Ventos do futuro

O Lincoln Zephyr conseguiu o que o Chrysler Airflow
merecia: anunciar com êxito o desenho dos anos 1940

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Quem quisesse criar um carro moderno nos anos 1930 se inspirava no estilo streamline. Depois de décadas parecendo caixas sobre rodas, o automóvel começava a ganhar traços mais interessantes e fluidos. Os fabricantes buscavam diminuir a resistência ao vento dos carros e aperfeiçoar seu desempenho — e a forma ideal era a gota, com sua perfeita aerodinâmica. O mais notável pioneiro nesse sentido foi o Chrysler Airflow de 1934. Entretanto, o Museu de Arte Moderna de Nova York elegeria o Lincoln Zephyr como o primeiro carro americano bem-sucedido nesse estilo.

O Airflow, também vendido pela subsidiária DeSoto, deixou vários fabricantes locais e europeus loucos correndo atrás do prejuízo visual. Infelizmente, por melhor e mais inovador que fosse, o burburinho em torno dele ficou apenas nisso — causou grande estranheza no público e não conseguiu boas vendas. Outro modelo revolucionário (e ainda mais esquisito) com os mesmos princípios aerodinâmicos foi o tcheco Tatra T77, lançado na mesma época. Mas o primeiro discípulo europeu do Airflow surgiu já em 1935 na França, o belo e ousado Peugeot 402.

A forma de gota ficava evidente nos primeiros modelos do Zephyr, como este cupê de 1937. Dos faróis às saias nos pára-lamas, tudo favorecia sua fluidez pelo ar

Em novembro daquele ano a Lincoln daria continuidade — desta vez com sucesso comercial — à história dos carros “esculpidos pelo vento” nos EUA. O nome inspirado no primeiro trem criado dentro dessa escola de desenho, o Burlington Zephyr, significa zéfiro no português, um vento brando e refrescante que chega do oeste. Era a tentativa de oferecer um carro condizente com a grande recessão econômica que assolava a América nos anos 1930, o que em nada combinava com toda a pompa do Lincoln KB V12.

A idéia surgiu com Edsel Ford, filho do lendário Henry, que havia adquirido a marca em 1922 depois de persuadido pelo filho. De início o fundador da empresa Henry M. Leland, que ajudou a criar os primeiros Oldsmobile e Cadillac, participou de sua direção, mas logo se desentendeu com seu homônimo da Ford e saiu. Como presidente da Lincoln, Edsel tratou de manter a qualidade e luxo da marca com motores potentes, como o do próprio KB de 7,3 litros e 150 cv. Mas dessa vez Edsel queria surpreender também pelo estilo.

Diversas versões de carroceria eram disponíveis, como o cupê (acima), o sedã de duas portas (no alto) e o de quatro (ao lado), as traseiras com abertura invertida

A tarefa de desenhar um carro com preço abaixo da metade de qualquer outro Lincoln coube a John Tjaarda (pai de Tom, projetista mais tarde do De Tomaso Pantera) e Eugene “Bob” Gregorie, em parceria com o fabricante de carrocerias Briggs. Foram cerca de 15 mil unidades no primeiro ano, 80% do que a marca vendeu em 1936. A forma de lágrima se refletia nos faróis embutidos, pára-lamas posteriores com saias e a própria traseira do sedã, de duas ou quatro portas. Continua

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Data de publicação: 16/3/04

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