Esse modelo M de 1929, com carroceria da francesa Hibbard & Darrin, é exemplo
da nova fase da Stutz nos anos 20; o motor tinha oito cilindros e 5,3 litros
O modelo Speedway Six, lançado um ano depois, tinha motor de seis cilindros e 4,7 litros com 80 cv, vantagem de 20 cv sobre o Packard Single Six de mesma cilindrada. Um novo oito-cilindros com 5,3 litros, comando de válvulas no cabeçote e 92 cv aparecia em 1926 — ano de vendas em alta, com mais de 5.000 unidades, mas elas não demorariam a despencar. Modificado para obter 113 cv, o motor equipava automóveis como o SV-16 e o modelo M.
Nessa fase, os Stutz recebiam carrocerias especiais de empresas especializadas, atividade que foi comum naquele período da indústria. Em 1929, três unidades do modelo M foram “encarroçadas” pela Hibbard & Darrin, de Paris, empresa de Tom Hibbard e Howard “Dutch” Darrin que também vestiu modelos Duesenberg, Hispano-Suiza, Mercedes-Benz e Packard. O SV-16 com enorme entre-eixos de 3,68 metros prestava-se bem a execuções luxuosas, como o Monte Carlo elaborado pela Weymann em 1930, com um revestimento externo que simulava couro e estepes em ambas as laterais.
O carismático nome do carro esporte retornava ao mercado em 1931 no DV-28 Bearcat, uma evolução do roadster MA-28 Torpedo. Essa tentativa de reerguer as vendas da marca, tão prejudicadas pela Grande Depressão, foi um passo provisório até que estreasse o DV-32 Super Bearcat, com distância entre eixos de 2,90 m. Ao lado do novo desenho, coerente com o tempo, o modelo trazia o motor DV-32 de oito cilindros em linha e 5,3 litros com duplo comando e 32 válvulas — DV significava dual valve, ou seja, o dobro do válvulas de um motor convencional.
Outro modelo M: um cupê Supercharged, ou com compressor, de 1930
Com 156 cv, o DV-32 obtinha a segunda maior potência específica de seu tempo nos EUA, superada apenas pela do Duesenberg Model J, e podia alcançar 160 km/h. Com carrocerias especiais feitas por empresas como LeBaron, Rollston & Company, Waterhouse e Weymann, foi um digno representante da Stutz em um período de “corrida de cilindros”, quando vários fabricantes norte-americanos lançavam motores de 12 e até 16 cilindros, caso do Cadillac V16. Os freios atuavam nas quatro rodas e tinham assistência a vácuo, embora a suspensão ainda usasse eixos rígidos (a dianteira independente já equipava alguns poucos automóveis). O ano seguinte, porém, foi o último para essa segunda fase do Bearcat.
Em 1953, a Nash sugeria seu carro “para o garoto que sonhava com um Stutz Bearcat”, supondo-se que o menino agora seria um adulto com posses para realizar o antigo sonho
A Stutz encerrava suas atividades em 1935, após 35 mil carros construídos, mas a história de seu nome não terminava por ali. O banqueiro James O’Donnell relançava a marca em 1968, como Stutz Motor Car of America, e dois anos mais tarde colocava no mercado o extravagante cupê de luxo Blackhawk, desenhado por Virgil Exner, com carroceria produzida na Itália pela Ghia e mecânica General Motors. Um Bearcat moderno também seria feito, de 1979 em diante, em total de pouco mais de 10 exemplares.
O Bearcat original assumiu um duradouro prestígio entre os norte-americanos, sendo comum associá-lo a um estilo de vida bem-sucedido da década de 1920. Provas disso foram dois anúncios publicitários veiculados bem mais tarde. Em 1953, nos EUA, a Nash sugeria seu carro “para o garoto que sonhava com um Stutz Bearcat”, supondo-se que o menino agora seria um adulto com posses para realizar o antigo sonho. Em 1961 era a inglesa Triumph que questionava “o TR3 é o Stutz Bearcat dos anos 60?”, mostrando seu esportivo ao lado do carro norte-americano. O clássico aparecia ainda em uma publicidade das velas NGK de 1953, “do Stutz Bearcat ao Buick Wildcat“, este um carro-conceito daquele ano.
O último Bearcat da Stutz original foi o DV-32 Super Bearcat, com motor de oito
cilindros, duplo comando, 32 válvulas e 156 cv, que o levava à máxima de 160 km/h
Foi também um carro inspirador de réplicas. Howard D. Williams, na década de 1960, fabricou uma com carroceria de plástico e fibra de vidro e chassi do jipe International Harvester Scout. Pouco depois, o “rei da customização” George Barris construiu duas cópias do Stutz para a série de TV Bearcats!, de 1971 (leia boxe na página anterior). Embora com mecânica Ford, os carros eram bastante fiéis em termos de estilo.
Hoje, exemplares com impecável restauração são bastante valiosos, como mostram os que ilustram este artigo. Leiloados pela empresa RM Auctions, o Bearcat amarelo de 1915 foi vendido por US$ 368.500 em 2006; o Super Bearcat DV-32 verde de 1932 saiu por US$ 539 mil em 2011; e um DV-32 Dual Cowl Phaeton com carroceria Rollston & Company de 1933, vinho, único ainda existente com tais especificações, alcançou nada menos que US$ 797.500 em leilão de 2007.
Ficha técnica
Bearcat (1914) | Bearcat (1918) | DV-32 Sports Touring Car (1931) | |
MOTOR | |||
Posição e cilindros | longitudinal, 4 em linha | longitudinal, 8 em linha | |
Comando e válv. por cilindro | no bloco, 2 | duplo no cabeçote, 4 | |
Diâmetro e curso | 120,6 x 139,7 mm | 111,12 x 152,4 mm | 85,7 x 114,3 mm |
Cilindrada | 6.399 cm³ | 5.912 cm³ | 4.899 cm³ |
Taxa de compressão | ND | ||
Potência máxima | 60 cv a 1.500 rpm | 80 cv | 156 cv a 3.900 rpm |
Torque máximo | ND | ||
Alimentação | carburador | ||
TRANSMISSÃO | |||
Tipo de câmbio e marchas | manual, 3 | ||
Tração | traseira | ||
FREIOS | |||
Dianteiros | não | a tambor | |
Traseiros | a tambor | ||
Antitravamento (ABS) | não | ||
SUSPENSÃO | |||
Dianteira | eixo rígido | ||
Traseira | eixo rígido | ||
RODAS | |||
Pneus | 4,50-34 | 5,00-33 | |
DIMENSÕES | |||
Comprimento | 4,29 m | ND | |
Entre-eixos | 3,05 m | 2,95 m | |
Peso | ND | 1.545 kg | ND |
DESEMPENHO | |||
Velocidade máxima | 130 km/h | 135 km/h | 160 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | cerca de 30 s | ND | |
Dados do fabricante; ND = não disponível |