Poucos se preocupam com a pressão dos pneus, mas esse e outros
desleixos com o carro podem custar muito — e ainda deixar você a pé
De cada quatro motoristas, apenas um verifica ao menos uma vez por mês a pressão dos pneus de seu carro — foi o que apontou uma pesquisa revelada no ano passado pela Ford europeia e realizada na Alemanha, Espanha, França, Itália e no Reino Unido. Embora não se tenha conhecimento de estudo semelhante no Brasil, acredito que a estatística por aqui não seria muito diferente.
O desleixo com a pressão dos pneus pode custar caro: menos cheios do que deveriam, eles aumentam sua área de contato com o solo e ficam mais flexíveis, o que deixa o carro menos estável e eleva o consumo de combustível e o desgaste dos pneus. Para evitar esses problemas, basta verificar uma ou duas vezes por mês a pressão em casa ou após rodar pouco (a leitura será prejudicada se o pneu se aquecer muito no trajeto), conforme a indicação do fabricante do automóvel — nada de se basear na recomendação do frentista. Ao sair para uma viagem, verifique se o peso a bordo justifica passar à pressão indicada para carga máxima.
Se a correia de distribuição se romper,
a inércia pode levar pistões e válvulas a uma
colisão, com grandes prejuízos
Mas esse não é o único deslize que o motorista pode cometer em relação a seu fiel meio de transporte — e, por que não, de lazer e prazer para muitos de nós. Várias outras falhas e omissões de manutenção, além dos riscos de afetar a segurança e de levar a panes no trânsito ou em viagens, podem causar prejuízos bem mais altos que o valor gasto para cumpri-las de forma adequada: exemplos típicos de “barato que sai caro”.
• Alinhamento de direção: ao contrário do que muitos acreditam, a direção não “puxar” em linha reta não garante que esteja alinhada. O alinhamento envolve três parâmetros (convergência, câmber e cáster), que devem seguir as tolerâncias previstas pelo fabricante. Se não o fizerem, os pneus rodarão fora da posição prevista no projeto, o que tende a desgastá-los de modo prematuro, além de prejudicar a estabilidade. Alinhe a direção a cada 10 mil quilômetros ou após impactos mais severos, como em buracos. Se o carro tiver suspensão independente na traseira, é preciso verificar também as rodas desse eixo.
• Correia de distribuição: mais conhecida como correia dentada, ela leva movimento do virabrequim ao comando de válvulas, uma função muito importante. Com o tempo, seu desgaste pode chegar ao ponto de ruptura: além de imobilizar o carro, a inércia dos componentes do motor em movimento pode levar pistões e válvulas a colidirem, com grandes prejuízos. Não corra o risco: troque a correia no intervalo prescrito pela fábrica, em geral em torno de 50 mil km, e verifique-a ao comprar um carro usado — alguns modelos usam corrente, mais robusta.
• Filtro de cabine: grande parte dos carros com ar-condicionado traz um elemento filtrante para evitar a entrada de poeira e pólen (que pode causar alergia em alguns) na cabine. Um filtro sujo não é apenas desfavorável à saúde: sua saturação prejudica o fluxo de ar para o sistema e seu desempenho, o que leva o motorista a usar maior intensidade ou solicitar menor temperatura pelos comandos. Com isso, aumentam o consumo de combustível e o desgaste do sistema. Troque o filtro, em média, a cada 20 mil km.
• Fluido de freio: um item bastante negligenciado. O fluido é higroscópico, ou seja, absorve umidade do ar. Isso abaixa seu ponto de ebulição (fervura), o que pode deixar o carro sem capacidade de frenagem em uma situação de uso extremo, como descida de serra; além disso, a umidade colabora para a corrosão dos componentes do sistema de freio. Evite problemas trocando o fluido a cada dois anos — a distância percorrida não importa.
Não deixe acabar o material de atrito
das pastilhas: o contato de metal com metal
risca os discos a ponto de condená-los
• Lubrificantes: o motor precisa de óleo de boa qualidade, na especificação correta e no nível certo para apresentar durabilidade normal. Para isso, verifique o nível pelo menos a cada 1.000 km, antes de ligar o motor ou cinco minutos após desligá-lo (o óleo precisa descer para o cárter para a leitura correta) e sempre em piso plano. E substitua o lubrificante no intervalo determinado pelo fabricante — outra vez, não interessa o que diz o posto de combustível —, respeitando sua especificação e o limite de tempo, no caso de baixa distância percorrida por ano, sem esquecer o filtro. O câmbio manual costuma ter lubrificante longa-vida, que dispensa troca, mas caixas automáticas requerem sua substituição em prazos entre 50 e 100 mil km na maioria dos casos.
• Pastilhas de freio: trata-se de componente de durabilidade muito variável, conforme o modelo do carro e as condições de uso — já vi casos de 20 mil e de mais de 100 mil km. Embora a capacidade de frenagem seja preservada durante a vida útil das pastilhas, cabe verificá-las de tempos em tempos para assegurar a troca antes que se acabe o material de atrito: quando isso acontece, o contato de metal com metal risca os discos a ponto de condená-los, o que onera em muito a reposição. Alguns carros têm aviso no painel para pastilhas desgastadas, mas são raros. E não se esqueça das lonas ou das pastilhas traseiras, conforme o tipo de freio, tambor ou disco.
• Sistema de arrefecimento: mesmo que o carro não baixe o nível de líquido, é preciso substituí-lo (a cada 30 a 50 mil km, em geral) para manter suas propriedades. Um líquido com ferrugem, baixa concentração do aditivo à base de etilenoglicol e adição de água de torneira, que contém cloro e outros minerais, não protege o motor da ebulição do líquido (quando o motor “ferve”) e da corrosão do sistema. Use aditivo apropriado e água desmineralizada em proporção 50:50 ou como indicado no manual do carro.
• Velas de ignição: aprimoramentos nesse componente e nos sistemas de injeção e ignição permitiram alongar o intervalo entre as trocas, que já chega a 100 mil km em algumas marcas, mas em outros casos é de apenas 20 mil km. Confira seu caso no manual e respeite o prazo: usar as velas além da vida útil normal não compensa, pois o consumo de combustível aumenta muito. Em caso de falha total do componente em um dos cilindros, os riscos são bem maiores: o combustível não queimado pode danificar o catalisador, muito mais caro que um simples jogo de velas.
Editorial anterior |