Nissan Leaf é um elétrico bom de dirigir, mas o preço…

Soluções técnicas interessantes em um hatch confortável, que precisaria custar menos para justificar as limitações de uso

Texto: Kelvin Silva – Fotos: divulgação

 

Depois de um breve contato em fevereiro, chegou a hora de dirigir um pouco mais o Nissan Leaf, primeiro modelo elétrico da marca japonesa no Brasil. Apresentado no último Salão de São Paulo, no ano passado, o Leaf (folha em inglês) começa a ser importado de Sunderland, Inglaterra, e vem competir com o Chevrolet Bolt e o Renault Zoe.

 

 

O preço válido na pré-venda, R$ 178.400, acabou subindo ainda mais para o lançamento: R$ 195 mil. Uma parte do acréscimo foi porque a fábrica decidiu fornecer — com instalação inclusa — o carregador doméstico de alta capacidade, apto a recarregar as baterias em 100% em seis a oito horas, além de um cabo para recarga em tomada comum (que pode levar até 40 horas) e adaptador para plugue do tipo 2. A Nissan definiu também um bom padrão de equipamentos de série, com destaque para assistências ao motorista como controlador de distância à frente, monitor de atenção do condutor, assistente de saída de faixa (com correções na direção) e alertas para veículo em ponto cego e em tráfego cruzado traseiro. Mesmo assim, o preço é um tanto salgado em decorrência do custo das baterias.

O motor síncrono de corrente alternada do Leaf produz potência de 110 kW, equivalente a 149 cv, e torque de 32,6 m.kgf — similar ao de um motor turbo de 2,0 litros, só que instantâneo. Mesmo com quase 1,6 tonelada de peso, o hatch acelera de 0 a 100 km/h em apenas 7,9 segundos, segundo o fabricante, mais rápido que um modelo similar com motor a combustão de mesma potência.

 

O Leaf ficou ainda mais caro no lançamento oficial, R$ 195 mil, mas agora a Nissan fornece e instala um carregador doméstico de alta capacidade

 

Uma interessante opção ao motorista é o sistema E-Pedal (pedal eletrônico), acionado por botão no console. Ao aumentar a ação do sistema regenerativo, que aproveita a energia da frenagem para alimentar as baterias, o sistema permite usar apenas o acelerador em 90% das condições de uso, segundo a marca. Basta deixar de acelerar para que o carro reduza a velocidade gradualmente, bem mais que nos motores a combustão e de maneira eficiente. O E-Pedal usa uma característica do motor elétrico, que lhe permite se tornar um gerador quando os polos são invertidos. Na prática, em todo movimento de desaceleração, em vez de usar o freio convencional o carro recorre à resistência do motor elétrico. O pedal de freio e o sistema com discos e pastilhas estão lá, mas apenas para frenagens mais intensas.

 

O sistema E-Pedal de condução com um só pedal funciona muito bem e, associado à falta de ruídos e ao motor com respostas rápidas, transmite uma sensação agradável

 

O Leaf vendido no Brasil tem capacidade de 40 kWh nas baterias de íons de lítio, que a Nissan diz permitirem autonomia de 389 km pelo padrão europeu NEDC (ciclo com cerca de um terço de tráfego urbano e dois terços em rodovia) e 241 km pelo método norte-americano EPA, com cerca de metade em cada tipo de uso. Há três modos de condução: D, com toda a potência disponível; B, que acentua a regeneração; e Eco, o modo econômico ou ecológico. Enquanto o carro tem garantia de três anos sem limite de quilometragem, o conjunto de baterias está coberto por oito anos ou 160 mil km.

 

Ao volante do Leaf

O percurso de apresentação à imprensa foi feito dentro de São Paulo, sem trajeto rodoviário. Dirigir o Leaf é muito simples. Liga-se o motor — que não emite qualquer ruído —, coloca-se a alavanca de transmissão em D e libera-se o freio de estacionamento, acionado por um anacrônico pedal à esquerda. No modo normal, tanto o pedal do acelerador quanto o de freio são usados, tornando-o mais parecido a um carro comum para o público em geral. Já o E-Pedal funciona muito bem e com pouco tempo de uso já é possível se acostumar. Essa tecnologia, associada à falta de ruídos e ao motor com respostas rápidas, transmite uma sensação agradável.

 

Interior parece de um carro a combustão, sem ousadias; há bom espaço para motorista e passageiros, mas o túnel central pronunciado incomoda o do meio

 

No modo Eco o sistema reduz a carga de energia aplicada ao motor de forma a obter cerca de 6% de economia. A sensação de desempenho não chega a ser prejudicada, pois o motor elétrico fornece seu torque máximo de 32,6 m.kgf de forma quase que instantânea – leva cerca de 0,1 segundo –, diferente dos motores a combustão, que necessitam ganhar rotações. Um desafio para os elétricos consiste em manter velocidades mais altas, pois o consumo de energia se torna muito maior e as baterias são bastante exigidas. No Leaf a velocidade não passa de 144 km/h.

 

 

Um ponto em que o novo Nissan deixa a desejar é na dinâmica das suspensões. Em movimentos de suspensão de alta frequência e baixa amplitude, sente-se um rodar mais duro e a transmissão de vibrações para a cabine – mal que afeta até modelos nacionais da marca, como o Kicks. Já nos movimentos longos e de baixa frequência, como lombadas e valetas, o Leaf se comporta bem e digere bem as imperfeições.

Seu espaço interno agrada para o motorista e os passageiros. O banco do condutor com regulagens manuais proporciona bom encaixe para o corpo, sendo uma falha a ausência de ajuste do volante em distância — para pessoas mais altas pode causar desconforto. No banco traseiro, por mais que a marca o apresente como carro de cinco lugares, o túnel central alto causa grande restrição ao ocupante do meio. Ponto curioso são as luzes de cortesia com lâmpadas comuns, que consomem mais energia e esquentam mais que as de leds, cada vez mais usadas. A capacidade de bagagem de 435 litros é muito boa para o tipo de carroceria.

Próxima parte

 

Seção digital na parte esquerda do quadro tem várias funções; central de áudio com tela de 8 pol e câmeras de 360 graus ao redor com vários modos de exibição

 

No quadro de instrumentos, a parte esquerda é uma tela com funções variadas como mostradores de carga das baterias, com tempo estimado para recarregar, e do controlador de distância. A central de áudio tem tela ampla, fácil uso e integração a celular. Ela mostra também as imagens das câmeras externas, que cobrem 360 graus ao redor e facilitam muito as manobras de estacionamento.

 

 

Dentro de sua proposta, o Leaf é um bom automóvel — o maior obstáculo é mesmo o preço. Na mesma faixa existem modelos com motor a combustão bem mais potentes e sofisticados e de marcas de prestígio, como o Mercedes-Benz A250 Vision (224 cv) por R$ 201.900. Um hatch de porte e potência semelhantes, como o Chevrolet Cruze LTZ, sai por R$ 110 mil e o híbrido Lexus CT 200H Luxury chega a R$ 166 mil. Mesmo sem gastar um só litro de combustível, de quantos anos precisaria o dono do elétrico para compensar tamanha diferença de preço, como a do Cruze, pela economia na rodagem?

Antes da adesão em massa ao carro elétrico, será preciso resolver outras questões. A principal é a rede de recarga, hoje com alguns pontos nas grandes cidades e no trajeto São Paulo-Rio de Janeiro. Recarregar em casa pode ser o suficiente para muitos donos, diante da boa autonomia, mas pode ser difícil a moradores de edifícios usar a energia comum das garagens para isso — e ainda mais fazer instalações especiais de grande demanda. Por fim, em viagens maiores, será inevitável perder algumas horas para o “abastecimento” que levaria alguns minutos com combustível.

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Motor elétrico dianteiro tem 149 cv e alto torque; baterias estão abaixo da cabine; seletor de posições e chave do E-Pedal, que acentua a regeneração e permite dirigir com um só pedal

 

Preço e equipamentos

Leaf (R$ 195 mil) – Alertas de tráfego cruzado traseiro e de veículo em ponto cego, ar-condicionado automático, assistente de faixa, banco traseiro bipartido (60:40), bancos dianteiros com aquecimento, bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina, câmeras externas para visão de 360°, central de áudio com integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, navegador e tela de 8 pol; computador de bordo, controlador de velocidade e distância à frente, controle eletrônico de estabilidade e tração, fixação Isofix para cadeira infantil, luzes diurnas de leds, monitor de atenção do motorista, monitor de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 17 pol.

 

 

Ficha técnica

Motor
Tipo síncrono de corrente alternada
Potência máxima 149 cv (110 kW) de 3.300 a 9.800 rpm
Torque máximo 32,6 m.kgf de 0 a 3.300 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas não tem
Tração dianteira
Bateria
Tipo íons de lítio
Capacidade 40 kWh
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 17 pol
Pneus 215/50 R 17
Dimensões
Comprimento 4,48 m
Largura 1,79 m
Altura 1,565 m
Entre-eixos 2,70 m
Capacidade e peso
Compartimento de bagagem 435 l
Peso em ordem de marcha 1.582 kg
Desempenho e autonomia
Velocidade máxima 144 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 7,9 s
Autonomia 389 km (padrão NDEC) ou 241 km (EPA)
Dados do fabricante

 

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