Cadillac Seville, o luxo em versão concentrada

 
Enquanto abandonada a traseira polêmica em favor de linhas tradicionais, o
terceiro Seville surgia para 1986 com menores dimensões e suspensão mais firme

 

Para a Popular Mechanics, o Seville 1980 estava “tecnicamente muito acima da maioria dos rivais da classe de luxo e, talvez, de cinco a sete anos à frente do automóvel médio fabricado nos EUA”. Outra revista, a Popular Science, comparou o modelo de 1982 ao Lincoln Continental e ao Chrysler New Yorker. O Cadillac desempenhou bem em espaço interno, nível de ruído e conforto de marcha, embora tenha ficado atrás do Lincoln em aceleração e perdido para o Chrysler em visibilidade e economia. O motor V8 de alumínio com injeção eletrônica monoponto “ganha velocidade suave e instantaneamente. O Seville, em geral, roda como um carro mais pesado que os concorrentes. E há muito mais espaço no banco traseiro que na primeira versão”.

O Cadillac seria a escolha do editor: “Seu alto preço, estilo diferenciado e excessiva ornamentação interna apelam para meu lado esnobe. Pela face prática, prefiro sua tração dianteira pelo espaço que fornece ao compartimento de passageiros e a sensação de solidez da direção em alta velocidade. A suspensão traseira independente pode não fazer uma diferença notável no uso do dia a dia, mas evidencia que a Cadillac é séria sobre dar o próximo passo para oferecer a seus clientes o melhor em tudo”.

Reduzido de fato

Quando muitos carros norte-americanos encolheram ao nível europeu ou japonês nos anos 80, o Seville finalmente fez jus à classificação de compacto para os padrões dos Estados Unidos. Mais curto em 42 cm e mais leve por 170 kg, o modelo 1986 repetia a coluna traseira bem vertical de 1975, tinha bom coeficiente aerodinâmico (Cx), 0,37, e dividia o projeto com o novo cupê Eldorado com motor transversal — Buick Riviera e Oldsmobile Toronado também compartilhavam a plataforma.

 

 
Freios ABS, telefone celular e controle eletrônico de altura da suspensão já vinham
no modelo 1986; em 1991 (foto) o motor V8 passava a ter 4,95 litros e 200 cv

 

Oferecia caixa automática de quatro marchas com alavanca no console, freios a disco nas quatro rodas, eletrônica farta. A suspensão traseira usava molas semielípticas transversais de plástico e fibra de vidro e um sistema eletrônico para nivelamento automático. A ampla gama de opcionais passava por freios antitravamento (ABS), telefone celular, retrovisor interno fotocrômico, sistema de áudio Bose e pintura em dois tons. Embora o requinte e o tamanho fossem coerentes com a proposta original do Seville, já havia outro modelo no papel do menor da linha: o malsucedido Cimarron, uma versão com acabamento Cadillac — e quase nada além — do Chevrolet Cavalier que ajudou a desacreditar ainda mais a marca.

 

O Seville 1986 não fez sucesso, e parte da explicação estava na semelhança de linhas com modelos bem menos caros da corporação: era difícil apontar qual fosse qual sem olhar os logotipos

 

Na avaliação da Popular Mechanics, o novo carro destacou-se em conforto de marcha, nível de ruído (“a Cadillac estabelece a referência”), direção (“boas respostas e sensações da estrada para um carro de luxo”), bancos (“conforto ao toque de um botão; o assento traseiro acomoda três adultos”) e capacidade de bagagem. Os pontos menos elogiados foram a aceleração do motor 4,1 e o consumo de combustível.

“A Cadillac fez um bom trabalho na suspensão para lhe dar a sensação de seus competidores no mercado. O controle de direção é preciso e rápido para um Cadillac. A fábrica conseguiu incorporar as refinadas características de comportamento de carros menores. A estabilidade da suspensão básica é superior à da suspensão Touring opcional do modelo 1985”, elogiou a revista, que concluiu: “São carros tradicionais o bastante para atrair o conservador cliente Cadillac, e talvez esportivos e orientados ao desempenho o suficiente para ter apelo com o novo consumidor voltado à imagem de hoje”.

 

 
A sigla STS identificava um Seville com apelo mais jovial, sem tantos cromados
e com mais potência no motor de 4,5 litros; a denominação sobreviveria ao modelo

 

Por melhor que fosse, o Seville 1986 não fez sucesso: as vendas despencaram de 39.755 para 19.098 unidades. Parte da explicação estava na semelhança de linhas com modelos bem menos caros da corporação. Uma matéria da revista Newsweek acerca do declínio da GM mostrava, traseira contra traseira, um Seville de US$ 27 mil e um Oldsmobile Calais de um terço do preço — era difícil apontar qual fosse qual sem olhar os logotipos.

 

 

O quadro pouco melhorou até surgir a versão esportiva STS (Seville Touring Sedan), em 1988, com o novo V8 de 4,5 litros dotado de coletor de admissão variável com dois estágios, 155 cv e 33,1 m.kgf. Já havia uma suspensão mais firme (a Touring) opcional, mas era a primeira vez em que o modelo vinha com visual mais jovial, sem tantos cromados. Em todo Seville, capô e grade redesenhados buscavam obter uma identificação mais fácil de que ali estava um Cadillac. Volante regulável em altura e distância e controlador de velocidade agora vinham de série.

No ano seguinte as novidades estavam no para-brisa ElectriClear, dotado de aquecimento interno para se desembaçar, e na opção de imobilizador do motor por meio de chave codificada. A linha 1990 trazia injeção multiponto para o V8, que assim passava a 180 cv e 33,9 m.kgf, e bolsa inflável de série para o motorista. O motor revigorado só durou um ano no Seville, que no modelo seguinte adotava a unidade de 4,95 litros com 200 cv e 37,9 m.kgf, ainda com comando no bloco, associada a uma caixa automática com controle eletrônico.

 

 
Harmonia de linhas era certamente um atributo do Seville de quarta geração, de
1992; a versão SLS, acima, trazia bolsa inflável e ABS e estava 30 cm mais longa

 

O Northstar e o OnStar

Na geração de 1992 o Seville, mais largo e cerca de 30 centímetros mais longo, voltava a impressionar pela elegância. A coluna traseira inclinada abria mão de sua forma característica para um perfil mais harmonioso e moderno. Mantinha o V8 de 200 cv e trazia de série freios ABS e bolsa inflável para o motorista. No interior, um pacote esportivo opcional reposicionava a alavanca de câmbio no console — o habitual era que viesse na coluna de direção — e substituía os instrumentos digitais por analógicos. O STS vinha ainda com acabamento externo mais sóbrio, direção e suspensão recalibradas e bancos revestidos em couro.

O elogiado Northstar V8 de 4,6 litros com bloco de alumínio, duplo comando nos cabeçotes e quatro válvulas por cilindro, que desenvolvia 295 cv e 40 m.kgf, elevava ainda mais seu moral em 1993. Chegavam também a bolsa inflável frontal para o passageiro e, para o STS, controle de tração e suspensão com gerenciamento eletrônico dotado de três níveis de amortecimento — Comfort, Normal e Sport. Um ano mais tarde o Seville Luxury Sedan (SLS) adotava o Northstar em configuração mais “mansa”, com 270 cv, e os controles de tração e suspensão eram estendidos a todo Seville.

Próxima parte

 

Para ler

Cadillac at 100: Legacy of Leadership – 1902-2006 – por Maurice D. Hendry, editora Automobile Heritage. Se faltam livros dedicados ao Seville, há boas obras sobre a história da Cadillac, marca mais que centenária. Este, com 560 páginas e 230 fotos em cores, diz cobrir “todos os modelos, todos os eventos e todos os períodos”. Publicado em 2008.

The Cadillac Story: The Postwar Years – por Thomas Bonsall, editora Stanford General Books. De 2003, o livro cobre o período pós-guerra de uma marca inovadora, mas que enfrentou séria crise nos anos 80. Considera que, de certa forma, essa é a história da própria indústria automobilística norte-americana. São 240 páginas.

Standard Catalog of Cadillac – 1903-2005 – por John Gunnell, editora Krause Publications. Muitos dados técnicos e descrições de modelos, versões e anos é o que trazem as 400 páginas desse livro, já na terceira edição e agora toda em cores. Gunnell tem também materiais similares sobre Pontiac, motores V8 e “carros musculosos”, entre outros.

Cadillac: 110 Years – editora Assouline. Gosta de novidades? O livro de 192 páginas acaba de ser lançado nos EUA com 110 anos de história da marca. São mais de 200 fotos em cores e artigos sobre personalidades ligadas à Cadillac, como Elvis Presley e Bruce Springsteen.

Cadillac: A Century of Excellence – por Robert Leicester Wagner, editora MetroBooks. A obra de 2002 aborda em 160 páginas o primeiro século de história da marca.

 

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