Rural Willys, valente e familiar, foi precursora dos SUVs

Depois do novo painel, o motor de 3,0 litros do Itamaraty trouxe ganho importante em desempenho em 1968

A Rural 4×4 com motor 2,6-litros foi comparada — também pela Quatro Rodas — em 1970 ao Bandeirante e à Kombi, veículos valentes de concepções diversas. A perua da Willys foi claramente a mais rápida (0 a 100 km/h em 25,5 segundos contra 45,2 s da Volkswagen e 56,7 s do Toyota) e freou em menor espaço de 80 km/h em diante, mas obteve o consumo mais elevado.

“Para uso misto, a Rural oferece mais vantagens: na cidade é quase um automóvel e nas estradas asfaltadas pode fazer médias horárias elevadas. A máxima real foi de 131 km/h. Sua aceleração é boa e compara-se à de muitos automóveis, mas nas curvas ela deve ser dirigida com cuidado, pois a suspensão com quatro feixes de molas semielípticas prejudica a estabilidade. Os bancos são largos e macios. Ela anda com suavidade e seu nível de ruído interno é baixo”, a revista comentou.

Após a absorção da Willys, a Ford deu sua marca à Rural em 1970 e mais tarde adotaria um motor quatro-cilindros

A Rural tornava-se um modelo Ford em 1970. Fato interessante na publicidade da marca nesse período era propor o utilitário para o uso urbano por mulheres, com motes como “o carro que mamãe queria” e “mulher tem mania de segurança”, assim como fotos da perua em meio ao tráfego de veículos pesados nas grandes cidades. Antes voltado a qualquer terreno, o veículo agora parecia uma solução para as motoristas se sentirem mais seguras no trânsito.

A versão Luxo saía de produção após o modelo 1972. Com a crise do petróleo deflagrada no ano seguinte, a Ford teve de desenvolver um motor mais econômico para o Maverick, adotado também nos utilitários para a linha 1975. O quatro-cilindros de 2,3 litros com comando de válvulas no cabeçote era bem mais leve e oferecia melhor desempenho geral, mesmo com potência reduzida na nova aplicação de 99 para 91 cv.

A alteração visava, de um lado, maior durabilidade e de outro uma curva de torque mais plana (o máximo subia pouco, de 16,9 para 17 m.kgf), coerente à finalidade de uso dos utilitários. Nesse caso o carburador era de corpo simples, ante o duplo do Maverick. Junto ao novo motor vinha uma transmissão mais moderna e com lubrificação permanente (nunca precisava de troca de óleo). Um retrocesso era a adoção de eixo dianteiro rígido, como o da 4×4, na versão de tração simples.

A Rural em meio a sua nova “família” e a publicidade, que antecipava o gosto das mulheres pela posição de dirigir e a imponência no trânsito dos SUVs

O teste da revista Auto Esporte comentou que “o motor que ela herdou do Maverick melhorou o desempenho geral, tornando-a econômica, mais ágil e com reserva de força para qualquer serviço. Ela vence com facilidade os piores caminhões e mesmo os lugares onde não há caminho”, embora se tratasse da versão 4×2. “A carga útil declarada é de 609 kg. Seis pessoas podem viajar nela e ainda assim o espaço para bagagem é bastante grande”.

O motor de 2,3 litros do Maverick, mais econômico, foi adotado também nos utilitários e oferecia melhor desempenho, mesmo com potência reduzida

Já a Quatro Rodas apontou que “o desempenho é bom: a velocidade máxima de 129 km/h é superior às reais necessidades, as acelerações e retomadas são normais. O tempo médio para chegar a 100 km/h foi de 22 segundos, um pouco elevado em relação aos dados de fábrica (19 segundos). O câmbio tem funcionamento silencioso e preciso”.

Embora a revista julgasse que “a Rural continua sendo uma boa ferramenta de trabalho, que deve ser entendida e utilizada adequadamente”, a idade do projeto cobrava seu preço: “A suspensão, se projetada agora, seria inaceitável. Como uma velha herança, o motorista deve adaptar-se a ela, tomando muito cuidado nas curvas. A direção ficou com a velha caixa de atrito elevado. Os bancos não têm preocupação com a anatomia das pessoas”, além de o consumo ter continuado alto, com média de 7,5 km/l.

Trinta anos depois do lançamento nos Estados Unidos, a Rural estava superada mesmo para os padrões brasileiros. Sua produção chegava ao fim em 1977, permanecendo a picape e o Jeep por mais cinco anos.

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Ficha técnica

  Rural 2,6 4×4 (1963) Rural 3,0 (1968) Rural 2,3 (1975)
Motor
Posição e cilindros longitudinal, 6 em linha longitudinal, 6 em linha longitudinal, 4 em linha
Comando e válvulas por cilindro no bloco, 2 no bloco, 2 no cabeçote, 2
Cilindrada 2.638 cm³ 3.014 cm³ 2.300 cm³
Potência máxima* 90 cv a 4.400 rpm 132 cv a 4.400 rpm 91 cv a 5.000 rpm
Torque máximo* 18,6 m.kgf a 2.000 rpm 22,3 m.kgf a 2.000 rpm 17,0 m.kgf a 3.000 rpm
Alimentação carburador de corpo simples carburador de corpo duplo carburador de corpo simples
Transmissão
Tipo de caixa e marchas manual, 3 manual, 4 manual, 4
Tração integral traseira traseira
Freios
Dianteiros a tambor a tambor a tambor
Traseiros a tambor a tambor a tambor
Antitravamento (ABS) não não não
Suspensão
Dianteira  eixo rígido independente, braços sobrepostos eixo rígido
Traseira eixo rígido eixo rígido eixo rígido
Rodas
Pneus 7,10-15 7,10-15 7,75-15
Dimensões
Comprimento 4,47 m 4,47 m 4,47 m
Entre-eixos 2,64 m 2,64 m 2,64 m
Peso 1.530 kg 1.480 kg 1.420 kg
Desempenho
Velocidade máxima 120 km/h 140 km/h 130 km/h
Aceleração de 0 a 100  km/h 22 s 16 s 22 s 
* Método bruto; dados de desempenho aproximados
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