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Carros do Passado

E então houve o Royale. Desenhado para ser usado pelas cabeças coroadas da Europa, carregava sua mascote paquidérmica no radiador por um bom motivo: era um carro gigantesco. Media 4,32 metros de entreeixos -- o que um Astra Sedan tem de comprimento... O carro pesava mais de três toneladas e custava o equivalente a três Rolls-Royces Phantom II. Nenhuma de suas peças recebia banho de cromo. Ettore achava que tal metal era vulgar demais para os carros, substituindo-o por banhos de prata.

O Royale era o exagero sobre rodas: 12,7 litros de cilindrada, mais de 6 metros de comprimento e cerca de 3 toneladas

Seu motor, um oito-em-linha (desenvolvido a partir de um 16-cilindros aeronáutico), começou com 14.726 cm3 de cilindrada e 300 cv de potência a apenas 1.700 rpm. Isso mesmo, 14,7 litros! A partir do segundo chassi, os motores tiveram sua cilindrada reduzida para "discretos" 12.763 cm3 e a potência para 278 cv. O motor media 1,42 metro de comprimento, usava 23 litros de óleo lubrificante e 68 litros de água no radiador. O câmbio era de três marchas, com a segunda direta (1:1) e a terceira overdrive.

O Royale foi um divisor de águas na história da empresa. Até então, os Bugattis eram carros de competição modificados para uso nas ruas e criados conforme os desejos de Ettore. A partir dele, a influência de seu filho mais velho Jean começou a aflorar, até que se tornasse a principal voz na criação dos veículos, como no lendário tipo 57, um carro que Jean desenhou de cabo a rabo.

Cada uma das seis unidades recebeu uma carroceria distinta, como este Weinberger Cabriolet. A quebra da bolsa em 1929 abalou as vendas desse Bugatti caríssimo, que custava como três Rolls-Royces

Em 1927, um ano após a apresentação do Royale, a Bugatti inaugurava seu departamento próprio de carrocerias, onde Jean criaria obras nunca antes vistas. O Royale provou ser dificílimo de vender, situação que piorou com a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Apenas seis carros foram criados em seis anos, de 1926 a 1931, mas três ficariam por décadas com a família Bugatti.

O primeiro a ser vendido (chassi 41111) foi o lendário roadster encomendado pelo milionário francês Armand Esders. Com suntuosos 6,23 metros de comprimento, o Esders Roadster foi uma obra-prima de estilo e proporção. Inspirado no tipo 55, Jean criou um carro onde os pára-lamas se uniam em uma única linha, sem nenhuma parte reta em toda a lateral. A pedido de Esders, o carro não tinha capota nem faróis: seria usado apenas em dias claros, em ocasiões especiais.

O primeiro Royale, feito para o milionário francês Esders, não tinha capota nem faróis: seria usado apenas em dias claros e ocasiões especiais

A carroceria original foi trocada pelo segundo proprietário. O hoje chamado Coupé de Ville Binder pertence à coleção Harrah, juntamente com o último Royale, o de chassi 41150, que permaneceu nas mãos da família Bugatti até 1951. Mas uma reprodução exata do original ainda pode ser vista no Museu Nacional do Automóvel de Mulhouse, França. Apreciá-lo ao vivo é uma experiência única e recomendável.

Em 1931, Ettore já havia deixado a operação da fábrica sob a responsabilidade de Jean, então com apenas 22 anos. Quando uma greve estourou em 1936, Ettore, um homem que dirigia sua empresa como um senhor feudal, ficou extremamente abalado, a ponto de abandonar Molsheim e se exilar em Paris, onde passou a se concentrar no lucrativo negócio de trens.
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Para ler

Bugatti: Les Pur-Sang de Molsheim. Neste luxuoso livro de 496 páginas, P. Dumont descreve a história de Ettore e seu filho Jean. Todos os modelos são detalhados e relatados os testes da imprensa da época. Inclusive há uma famosa citação de Ettore. Um crítico disse que seus carros tinham freios ruins. Ele rebateu afirmando que seus carros eram feitos para correr e não para frear! Tem 500 fotos e documentos e 24 desenhos feitos pelo autor. Formato 17,5 x 24,5 cm. Para ler, reler e expor.
(por Francis Castaings)

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