Como os carros americanos da época eram quase todos grandes e movidos por motores de seis cilindros em linha ou V8, o estilo do Edsel e a campanha de marketing em torno da marca deveriam ser únicos. E foram, mas não como a Ford esperava. Por motivos que veremos adiante, a Edsel se tornaria conhecida como o mais retumbante fracasso da história de Detroit até hoje.

O acabamento básico, Ranger, podia vir com duas ou quatro portas, hardtop ou não

A história foi tão divulgada, que há cinco décadas fala-se dele também como o maior fiasco de todos os tempos da indústria automobilística mundial. A Ford gastou 250 milhões de dólares (da época) no projeto e mais 350 milhões durante sua produção. Da mesma forma que foi o sentimento predominante na campanha de marketing que anunciou o projeto, porém, o histrionismo também sustenta esse mito, como um slogan, e achata a interessante experiência do Edsel em sua totalidade. Há ponderações importantes a se fazer antes da condenação sumária ao carro e à idéia da Ford.

Numa avaliação superficial, tende-se a culpar apenas o estilo da linha Edsel por suas baixas vendas. Sem dúvida, o estranhamento causado pelo modelo 1958 afastou compradores da nova divisão, mas também devemos considerar o posicionamento desta na companhia e a estratégia de mercado criada com tanta fanfarra, a forma de produção e distribuição do veículo e o momento econômico pelo qual passavam os Estados Unidos naquele ano. Após meio século de seu lançamento, o Edsel continua a despertar curiosidade.

O Pacer, segundo na linha ascendente de preço, adicionava a opção conversível; seu motor era o V8 de 5,9 litros e 303 cv, comum ao Ranger

Questão de estilo   Para o lançamento do Edsel, a Ford preparou uma campanha publicitária de grande porte. Nos grandes jornais e nas revistas nacionais de maior circulação havia várias páginas de teasers, aqueles anúncios que mostram poucas informações sobre um produto que não chegou ao mercado para, como um aperitivo, despertar a curiosidade do público por ele. Cerca de 2,5 milhões de americanos compareceram às concessionárias Edsel para conhecer o novo carro no chamado Dia E, 4 de setembro de 1957.

O Edsel vinha em quatro séries. A mais simples, Ranger, e a segunda, Pacer, tinham chassi Ford com distância entre eixos de três metros, enquanto a intermediária Corsair e a superior Citation usavam chassi Mercury de 3,15 m. As peruas Roundup, Villager e Bermuda seguiam a mesma ordem e tinham 2,94 m entre os eixos de seu chassi Ford. Ou seja, o Edsel vinha apenas nos tamanhos grande e maior. Ele era oferecido nas versões cupê e sedã, tanto com as colunas tradicionais quanto hardtop, além de conversível de duas portas e peruas de três e cinco portas.

No Corsair o entreeixos era mais longo; este é o hardtop de quatro portas

Variando de acordo com as séries, havia 18 opções. O Ranger era vendido nas duas versões de cupê e sedã; o Pacer podia vir como sedã de quatro portas, ambos os hardtops ou conversível; o Corsair e o Citation tinham os dois hardtops, mas só o segundo era oferecido como conversível. A perua Roundup era a única de três portas, enquanto a Villager e a Bermuda dispunham de cinco portas e lugares para seis ou nove passageiros. Continua

Edsel Ford
Por mais que se entendam as razões, é uma injustiça que o nome de Edsel Bryant Ford seja associado à idéia de fracasso. Nascido em 6 de novembro de 1893, o filho único de Henry Ford poderia ser considerado tudo, menos um fracassado. Enquanto seu pai era de uma notória teimosia, para melhor e para pior, Edsel tinha apreço pelas novidades. Apaixonado por carros rápidos e atraentes, era um autêntico car guy, um aficionado por automóvel. Talvez bem mais que o próprio Henry, que foi responsável por milhões deles, mas só amou de verdade um, o Ford Modelo T.

Há uma frase creditada a ele que exemplifica bem sua postura: "Meu pai faz o carro mais popular do mundo, eu gostaria de fazer o melhor carro do mundo". Foi Edsel que convenceu seu pai a adquirir a combalida Lincoln e dar novo brilho à marca nos anos 30. Entre os vários carros modificados que pedia à equipe da Ford para criar para ele, estava aquele que deu origem ao mais celebrado Lincoln, o Continental, baseado no ousado Zephyr de 1936.

Antes de completar 30 anos Edsel tornou-se presidente da Ford, ainda que sob marcação cerrada de seu pai. Foi quando a GM superou a Ford no ranking mundial de fabricantes.
Ele foi um ferrenho defensor da renovação na corporação e conseguiu fazer o Modelo A substituir o T, apesar da resistência de Henry. Em 1932 a Ford dava outro passo definitivo de sua história ao lançar, no Modelo 18, o primeiro V8 produzido em massa.

O mercado reagiu bem aos novos modelos Ford, Lincoln e, de 1938 em diante, Mercury. Contudo, em 26 de maio de 1943, aos 49 anos, ele não resistiu a um câncer. Casado com Eleanor Clay, Edsel deixou os filhos Henry Ford II, Benson, Josephine e William Clay Ford, Sr. — sendo que o primeiro também dirigiu a Ford, de 1945 a 1980. A influência do filho de Henry Ford definiu uma era em que a companhia se abriu mais à criatividade possibilitada pelo estilo, o conforto e a sofisticação que à necessidade de motorizar o mundo e bater recordes olímpicos de venda.

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