hilux.

 

O desenho da Toro é criativo; tampa da caçamba abre-se em duas partes

 

Oferecida apenas com cabine dupla e quatro portas, a Toro estreia em duas versões de acabamento (Freedom e Volcano, às quais se soma a edição limitada de lançamento Opening Edition), duas de motores (de 1,75 litro flexível e de 2,0 litros a diesel com turbocompressor), duas de tração (dianteira e integral) e três de transmissão (manual e automática de seis marchas e automática de nove marchas). Tanta variedade compõe cinco versões com preços sugeridos entre R$ 76.500 e R$ 116.500 (veja quadro com valores e equipamentos abaixo), às quais deve se somar adiante uma mais simples com motor flexível e caixa manual. A garantia de três anos pode ser ampliada por mais um ou dois.

 

Na caçamba, uma novidade: duas tampas articuladas nas laterais, que se abrem como usual em furgões

 

A exemplo da Oroch, a Toro deriva da plataforma de um utilitário esporte (o Jeep Renegade), do qual toma emprestados também motores e transmissões, mas suas dimensões são bem maiores que as do modelo de origem. Comparada à Renault, ela mede mais 22,2 cm em comprimento (4,91 metros) e 2,3 cm em largura (1,844 m), menos 1,5 cm em altura (1,68 m na versão flexível) e mais 16,1 cm em distância entre eixos (2,99 m). A suspensão traseira independente multibraço diverge da usada pelo Renegade, que usa o conceito McPherson.

Seu estilo elaborado pela Fiat brasileira impressiona bem, afastando-se dos padrões tradicionais do segmento de picapes. Na frente, a solução adotada pelos faróis lembra a do Jeep Cherokee, com uma faixa de leds para luz diurna no topo, acima das unidades principais de duplo refletor; há ainda faróis de neblina abaixo. As laterais trazem vincos bem pronunciados e fluidez na ligação da cabine à caçamba, inerente à estrutura monobloco, ao contrário dos modelos médios com carroceria sobre chassi. Na traseira chamam atenção as lanternas, mais de automóvel que de picape.

 

Muito pouco do interior vem do Renegade; versão mostrada é Freedom com opções

 

Simples, mas equipada

O interior da Toro foi todo redesenhado em relação ao do Renegade, a ponto de se notar o compartilhamento da plataforma apenas pela disposição de cada elemento, além do uso de poucos itens em comum, como os botões do volante (os de áudio ficam atrás dele, típicos da Chrysler) e de ventilação. Nem mesmo os instrumentos ou os difusores de ar centrais estão na mesma posição nos dois carros. O acabamento da picape é simples, com plásticos rígidos, mas de bom aspecto — melhorado nas versões Opening Edition e Volcano pelos apliques em tom bronze.

 

 

O motorista acomoda-se bem, com ajustes de altura do banco e de altura e distância do volante e pedais em posição correta. O espaço interno é mais amplo que nas picapes menores ou mesmo na Oroch, sem chegar ao que oferecem os modelos médios: no banco traseiro a largura é típica de carros médios, insuficiente para três adultos, e o vão das pernas poderia ser mais generoso para um carro de seu comprimento. Bem legíveis, os instrumentos incluem computador de bordo e, na Volcano, amplo mostrador colorido no centro. Primazia na categoria é a partida do motor acionada a distância, ideal para refrigerar a cabine antes de se chegar à picape.

Bons detalhes da Toro (alguns dependem da versão) são assento móvel no banco dianteiro direito para acesso a um porta-objetos, compartimento refrigerado no console, acesso e partida com chave presencial, controlador e limitador de velocidade, mostrador de pressão dos pneus, ar-condicionado com duas zonas de ajuste e tomadas USB e de 12 volts para o banco traseiro.

 

Série Opening Edition acresce equipamentos que vêm à parte na Freedom

 

Outros itens podem ser aprimorados: há navegador na central multimídia, mas não as modernas conexões que espelham a tela do telefone celular; a tela de cinco polegadas poderia ser maior; o para-brisa vem sem faixa degradê e função um-toque equipa apenas o controle de vidro do motorista. Nas versões 4×4 a tomada de 12 volts do console dá lugar ao comando da tração, sendo deslocada para muito longe do para-brisa: ruim para conectar o telefone à vista do condutor.

Na caçamba, uma novidade: duas tampas articuladas nas laterais, que se abrem como usual em furgões, em um movimento bastante leve e que não requer muito espaço atrás do carro. Sua capacidade de 820 litros supera em muito a de 683 da Oroch, embora as altas laterais tenham participação. O estepe fica sob a carroceria, na parte traseira. A capacidade de carga, que na Toro flexível é a mesma da Renault (650 kg), chega a 1.000 kg nas versões a diesel, como requer a legislação brasileira para permitir o uso desse combustível em picapes.

Próxima parte

 

Versões, equipamentos e preços

• Toro Freedom 1,75 Flex (R$ 76.500): ar-condicionado, assistente de saída em rampa, caixa automática de seis marchas, cintos de três pontos e encostos de cabeça para cinco ocupantes, computador de bordo, controlador e limitador de velocidade, controle elétrico de vidros e travas, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção com assistência elétrica, fixação Isofix para cadeira infantil, rádio Connect com interface Bluetooth e conexões USB e auxiliar, rodas de 16 polegadas (de aço), sensor de estacionamento traseiro, volante com regulagem de altura e distância.

Opcionais: alarme antifurto, bancos revestidos em couro, barras longitudinais no teto, bolsas infláveis (laterais dianteiras, de cortina e de joelhos para o motorista), central multimídia Uconnect, cobertura marítima de caçamba, faróis de neblina, faróis e limpador de para-brisa automáticos, rodas de alumínio de 16 pol, sensor de pressão dos pneus, teto solar com controle elétrico, entre outros.

• Toro Opening Edition 1,75 Flex (R$ 84.400): o mesmo da Freedom mais ar-condicionado automático de duas zonas, câmera traseira de manobras, capota marítima, central multimídia, faróis de neblina, retrovisores com ajuste elétrico e rebatimento, rodas de alumínio de 16 pol, volante de couro com comandos para troca manual de marchas e caracterizações visuais.

Opcionais: bancos de couro, bolsas infláveis adicionais, sensor de pressão dos pneus, teto solar.

• Toro Freedom 2,0 Diesel (R$ 93.900 com tração dianteira, R$ 101.900 com tração 4×4): o mesmo da Freedom 1,75 Flex, mas com motor turbodiesel e caixa manual de seis marchas. A versão 4×2 tem ainda proteção no para-choque dianteiro, protetor de cárter e rodas exclusivas de 16 pol (de aço). A 4×4 inclui alarme, controlador de velocidade em declives e iluminação de caçamba.

Opcionais: os mesmos da Freedom 1,75 Flex, mas com rodas de alumínio de 17 pol.

• Toro Volcano 2,0 Diesel (R$ 116.500): o mesmo da Freedom 2,0 Diesel 4×4 mais ar-condicionado automático de duas zonas, câmera traseira, central multimídia com navegador, espelhos iluminados nos para-sóis, faróis de neblina, luzes diurnas de leds, quadro de instrumentos com mostrador colorido, rodas de alumínio de 17 pol com pneus de uso misto e transmissão automática de nove marchas.

Opcionais: acesso e partida com chave presencial, bancos de couro, bolsas infláveis adicionais, cobertura marítima, faróis e limpador de para-brisa automáticos, monitor de pressão dos pneus, partida a distância, regulagem elétrica do banco do motorista, teto solar, volante com comandos de marchas.

A linha de acessórios Mopar inclui extensor de caçamba montado em sua tampa para permitir o transporte de moto (inclui novo suporte para a placa de licença), bolsa para caçamba, barras transversais de teto, retrovisores cromados, pedais esportivos, engate para reboque e capa para transporte de animais.

Próxima parte

 

Versão de topo Volcano tem caixa de nove marchas, rodas 17 e central multimídia

 

Sob o capô da Toro estão motores conhecidos do grupo FCA Fiat Chrysler, ambos de quatro válvulas por cilindro: o E-Torq flexível de 1,75 litro, aplicado amplamente à linha Fiat, e o Multijet turbodiesel de 2,0 litros, já em uso pelo Renegade. O primeiro, que havia recebido variação de tempo de abertura de válvulas para equipar o pequeno Jeep, ganhou mais um recurso destinado à melhor distribuição de torque pela faixa de operação, o coletor de admissão com geometria variável.

Em relação ao Renegade, o motor da Toro ficou mais potente (de 130/132 cv a 5.250 rpm para 135/139 cv a 5.750 rpm) e ganhou um pouco de torque (de 18,6/19,1 m.kgf para 18,8/19,3 m.kgf às mesmas 3.750 rpm, sempre na ordem gasolina/álcool). Embora a Fiat fale apenas em “mais de 80% do torque máximo logo abaixo de 2.000 rpm” (no Jeep já havia 82% a 1.500 rpm), a Engenharia afirma ter obtido ganhos palpáveis em baixas e médias rotações.

 

Motor turbodiesel de 170 cv vem do Renegade, mas suspensão traseira multibraço é nova; seletor controla modos de tração 4×4

 

Quem deseja mais desempenho em sua Toro deve partir para o turbodiesel, dotado de injeção direta de duto único e turbina de geometria variável, que fornece 170 cv a 3.750 rpm e 35,7 m.kgf a 1.750 rpm. Os dados oficiais de desempenho apontam para uma picape rápida, capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 10 segundos com caixa automática, ante 12,2 s da versão flexível com álcool.

 

A Toro a diesel acelera com desenvoltura e pode ser mantida em baixa rotação, como 1.700 rpm a 120 km/h

 

Em termos de transmissão a picape mantém as caixas automáticas do Renegade, com seis marchas para o motor flexível e nove para o diesel, mas adota uma manual de seis como opção de série para o segundo motor, o que não existe no Jeep. Ambas as automáticas permitem operação manual pela alavanca, com trocas ascendentes para trás (habitual na linha Fiat), ou pelos comandos junto ao volante.

Também do Renegade vem a tração integral sob demanda: apenas dianteira em condições normais, ela passa a tracionar as rodas traseiras conforme a necessidade e pode chegar a enviar 60% do torque para aquele eixo. Teclas no console central acionam os modos 4WD Lock, que bloqueia a divisão de torque em 50% por eixo, e 4WD Low, que usa a primeira marcha bem curta da caixa automática (em regra o carro sai em segunda) e retém mais as marchas baixas. Não foi aplicado o seletor de programas Selec-Terrain do Jeep, que o adapta a diversos tipos de terreno.

 

Coletor variável levou o E-Torq a 139 cv, mas peso de 1,6 tonelada é muito

 

Inédito nessa plataforma (que tem suas origens no Fiat Grand Punto italiano e no Opel Corsa da mesma época, por volta de 2005) é o emprego de suspensão traseira independente multibraço com molas helicoidais, mais sofisticada que a McPherson do próprio Renegade. A Fiat recorreu a um sistema elaborado para conciliar qualidades antagônicas como conforto de marcha, comportamento dinâmico e robustez no transporte de carga, deixando anos-luz atrás o prosaico eixo rígido com molas parabólicas da Strada. A Oroch usa sistema parecido, mas sem braço superior. Na traseira a Toro usa freios a tambor.

 

 

Ao volante

O Best Cars dirigiu no evento de lançamento em Campinas, SP, as versões Freedom flexível (trajeto apenas urbano de 20 km) e Volcano (percurso urbano e rodoviário de 50 km). Começamos pela opção de entrada, que mostra um rodar bastante confortável para o tipo de veículo: irregularidades e mesmo altas lombadas são absorvidas pela suspensão sem grande incômodo aos ocupantes, para o que concorre o enorme entre-eixos. A direção bem calibrada, leve na cidade, tem diâmetro de giro apenas aceitável para seu porte: 12,2 metros.

O motor E-Torq revela melhor distribuição de torque que nas demais aplicações, mas lida com peso excessivo (mais de 1,6 tonelada, vazia) para uma unidade de sua cilindrada. O resultado são respostas lentas no tráfego urbano, mesmo que a suave caixa automática o leve a rotações médias com facilidade. Acreditamos que seu desempenho decepcione em retomadas de rodovia, o que fica por ser conferido em avaliação completa.

 

Com torque de sobra, versão Volcano a diesel oferece mais conveniências

 

Com a Volcano a diesel pudemos rodar em condições mais variadas, mas infelizmente nada de fora de estrada foi previsto pela Fiat. Embora pese quase 1,9 tonelada, sua agilidade no tráfego da cidade é bem maior, com o torque imponente de 35,7 m.kgf disponível tão logo o turbo vença seu retardo natural de atuação, que é pouco. A transmissão faz bom trabalho de gerenciar as nove marchas, cujas relações com pequenos intervalos são apropriadas à estreita faixa de trabalho do motor.

Na rodovia Dom Pedro I, a Toro a diesel acelera com desenvoltura e pode ser mantida em baixa rotação, como 1.700 rpm a 120 km/h em nona. O ruído e as vibrações típicas desses motores são bastante moderados, ouvindo-se na cabine apenas em velocidades urbanas: ao viajar, a sensação é de carro a gasolina, apesar do incômodo ruído de vento no para-brisa. Embora a suspensão firme garanta estabilidade muito boa para uma picape, a traseira transmite mais impactos aos ocupantes que o desejável — ainda assim, seria difícil obter melhor compromisso mantendo a capacidade de uma tonelada.

A Fiat espera colocar nas ruas 4.000 unidades mensais da Toro, com 40% de versões flexíveis e o restante dividido ao meio entre diesel manual e diesel automática. É um volume expressivo para um veículo de seu preço, mas que parece coerente com o que a picape apresentou no primeiro contato. É bonita, tem conteúdo interessante e boas opções mecânicas. Pode ser o que muitos donos de picapes pequenas esperavam para subir de segmento — ou o que os adeptos das médios imaginavam para dirigir algo menor sem cair tanto de categoria.

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Ficha técnica

Toro 1,75 flexível Toro 2,0 turbodiesel
Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas no cabeçote duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo 4
Diâmetro e curso 80,5 x 85,8 mm 83 x 90,4 mm
Cilindrada 1.747 cm³ 1.956 cm³
Taxa de compressão 12,5:1 16,5:1
Alimentação injeção multiponto sequencial injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima 135/139 cv a 5.750 rpm* 170 cv a 3.750 rpm
Torque máximo 18,8/19,3 m.kgf a 3.750 rpm* 35,7 m.kgf a 1.750 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automática, 6 manual, 6, ou automática, 9
Tração dianteira dianteira ou integral
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a tambor
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, multibraço, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 16 pol 17 pol
Pneus 215/65 R 16 225/65 R 17
Dimensões
Comprimento 4,915 m
Largura 1,844 m
Altura 1,68 m 1,743 m
Entre-eixos 2,99 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 60 l
Caçamba 820 l
Capacidade de carga 650 kg 1.000 kg
Peso em ordem de marcha 1.619 kg 1.871 kg
Desempenho
Velocidade máxima 172/175 km/h* 188 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 12,8/12,2 s* 10,0 s
Dados do fabricante; *gasolina/álcool; consumo não disponível

 

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