Aceleração instantânea e frenagem regenerativa são destaques do hatch, que assusta no preço: R$ 178.400
Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação
Se existe uma forma de definir o Nissan Leaf em apenas uma palavra, seria: silencioso. É fato que motores elétricos são silenciosos, mas até mesmo um carrinho de autorama produz algum ruído, mais parecido com um zumbido. No caso do Leaf (folha, em inglês, uma alusão ao respeito ambiental), que já admite encomendas pelo preço sugerido de R$ 178.400, o único som percebido em movimento vem do atrito dos pneus com o asfalto. Só.
Tivemos a chance de dirigir o mais novo Nissan do mercado brasileiro durante um evento no autódromo José Carlos Pace, no bairro de Interlagos, em São Paulo, SP. Contudo, por questão de logística foi montado um circuito de apenas 2 km com subida, descida e duas frenagens fortes para avaliar o sistema de freio regenerativo. Foi pouco para as impressões que estamos habituados a trazer ao leitor, mas suficiente para perceber algumas características.
A primeira sensação é efetivamente o silêncio. Se o motorista não olhar o painel não saberá se o sistema está ligado ou não. O nível de vibração também é zero. Nada. Não existe caixa de transmissão ou marchas: no console o motorista encontra um seletor que indica apenas P (parking) e, puxando para esquerda e para baixo, D (drive), além da ré. Para sair da imobilidade é preciso desativar o freio de estacionamento, que fica no pé esquerdo, como em algumas picapes — é curioso que, como o Toyota Prius, esse carro de alta tecnologia recorra a uma solução tão antiga.
Por fora é um hatch médio de linhas modernas; a tampa acima da falsa grade dianteira abre espaço para a recarga das baterias, que pode levar até 20 horas
Basta encostar no acelerador para começar a se mover sem que os ocupantes escutem qualquer tipo de vibração e ruído. Chega a ser intrigante. O motor síncrono de corrente alternada produz potência equivalente a 149 cv e torque de 32,6 m.kgf, similar ao de um motor turbo de 2,0 litros, só que disponível de forma instantânea. Assim, o Leaf obtém aceleração imediata com um empurrão decisivo nas costas e chega a 100 km/h em apenas 7,9 segundos, de acordo com a fábrica (um Volkswagen Golf turbo de 1,4 litro e 150 cv faz em 8,7 s). Mas o melhor vem na frenagem.
O motorista pode escolher entre dois modos de freios. Por meio de uma tecla no console opta-se pelo sistema E-Pedal (pedal eletrônico), que lembra o comando dos autoramas: basta aliviar o pé do pedal do acelerador que ele desacelera até parar, acentuando a ação do sistema regenerativo, em que a energia resultante da frenagem alimenta a bateria. Se não for suficiente, o motorista pode usar o pedal do freio e ativar um sistema convencional com discos e pastilhas. Assim, o maior desafio é tentar modular a frenagem apenas aliviando o acelerador, o que depois de algum tempo se torna natural. O grande benefício desse sistema é que, no trânsito intenso, elimina a necessidade de mudar o pé entre um pedal e outro.
Com capacidade de 40 kWh nas baterias, a Nissan anuncia autonomia de 389 km pelo padrão europeu NEDC (um ciclo com cerca de um terço de tráfego urbano e dois terços em rodovia) e 241 km pelo método da EPA norte-americana, com cerca de metade em cada tipo de uso. Uma recarga completa leva 8 horas em carregador doméstico de 6,6 kW e até 20 horas com cabo portátil. Há ainda uma recarga rápida em conexão de 50 kW, que refaz 80% da capacidade em 40 minutos.
Interior espaçoso lembra o do Kicks, com seção digital na parte esquerda dos instrumentos; alavanca simples e a chave do E-Pedal, que acentua a regeneração
No restante é um hatch médio convencional, pouco maior que um Golf, só que mais pesado — quase 1,6 tonelada. Não vamos entrar em detalhes de acabamento interno ou equipamentos, porque a versão avaliada veio do mercado norte-americano e a destinada aos brasileiros terá diferenças, mas a fábrica anuncia que o nosso terá sistemas como alerta de ponto cego e de tráfego cruzado na traseira, câmeras para formar imagem de 360 graus ao redor, controlador de distância à frente e alerta inteligente de mudança de faixa. O espaço interno do Leaf é bem amplo, assim como o porta-malas. No carro avaliado não havia estepe, mas um kit de reparo. O ambiente interno lembra o do Kicks, incluindo o quadro de instrumentos com uma tela multifunção na parte esquerda.
Com torque de 32,6 m.kgf disponível de forma imediata, o Leaf produz um empurrão decisivo nas costas e chega a 100 km/h mais rápido que um Golf 1,4
O Leaf é vendido em 51 países e já alcançou 380.000 unidades vendidas. Claro que as cidades precisam também se adaptar aos elétricos, com pontos de abastecimento em estacionamentos e outros locais. No Brasil temos eletropontos espalhados de São Paulo ao Rio de Janeiro e algumas estradas do Sul, mas estamos muito incipientes nessa tecnologia. Em termos de benefícios oficiais, há redução de 50% no IPVA e isenção de rodízio em São Paulo. Essas vantagens e o baixo custo por km compensarão o alto custo de aquisição? É a conta que precisa ser feita.
Os carros elétricos são vistos hoje como um bem inevitável e muito bem aceito entre o público masculino na faixa de 18 a 34 anos, segundo pesquisas da Nissan. Os mais velhos ainda sentem falta do ruído do motor a combustão, mas essa resistência natural a novas tecnologias tende a cessar com o tempo.
Motor elétrico fica na frente e as baterias abaixo da cabine; autonomia entre recargas varia de 241 a 389 km em circuitos-padrão, sendo a maior pelo método europeu
Uma das potencialidades do Leaf é a capacidade de funcionar como um acumulador de energia para uso doméstico. Ao adquirir o modelo é instalada uma estação na casa do proprietário, que pode não só abastecer as baterias do carro, como também transferir carga para a casa como um gerador de emergência. Nos Estados Unidos esse sistema tem sido usado, inclusive, para aproveitar as diferenças de preço da energia elétrica conforme o horário e a época do ano.
Além do Leaf, o evento permitiu ainda rodar no utilitário esporte X-Trail (faixa do Jeep Compass) com motor híbrido combustão/elétrico e no hatch Note com propulsão 100% elétrica, que usa um motor a combustão de 1,3 litro apenas para alimentar as baterias. A Nissan não confirma, mas o X-Trail tem chances de chegar ao mercado nacional, o que é pouco provável no caso do Note.
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Ficha técnica
Motor | |
Tipo | síncrono de corrente alternada |
Potência máxima | 149 cv de 3.300 a 9.800 rpm |
Torque máximo | 32,6 m.kgf de 0 a 3.300 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | não tem |
Tração | dianteira |
Bateria | |
Tipo | íons de lítio |
Capacidade | 40 kWh |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 215/50 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,48 m |
Largura | 1,79 m |
Altura | 1,565 m |
Entre-eixos | 2,70 m |
Capacidade e peso | |
Compartimento de bagagem | 435 l |
Peso em ordem de marcha | 1.582 kg |
Desempenho e autonomia | |
Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 7,9 s |
Autonomia | 389 km (padrão NDEC) ou 241 km (EPA) |
Dados do fabricante; podem variar na versão para o Brasil; ND = não disponível |