Ralph Nader era um jovem e desconhecido advogado, formado em
Harvard, quando publicou o livro que selaria o destino do
Corvair. Com o título Unsafe at Any Speed (Inseguro a
Qualquer Velocidade), o autor acusava a indústria
de não tomar, ao produzir seus automóveis, as
devidas medidas de segurança que os fabricantes já tinham
condições de implementar. O que a maior parte das pessoas não
sabe é que o Corvair foi tema apenas do primeiro capítulo, não
de todo o livro.
Ainda assim, o departamento legal da GM decidiu mandar detetives
investigar Nader na tentativa de desacreditá-lo. Seu telefone
foi grampeado e até prostitutas teriam sido contratadas para que
ele fosse visto em situação comprometedora. Foi esse o estopim
do escândalo. |
Ao ser desmascarada, a estratégia rendeu manchetes e projetou o
livro na mídia. Nader processou a corporação por
invasão de privacidade e venceu. James Roche, então presidente
da GM, teve de se desculpar publicamente ao advogado. Quem pagou
a conta dessa artimanha todos já sabemos: o Corvair.
Outro livro, Assassination of the Corvair (Assassinato do
Corvair), que o especialista em segurança automotiva Andrew
J. White lançou em 1969, ressaltou falhas na acusação de Nader.
A pedido do próprio Nader, o National Highway Traffic Safety
Administration, o departamento americano de segurança nas
estradas, testou em 1971 o Corvair de primeira geração e seus
concorrentes contemporâneos.
Nenhuma anormalidade foi averiguada, tampouco a GM perdeu
qualquer processo movido contra ela por causa do pequeno
Chevrolet. Entretanto, ainda que à custa da reputação do Corvair,
a segurança dos automóveis e os direitos do consumidor nunca
mais foram os mesmos. De aspectos de menor relevância, passaram
a ser cada vez mais questão de honra e prova de qualidade para
qualquer fabricante. |