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Carros do Passado

Internamente, os quatro bancos individuais eram revestidos de couro em tom bronze e chamava atenção o console central, com forma também inspirada em uma turbina. O painel trazia três módulos de instrumentos: o primeiro com amperímetro, termômetros da admissão da turbina e do óleo; o segundo com velocímetro, hodômetro e marcador de combustível; e o último com conta-giros e relógio.

Todos em cor bronze, os 50 Turbines atraíram muitas atenções durante o teste com clientes. A Chrysler fabricou ainda cinco protótipos, dos quais apenas um branco, utilizado em um filme

O retrovisor interno vinha montado no pára-brisa, com um sistema de fácil desprendimento em caso de impacto, um item de segurança em um tempo em que pouco se falava nela em automóveis. A alavanca de câmbio, no console, trazia uma disposição curiosa: ré, idle (marcha-lenta, função combinada às de estacionamento e partida), drive (marcha normal) e low (marcha mais curta). E o volante ficava quase vertical, para "sensação de carro esporte", de acordo com a marca.

Ao volante do Turbine   Dirigir o Turbine Car era curioso: a sensação era de grande potência sem as vibrações inerentes a um motor convencional, aliada a um ruído moderado mas que lembrava o de aviões a jato. Consta que a Chrysler havia deixado os escapamentos mais ruidosos do que poderia, justamente para atrair atenções aos carros. O sistema, aliás, era composto de tubulações separadas para o lado esquerdo e o direito do carro, cada um começando em um dos regeneradores da turbina.

O volante quase vertical conferia sensação de carro esporte, segundo a Chrysler. O desempenho, porém, causava decepção se o motorista não elevasse a rotação antes das arrancadas

Uma turbina produz seu torque máximo (no caso 58,7 m.kgf na transmissão, próximo ao de um bom e grande V8 de seu tempo) na mais baixa rotação (veja as curvas de potência e torque). Assim, para aproveitar sua capacidade de aceleração, era fundamental manter o carro freado com o pé esquerdo e acelerar ao máximo com o direito, até que se atingisse o estol da transmissão. Liberado o freio, a aceleração era intensa e surpreendente.

No entanto, a Chrysler não ensinava essa técnica aos usuários, levando-os ao erro de arrancar sem "carregar" a turbina, como faziam sem dificuldades em seus motores V8 convencionais. Com isso, a turbina exigia 1 ou 2 s para entregar potência e o tempo de uma aceleração de 0 a 100 km/h ficava em torno de 12 s (a mesma demora em atingir potência ainda se verifica nos aviões a jato, à qual o piloto precisa se antecipar no caso de desistir do pouso e arremeter, o que não existia na era dos motores a pistão). O resultado era uma insatisfação geral com o desempenho dos carros.

No desenho da disposição mecânica do Turbine, os curiosos escapamentos de grande seção transversal, cada um saindo de um regenerador da turbina

Alguns dos usuários mais críticos eram de São Francisco, cidade famosa por seus aclives e declives. Para corrigir os danos à imagem do carro, o engenheiro Huebner organizou uma comparação de arrancada entre um Turbine, dirigido por ele próprio, e um Dodge big-block (motor de bloco grande, ou seja, alta cilindrada) tido como um dos muscle-cars Chrysler mais rápidos da cidade. Não é preciso dizer qual venceu...

Outros testes colocavam à prova as promessas da marca, citadas no início deste artigo. O primeiro era a aptidão de funcionar com qualquer coisa "que passe por um tubo e queime com o ar". O Turbine realmente funcionou com gasolina, diesel, querosene, álcool, o perfume Chanel n°. 5 e até óleo de amendoim. Uma unidade chegou ao México, cujo presidente Adolfo Lopez Mateos, um entusiasta por automóveis, disse desejar dirigi-lo consumindo tequila -- o carro, não o presidente. E, acredite, o Turbine rodou sem problemas.
Continua

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