Pesquisa prévia, análise sem pressa e cuidado com as arapucas são importantes para gastar menos no novo automóvel
O mercado de automóveis anda favorável ao comprador. Com vendas combalidas pela crise econômica que demora a terminar, fabricantes e suas concessionárias fazem de tudo para você levar um novo carro para casa. Tudo mesmo?
Nem sempre. Como em qualquer negócio, a “cara do freguês” e seu entusiasmo pelo produto podem ser decisivos para um bom ou mau negócio. Se o mercado não está comprando, surge a oportunidade de ser mais exigente na negociação. Vamos a algumas dicas.
• Pesquise antes de sair de casa. Se você já escolheu o carro que deseja ou estreitou o leque a poucas opções, faça uma cotação dos preços praticados na internet — há diversos sites com anúncios de concessionárias e lojas independentes. Em tempos como os atuais, modelos menos procurados chegam a obter descontos substanciais em relação ao valor sugerido pelo fabricante. Sem saber os preços praticados, você poderia se impressionar com uma proposta nem tão boa assim.
Os vendedores têm interesse em “empurrar” um carro mais caro e com maior percentual financiado: conheça as versões e opcionais antes e avalie o que será útil

• Dirija. Embora limitadas em condições e tempo, as avaliações ao volante (test-drives) oferecidas pelas concessionarias são importantes para confirmar — ou não — suas expectativas sobre como é dirigir o carro. Por mais completas que sejam avaliações como as do Best Cars, sempre há fatores pessoais na satisfação ao volante: o melhor carro para um pode não ser ideal para outro. Encontre o seu.
• Cuidado com falsas promoções. Sobre o famoso “juro zero”, lembre que não existe almoço grátis: se o carro é vendido a prazo sem acréscimos ao preço sugerido, é porque poderia ser comprado à vista por menos. Como a fábrica não tem conseguido o “preço cheio” naquele automóvel, existe margem para mais negociação. Desconfie também de ofertas como “transmissão automática grátis”: sinalizam que, se você quiser a versão de caixa manual, conseguirá um valor bem mais baixo que o sugerido.
• Feirão não garante bom negócio. Pode ser interessante se houver diferentes marcas no mesmo local e estrutura para dirigir os carros, mas afaste a noção de que pagará menos: é bem provável que, debaixo de sol, o preço seja o mesmo que no conforto da concessionária. E, se levar a família, você ainda pode ser conduzido a uma compra apressada pela impaciência das crianças que queriam um programa melhor para o fim de semana.
• Defina o que realmente quer. Os vendedores têm interesse em “empurrar” um carro mais caro e, ainda mais, que aumente o percentual financiado do valor. Conheça as versões e os opcionais disponíveis antes, pela internet, e avalie o que será útil ou apenas “perfumaria”. No segundo caso, insista na loja em conhecer a versão de menor preço, que talvez lhe satisfaça tanto quanto a outra.
• Atenção com o usado na troca. É comum alguém contar que preferiu certa loja ou marca porque obteve melhor preço no carro entregue como parte do pagamento. Contudo, isso só constitui vantagem se o automóvel adquirido for idêntico em ambos os casos. Entre modelos e marcas diferentes, um preço elevado para o novo pode ser mascarado na suposta valorização do usado.
• Fazer reparos ou não? Se seu carro entrará no negócio, não se preocupe em consertar riscos, pequenos danos ou mandar lavar motor e interior: o aspecto afeta o interesse do comprador particular, mas nada vale para o lojista. Ele sabe muito bem quanto custará deixar seu carro com boa aparência para revender — e tal custo lhe será menor que para você, pois ele dispõe de estrutura interna ou de parcerias para os reparos.
• É possível encontrar à venda carros zero-quilômetro fabricados em 2016, sobretudo importados, os chamados 16/17. Considere essa opção se for por menor preço que o do modelo idêntico feito neste ano (17/17): na hora da revenda, o que vale é o ano-modelo — 2017 em ambos os casos.
É mais prático retirar o carro da concessionária emplacado, com filme nos vidros e outros acessórios, mas serviços e equipamentos são muito mais caros lá que no mercado

• E quanto a um modelo 16/16 em estoque? Nesse caso, leve em conta quanto tempo espera ficar com o automóvel. Para quem troca todo ano, por exemplo, essa opção só compensa com desconto de pelo menos 15% em relação ao 17/17. Já o comprador que ficará quatro ou cinco anos pode fazer boa compra com desconto de 10%, pois até lá a diferença entre o 16/16 e o 17/17 será pequena. Isso, claro, se não houver grandes alterações entre os modelos em questão.
• As concessionárias mantêm carros para avaliação de clientes, em particular nos lançamentos. Não custa perguntar por eles: em geral estão pouco rodados e são oferecidos a preços atraentes. Além disso, garantia e plano de manutenção só começam a contar quando o carro passa ao consumidor final, ou seja, nesse aspecto é como comprar um zero.
• Cuidado com acessórios e serviços. É certamente mais prático, nesses dias corridos, retirar o carro da concessionária emplacado, com filme nos vidros e outros acessórios que se pretenda colocar — mas essa conveniência tem um preço. Serviços e equipamentos são muito mais caros nas revendedoras que no mercado. Com algum tempo e paciência, fará boa economia ao recusar as ofertas e deixar para depois.
• Garantia estendida e revisões. Vários fabricantes hoje oferecem planos de extensão de garantia e pacotes de revisões pagos na hora da compra. Informe-se das opções disponíveis para o carro desejado, ainda em casa, e analise se vale a pena. Garantia adicional pode ser mau negócio se você vender o carro antes. Mesmo que não o faça, considere que terá de manter o plano de revisões em concessionária por mais tempo, um custo que nem sempre compensa.
• “É só amanhã”, diz o conhecido anúncio de TV. Não, não é. Carros sobem e caem de preço conforme a demanda, que demora a mudar. Se a negociação não lhe parece ideal, continue a procurar. Se o oferta soa ótima, estude sem pressa: ela estará disponível, na mesma loja ou em outra, depois de amanhã também.
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