Chevrolet Monte Carlo, “carro pessoal” que foi às pistas

Chevrolet Monte Carlo 1972

 

A proposta original era oferecer conforto aos apreciadores de cupês, mas ele sobressaiu também nas provas da Nascar

Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação

 

Grandes cupês e conversíveis, também conhecidos como “carros pessoais”, são uma instituição tradicional na indústria norte-americana. Desde que a Ford a inaugurou com o Thunderbird de quatro lugares, em 1958, pertenceram a essa categoria modelos luxuosos, como o Cadillac Eldorado e o Lincoln Mark, e outros mais acessíveis como o Buick Riviera, o Mercury Cougar e o tema deste artigo: o Chevrolet Monte Carlo, produzido em duas fases entre 1970 e 2007.

O Monte Carlo foi apresentado em 1969 com arquitetura tradicional — carroceria sobre chassi, motor V8 dianteiro, tração traseira — e linhas sóbrias, com capô longo, faróis circulares e curvas sutis nos para-lamas. Derivado da plataforma A da General Motors, esse “primo” do Pontiac Grand Prix e do Oldsmobile Cutlass Supreme media 5,25 metros de comprimento e 2,95 m entre eixos. O nome vinha da charmosa cidade do Principado de Mônaco.

O motor básico era o V8 de 350 pol³ (5,75 litros) com carburador de corpo duplo e potência bruta de 250 cv, mas havia grande leque de opções: o mesmo 350 com carburador quádruplo (300 cv), o V8 400 de 6,5 litros com carburador duplo (265 cv), o Turbo Jet 400 com carburador quádruplo (um projeto distinto, na verdade com 402 pol³ ou 6,6 litros e 330 cv) e o SS 454, um V8 de 7,45 litros e carburador quádruplo (360 cv). Havia escolha entre câmbios manuais de três e quatro marchas e automáticos de duas e três marchas e ofertas de rodas especiais, suspensão mais firme, bancos com ajuste elétrico e ar-condicionado.

 

1970
1972

 
Tração traseira e motores V8 de até 360 cv brutos formavam o modelo inicial; nos primeiros anos, alterações limitadas a detalhes (no alto um 1972)

 

Na revista Popular Science o Monte Carlo de 360 cv foi comparado a Thunderbird, Riviera, Grand Prix e Oldsmobile Toronado: “Seu estilo o diferencia de outros modelos Chevrolet. Ele provou-se em seu elemento no circuito de corridas — é um carro fácil de dirigir rápido. Teve desempenho adequado em todos os testes, mas não nos empolgou. O acabamento interno similar ao do Chevelle é inferior ao dos outros carros”. Na aceleração de 0 a 96 km/h o Chevrolet (7,85 segundos) só ficou atrás do Pontiac (7,3 s).

 

A versão SS tinha frente diferenciada e motor V8 de 5,0 litros e 175 cv; outra opção era o teto T-Top, com painéis removíveis sobre os bancos dianteiros

 

Sem alterações de monta, o modelo 1971 adotava o padrão líquido de medição de potência, que fez os valores caírem para 165 e 175 cv nas versões do V8 350, para 260 cv no V8 400 com carburador quádruplo e 285 cv no V8 454 com quádruplo. O Monte Carlo assumia a representação da Chevrolet nas corridas da Nascar, papel que cumpriria até 1989. A grade dianteira mudava para 1972, quando o pacote SS e o câmbio de quatro marchas deixavam o catálogo.

O Monte Carlo de segunda geração, lançado para 1973, crescia para 5,40 metros (o entre-eixos era mantido) e adotava linhas mais ousadas, com acentuado declínio do vinco lateral na região das portas. Em vez do padrão hardtop sem coluna central, o cupê aderia ao estilo Opera, com estreitas janelas laterais traseiras. A versão Landau trazia teto revestido em vinil na parte posterior, que simulava uma capota conversível, e rodas especiais. Por dentro, painel envolvente e escolha entre banco inteiriço e dois individuais. Os motores eram o V8 350 (145 cv com carburador duplo, 175 com o quádruplo) e o Turbo Jet V8 454 (245 cv com o quádruplo). Pneus radiais eram novidade.

 

Landau 1973
1975

 
Vinco lateral em declínio e janelas Opera vinham no Monte Carlo 1973; o motor 454 de 7,45 litros permanecia a opção de topo

 

Grade, lanternas e para-choque traseiro eram revistos no ano seguinte, quando o motor V8 400 retornava com 150 ou 180 cv, conforme o carburador aplicado. Outra grade, ignição eletrônica no motor e catalisador no escapamento vinham em 1975. O modelo subsequente ganhava quatro faróis retangulares (dois sobrepostos de cada lado) e um motor menor, o V8 305 (5,0 litros) com carburador duplo e 140 cv, bem-vindo diante da crise do petróleo. Os 350 e 400 permaneciam, mas o 454 era abolido. Todo “Monte” agora vinha com caixa automática. Para 1977 até mesmo o V8 400 desaparecia; grade e lanternas mudavam outra vez.

Embora o vinco lateral descendente do Monte Carlo 1978 lembrasse o dos anteriores, essa era a terceira geração, toda redesenhada, no mínimo 320 kg mais leve (pesava a partir de 1.457 kg) e mais compacta (5,09 m de comprimento, 2,74 m entre eixos), mas com espaço interno ampliado. Pela primeira vez a Chevrolet oferecia nele um motor V6, o Buick 231 de 3,8 litros com 105 cv, e o câmbio manual de três marchas voltava a ser a base da linha. O Chevrolet V8 305 com 145 cv, um manual de quatro marchas e um automático de três eram opcionais.

Se apenas grade e lanternas identificavam por fora o modelo seguinte, sob o capô havia novidades: o motor Chevrolet V6 de 200 pol³ (3,3 litros), o V8 267 (4,4 litros) e uma versão de 160 cv do V8 305. Quatro faróis voltavam a equipá-lo para 1980, quando aparecia outro V6 da Chevrolet (o 229 de 3,75 litros) e uma opção do V6 231 com turbo e 170 cv. Outra vez não havia câmbios manuais disponíveis, por desinteresse dos compradores.

 

Landau 1976
1978
1978
1978

 
Faróis retangulares vinham em 1976; dois anos depois, um completo redesenho deixava o cupê menor e pelo menos 320 kg mais leve

 

Uma reestilização deixava o Monte Carlo mais atual para 1981, com para-choques mais integrados e lanternas traseiras verticais. Ele continuava com a plataforma A, a mesma de Grand Prix, Cutlass e do Buick Regal, e com os motores de antes, mas tanto o V6 231 aspirado quanto o turbo eram descartados no ano-modelo seguinte — em contrapartida estreavam dois motores a diesel, o V6 de 4,3 litros e o V8 de 5,75 litros, ambos de desempenho e confiabilidade questionáveis. Outra opção era o teto T-Top, com barra estrutural no centro e painéis removíveis sobre os bancos dianteiros.

A Popular Science comparou o V6 Turbo de 1981 ao Chrysler Cordoba, o Thunderbird e o Cutlass. Bem mais potente, o “Monte” sobressaiu em aceleração e foi elogiado em estabilidade e conforto de marcha: “Ele pretende aliar economia de seis cilindros em uso moderado e potência de V8 quando necessário. Conseguiu se equiparar ao Cordoba em 0-96 km/h e ainda ser econômico, mas o uso frequente do turbo eleva o consumo. O Monte Carlo é atraente, confortável e com ótima posição de dirigir e foi muito bem nos testes de desempenho, exceto pela frenagem”.

A versão SS estava de volta para 1983, com frente diferenciada, para-choques na cor da carroceria e defletor traseiro, além de motor V8 de 5,0 litros e 175 cv de série. No ano subsequente o SS recebia as opções de novo câmbio automático de quatro marchas e de bancos individuais. Em 1985 vinham alterações nos motores: chegava o V6 de 4,3 litros com injeção monoponto (130 cv) e o V8 5,0 estava mais potente (165 cv ante 150), com opção pelo High Output de 180 cv. O V6 229 a gasolina e o V8 5,75 a diesel saíam de cena.

 

1981
1981
1985
1986

 
Em 1981 ele ganhava motores a diesel e perdia o V6 turbo; o teto T-Top tinha painéis removíveis; mudanças menores nos anos seguintes

 

Com nova legislação sobre faróis, a Chevrolet remodelava os do Monte Carlo 1986 na versão Luxury Sport, que vinha com frente própria e outros para-choques e lanternas. Mais ousado era o Aerocoupe, com vidro traseiro mais inclinado e defletores — um especial de homologação para a Nascar com apenas 200 unidades vendidas. O modelo 1988, último dessa geração, já não oferecia o Aerocoupe. Dali em diante o cupê Lumina substituía o “Monte”.

Depois de sete anos de ausência, o Monte Carlo voltava ao mercado em 1995 atualizado com as novas tendências, com estrutura monobloco, motor V6 transversal e tração dianteira. Com plataforma comum ao sedã Lumina (assim como o Grand Prix, o Cutlass Supreme, o Regal e outros modelos da GM), media 5,10 m de ponta a ponta e 2,73 m entre eixos. As linhas estavam suaves e arredondadas. Dessa vez sua produção era no Canadá, não mais nos EUA.

 

 

Dois motores estavam no catálogo: de 3,1 litros e 160 cv na versão LS e de 3,4 litros com duplo comando de válvulas e 215 cv para o mais esportivo Z34 — ambos V6 com câmbio automático de quatro marchas. O Z34 foi oferecido na série limitada Brickyard 400 Pace Car, com faixas decorativas, carroceria e rodas em branco e revestimento em couro. Sem grandes alterações, essa geração ganhava em 1998 o motor V6 de 3,8 litros e 200 cv (similar ao do Chevrolet Omega vendido no Brasil de 1998 a 2004) no lugar do 3,4. Também foi usada na Nascar.

Sua última geração ganhava as ruas em 2000 com estilo ainda conservador, a plataforma cedida pelo sedã Impala, 5,03 m de comprimento e 2,81 m entre eixos. A tradicional versão SS reaparecia com o V6 de 3,8 litros e 200 cv, mas um 3,4 de 180 cv estava nos modelos mais “comportados” no lugar do 3,1. Em 2003 o 3,8 recebia compressor para alcançar 240 cv.

 

1995
SS 2004
SS Dale Earnhardt Edition 2002
SS 2006

 
Renascido em 1995, o Monte Carlo mudava por inteiro em 2000, aparecia em edições especiais e recebia a última nova frente em 2006

 

Nessa fase a Chevrolet ofereceu diversas edições limitadas inspiradas em pilotos da Nascar: a Dale Earnhardt Intimidator Edition em 2002, a Jeff Gordon no ano seguinte, a Dale Jr. Edition em 2004 (junto ao retorno da Intimidator) e a Tony Stewart Edition um ano depois. Todas usavam o motor 3,8, dotado de compressor de 2003 em diante. Houve ainda quatro séries Pace Car de 2000 a 2003. A alusão fazia sentido: até o fim de sua produção, o cupê seria responsável por 24 dos 31 campeonatos da Chevrolet na Nascar, a mais popular categoria de automobilismo norte-americana.

O Monte Carlo era reestilizado para 2006 com faróis maiores, controle eletrônico de tração e bolsas infláveis também nas laterais. Havia quatro versões (LS, LT, LTZ e SS) e três motores: V6 de 3,5 litros (211 cv), V6 de 3,9 litros (242 cv) e V8 de 5,3 litros (303 cv), que marcava o retorno dos oito cilindros depois de 18 anos. Ele estava restrito ao SS, que incluía adereços esportivos e rodas de 18 pol, e todos tinham caixa automática de quatro marchas.  Em junho de 2007 eram fabricados os últimos exemplares de um dos “carros pessoais” mais longevos dos Estados Unidos.

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