Nomes de carros: a natureza, a astronomia e a mitologia

Ventos e nuvens, eclipses e constelações, deuses e mitos também rendem ideias para denominar os automóveis

Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação

 

Animais, lugares, esportes, barcos e aviões são alguns temas usados pela indústria para dar nome aos carros, tratados nos três artigos anteriores da série. Mas existem outras fontes como os fenômenos e elementos da natureza, a astronomia, a astrologia e a mitologia. Conheça alguns casos no Brasil e no exterior nesta quarta parte.

 

Ventos compartilhados: Maserati e Volkswagen usaram Bora (foto maior) e duas denominações para o siroco, Ghibli na marca italiana e Scirocco na alemã

 

Nesse tema, os ventos parecem ser a maior fonte de nomes. Bora, um vento seco e frio que sopra no mar Adriático, foi usado por duas marcas: a Maserati italiana em um esportivo e a Volkswagen em um dos sedãs derivados do Golf. Há outro emprego por ambos os fabricantes: siroco, um vento quente e muito seco que sopra do deserto do Saara. A Maserati usou o nome árabe, Ghibli, e a Volkswagen, a grafia italiana Scirocco.

 

 

Vários outros Maseratis recorreram a esse tema. Khamsin é um vento quente, seco e arenoso que sopra na África; Mistral vem de um vento que desce a encosta; Shamal, um que sopra sobre o Iraque e o golfo Pérsico e cria grandes tempestades de areia; Levante, um vento do Estreito de Gibraltar; e Karif, um que sopra para o oeste através do Golfo de Áden, perto da Somália.

 

Outros ventos sopraram na VW, como Passat e Santana, e até na Pagani com o Zonda

 

Na Volkswagen, outros casos foram o Passat, nome de ventos alísios, e o Santana, um vento forte e seco da Califórnia. O próprio Golf tem origem controversa: embora golfe seja um esporte, alguns alegam que o nome vem de Gulf Stream (corrente do Golfo), uma corrente marítima rápida e quente do Oceano Atlântico que tem origem no Golfo do México e chega à Europa.

Na marca de supercarros Pagani, a origem do nome Zonda é uma corrente quente que sopra pela Argentina, terra natal do fundador Horacio Pagani. A Ford inglesa e a Mercury norte-americana (do mesmo grupo) usaram Zephyr, um vento quente e ocidental. E não se pode esquecer o uso do nome Wind (vento em inglês e alemão) em um pequeno roadster da Renault, que teve breve produção, e na marca chinesa Land Wind, além de ter sido versão do Chevrolet Corsa.

 

A natureza rendeu nomes tranquilos como Marea (maré) e outros turbulentos, como na Syclone e no Typhoon da GMC (à esquerda); já Onix vem de uma pedra

 

Ainda no setor de fenômenos naturais, a Chrysler lançou em 1995 a série de “carros-nuvem”: o de sua marca era chamado Cirrus, e o da divisão Dodge, de Stratus. A marca Plymouth oferecia o Breeze, que significa brisa. A Fiat usou Marea, que em italiano significa maré, mesmo significado da palavra inglesa tide, que levou ao nome do Nissan Tiida. Para um belo conversível a alemã Opel escolheu Cascada, cachoeira em espanhol. A Chevrolet chamou de Avalanche uma picape norte-americana nos anos 2000. A inglesa Rolls-Royce fez vários nomes com o prefixo Silver, ou prateado, como Silver Cloud (nuvem de prata) e Silver Dawn (amanhecer prateado).

 

 

Mesmo fenômenos intensos e destrutivos da natureza podem aparecer nos carros. A Chevrolet aplicou Tornado à picape Montana brasileira quando vendida no México. A primeira S10 norte-americana teve a versão esportiva GMC Syclone (ciclone) e o Blazer da época deu origem ao GMC Typhoon (tufão). No Brasil, Tufão era uma série mais potente do sedã Simca nos anos 60. Outra fonte de nomes está em elementos naturais como pedras. A Chevrolet usou Onix, uma variedade semipreciosa de quartzo, e Opala, uma pedra de sílica que pode ter várias cores juntas. O Cullinan da Rolls-Royce inspira-se no maior diamante bruto já encontrado, um bom nome para o nobre e imenso SUV.

 

Olhe para o céu para encontrar a origem dos nomes Astra da Opel e Eclipse da Mitsubishi (em uso há 30 anos), assim como a do SUV Equinox da Chevrolet

 

Entre os relacionados à astrologia, logo vêm à mente dois Chevrolets: Astra, o hatch da Opel alemã que também foi feito aqui, e Astro, minivan fabricada nos EUA. Outros exemplos são Cosmo, da japonesa Mazda, e Galaxie ou Galaxy — grafado das duas maneiras —, que significa galáxia e foi usado em vários modelos da Ford. A marca Mercury, também da Ford, vem do planeta Mercúrio e um de seus modelos era o Meteor (meteoro). Outro asteroide é Galante, que deu origem ao Mitsubishi Galant. Na mesma marca, o esportivo Eclipse e o SUV Eclipse Cross lembram o fenômeno de interposição entre Terra, Sol e Lua.

A Ford usou ainda nomes de constelações como Orion no antigo Escort sedã na Europa, Scorpio (Escorpião) em um modelo europeu maior e Taurus (Touro) no sedã norte-americano feito por longo tempo. O Sol foi tema para alguns carros: a Nissan fabricava o Sunny, ou ensolarado, e na Toyota o nome Corona veio do anel de luz que fica em torno da grande estrela. Dois fenômenos solares inspiraram a GM nos Estados Unidos: o SUV Equinox vem do equinócio, quando o Sol cruza a linha do Equador projetada na esfera celeste, e o esportivo Solstice (da extinta marca Pontiac) se referia ao solstício, quando o Sol atinge sua maior declinação.

 

O nome Argo vem de embarcação da mitologia grega, que rendeu dois sedãs para a Volkswagen: o do luxuoso Phaeton (à esquerda) e o de nosso Apollo

 

Muitos são os nomes inspirados na mitologia, como em alguns Fiats. Argo, nas lendas gregas, foi a embarcação construída para que Jasão e os argonautas viajassem em suas aventuras. O sedã Cronos, pela mesma mitologia, pode vir da personificação do tempo ou do mais jovem dos titãs. Outro Fiat, a minivan europeia Ulysse, se inspirava no nome romano de Ulisses, herói da literatura grega antiga.

 

 

Na Volkswagen, o sedã de luxo Phaeton inspira-se no filho do deus do Sol, enquanto o modelo chinês Phideon foi baseado no nome de Fides, deus romano da confiança, e Apollo — sedã brasileiro clonado do Ford Verona — era o deus grego do Sol, da música e da poesia. O Jetta na China chama-se Sagitar, do signo Sagitário, a criatura que é meio homem e meio cavalo. Na mesma marca, o conversível Eos tinha o nome da deusa grega do amanhecer, enquanto o SUV Atlas inspira-se no titã da mitologia grega que foi condenado por Zeus a sustentar os céus para sempre.

 

Yaris vem de um mito grego, mas com outro começo; Thunderbird (à esquerda) era o pássaro-trovão para alguns índios; Huayra deriva de um deus peruano

 

Clio, da Renault, é o nome da deusa grega da História. Yaris, segundo a Toyota, foi inspirado em Charis, símbolo de beleza e elegância na mitologia grega — a sílaba inicial ya em alemão significa “sim” ou aprovação. Firebird, o esportivo da Pontiac, era o pássaro de fogo na mitologia russa. Também norte-americanos eram o Ford Thunderbird ou pássaro-trovão, que para alguns povos indígenas tinha o poder de fazer trovoar, e o Buick Electra, nome da princesa na mitologia grega. Triton, da picape Mitsubishi, vem do deus marinho Tritão.

Até supercarros recorrem aos mitos. O nome Huayra da Pagani vem de Huayra-tata, deus peruano do vento. E Huracán da Lamborghini, que significa furacão em espanhol, é o deus maia do vento, do fogo e da tempestade — nome aplicado a um touro de 1879 que, como de hábito, foi a inspiração para a marca italiana.

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