Jeep Compass Flex anda bem e tem preços competitivos

Quem abre mão do turbodiesel poupa R$ 25 mil e leva um carro menos ágil, mas em boa medida para uso familiar

Texto: Fabrício Samahá e Sérgio Galvão – Avaliação: S. Galvão – Fotos: divulgação

 

Lançamentos parcelados — com versões em separado ou apresentação estática em outro evento antes da avaliação — são a nova mania da indústria, e assim, semanas após conhecermos o novo Jeep Compass com motor turbodiesel, a Fiat Chrysler reuniu a imprensa para apresentar sua versão flexível em combustível. Ao contrário da primeira, que mantém o motor conhecido do “irmão menor” Renegade e da Fiat Toro, o Compass Flex traz ao Brasil o inédito Tigershark de 2,0 litros.

“Inédito” em termos relativos, pois sua origem está na família inaugurada nos Estados Unidos em 2007 com versões de 1,8, 2,0 e 2,4 litros, das quais tivemos a segunda na geração anterior do Compass (não estranhe se você nem se lembrar de que se trata; refresque a memória aqui) e ainda temos a terceira no Fiat Freemont. O Tigershark, nome em inglês para tubarão-tigre, chegou ao mercado em 2013 com evoluções no cabeçote e no sistema de admissão e apenas em 2,0 e 2,4 litros, para equipar modelos como Chrysler 200, Dodge Dart, Fiat 500X e o Renegade do mercado norte-americano. Apenas o 2,4 recebeu o sistema Multiair de variação do levantamento das válvulas.

O Compass fabricado em Goiana, PE, é o primeiro produto da FCA a ter a versão flexível do Tigershark, que passou por alterações como maior taxa de compressão (de 10,2:1 para 11,8:1) e sistema de preaquecimento de álcool para partida a frio. Potência de 159 cv e torque de 19,9 m.kgf com gasolina indicam ligeiras perdas em relação aos 162 cv e 20,5 m.kgf do Dart, mas ao usar álcool elas se compensam e o Jeep passa a 166 cv e os mesmos 20,5 m.kgf. Apesar do pico de torque a 4.000 rpm, o fabricante informa que 86% estão disponíveis já a 2.000. Entre os elementos modernos estão bloco de alumínio e variação do tempo de abertura das válvulas para ambos os comandos, que são acionados por meio de corrente. Árvores de balanceamento anulam vibrações.

 

Disponível apenas com o motor flexível, versão Sport parte de R$ 100 mil com bom conteúdo, embora pudesse ter mais que duas bolsas infláveis

 

Comparado ao turbodiesel de mesma cilindrada, que produz 170 cv e 35,7 m.kgf, o Tigershark perde por pouco em potência, mas apresenta torque muito inferior: não poderia ser diferente diante das características construtivas de cada motor. Ele vem associado a transmissão automática de seis marchas (são nove no turbodiesel) e tração apenas dianteira (integral na outra versão). Com peso de 1.541 kg, o Compass Flex é importantes 176 kg mais leve que o turbodiesel — 1.717 kg, ambos na versão Longitude —, o que torna seu desempenho bastante válido.

 

O motor Tigershark responde prontamente, com desempenho bem situado em sua categoria, e parece apto a atender às necessidades mais comuns

 

A Jeep informa aceleração de 0 a 100 km/h em 10,9/10,6 segundos e velocidade máxima de 188/192 km/h (sempre na ordem gasolina/álcool), o que nos parece competitivo com o Hyundai IX35 e o Kia Sportage e melhor que o Honda CR-V, embora nenhum desses tenha os dados de desempenho declarados pelos fabricantes. O Jeep poderia ser melhor em consumo: com 8,1/5,5 km/l em ciclo urbano e 10,5/7,2 km/l no rodoviário pelos padrões do Inmetro, fica bem atrás do CR-V (9,2/6,4 km/l no urbano, 11,5/8,1 no rodoviário) e similar ou pouco pior que o IX35 (8,8/6,1 km/l no urbano, 10,5/7,3 no rodoviário).

À parte motor, número de marchas e tração, é o mesmo Compass que havíamos apresentado em setembro, até mesmo na suspensão traseira, que usa o conceito independente McPherson para ambas as versões (há utilitários esporte, como Ford Ecosport e Renault Duster, com suspensões diferentes conforme o tipo de tração) e nas medidas de pneus. As capacidades de bagagem e do tanque de combustível também não são influenciadas pela presença da transmissão à traseira na versão a diesel.

 

Conjunto do Longitude (R$ 107 mil), interessante para o segmento, acrescenta itens de conforto; série Opening Edition vem com bancos em tom caramelo

 

O Flex, no entanto, oferece duas versões que o turbodiesel não tem (a de entrada Sport e a luxuosa Limited) e ainda a edição limitada de lançamento Opening Edition, enquanto deixa de fora a opção Trailhawk, dedicada ao uso fora de estrada (veja na próxima página os conteúdos e preços de cada uma).

 

 

Ao volante do Compass Flex

O Best Cars dirigiu o Compass Longitude entre as cidades litorâneas de Guarujá e Bertioga, em São Paulo, em distância total de 51 quilômetros. As boas impressões sobre o interior repetem as obtidas com a versão turbodiesel: banco e posição de dirigir confortáveis, painel de instrumentos com ampla tela central para o sistema UConnect, comandos no volante de fácil utilização, acabamento coerente com a faixa de preço.

Ao acionar o motor quase não se ouve o som do Tigershark, graças ao bom trabalho de isolamento acústico. Para sair da inércia basta um pequeno toque no acelerador que ele responde prontamente. Não se compara à fartura de torque do modelo a diesel, mas está bem situado em sua categoria e parece apto a atender às necessidades do público familiar. Foi curto o espaço de rodagem na cidade; mesmo assim, o Compass passou por algumas valetas e lombadas de maneira firme e controlada, sem comprometer o conforto.

 

Opção de topo, o Limited só existe com o motor Tigershark de 159/166 cv; caixa automática das versões flexíveis tem seis marchas e não há tração integral

 

Nas rodovias do trajeto, com velocidade estipulada de 80 km/h, mostrou bom desempenho e transmitiu sensação de estabilidade. O motor produz poucas vibrações e mantém o interior sereno, mesmo ao explorar rotações mais altas. A transmissão bem calibrada troca as marchas de maneira quase imperceptível. Ao requisitar mais potência, como para ultrapassagem, ela parece “pensar” um pouco antes da redução, mas depois o desempenho atende às expectativas. A direção está bem ajustada e o sistema de freios passa segurança.

Tudo considerado, o Compass Flex aparece como grande opção aos interessados em um utilitário esporte confortável para uso urbano e em rodovia, com desempenho e espaço adequados, sem gastar mais ou muito mais que R$ 100 mil. No caso da versão Longitude — a única disponível com ambos os motores —, são R$ 25 mil de diferença entre o Tigershark e o turbodiesel: se o torque mais modesto e a tração apenas dianteira não forem empecilhos, é dinheiro o bastante para pagar por muitos anos a diferença de gastos com combustível.

Próxima parte

 

Bancos de couro, tela central de 8,4 pol e alerta para veículo em ponto cego vêm de série no Limited; assistente para estacionar e teto solar são opcionais

 

Versões, preços e equipamentos

Compass Sport Flex (R$ 100 mil) – Ar-condicionado manual, auxílio para saída em rampa, banco traseiro bipartido, câmera traseira de manobras, cintos de três pontos para todos os ocupantes, computador de bordo, controlador e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade, tração e anticapotamento, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, freio de estacionamento elétrico, freios a disco nas quatro rodas, monitor de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 17 polegadas, sensores de estacionamento traseiros, sistema de áudio com tela de 5 pol e navegador, volante ajustável em altura e distância.

Opcional: pacote Safety (bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e para os joelhos do motorista).

Compass Longitude Flex (R$ 107 mil) – Como o Sport, mais ar-condicionado automático de duas zonas, chave presencial para acesso e partida, comandos de mudanças de marcha no volante, rodas de alumínio de 18 pol, sistema de áudio com tela de 8,4 pol, volante com comandos.

Opcionais: pacote Safety (bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e para os joelhos do motorista), pacote Premium (bancos de couro, sistema de áudio Beats, limpador de para-brisa e faróis automáticos, retrovisor interno fotocrômico) e teto solar.

Compass Opening Edition (R$ 109.490) – Como o Longitude, mais pacote Premium, incluindo bancos de couro em tom caramelo.

Compass Limited Flex (R$ 125 mil) – Como o Longitude, mais pacotes Safety e Premium, faróis de xenônio, monitor de veículo em ponto cego, painel de instrumentos com tela colorida de 7 pol.

Opcionais: bancos de couro bege, pacote Advanced Assist (controlador de distância, monitor de mudança de faixa, aviso/prevenção de colisão frontal e assistente de farol alto), pacote Top III (ajuste elétrico dos bancos dianteiros, assistente de estacionamento, partida remota, sistema de áudio Beats, tomada de 127 V), teto solar panorâmico.

 

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 88 x 82 mm
Cilindrada 1.995 cm³
Taxa de compressão 11,8:1
Alimentação injeção multiponto sequencial
Potência máxima (gas./álc.) 159/166 cv a 6.200 rom
Torque máximo (gas./álc.) 19,9/20,5 m.kgf a 4.000 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automática, 6
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, McPherson, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 7 x 18 pol
Pneus 225/55 R 18
Dimensões
Comprimento 4,416 m
Largura 1,819 m
Altura 1,638 m
Entre-eixos 2,636 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 60 l
Compartimento de bagagem 410 l
Peso em ordem de marcha 1.541 kg
Desempenho e consumo (gas./álc.)
Velocidade máxima 188/192 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 10,9/10,6 s
Consumo em cidade 8,1/5,5 km/l
Consumo em rodovia 10,5/7,2 km/l
Dados do fabricante para versão Longitude

 

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