Um V8 para as massas

Lançado há 75 anos junto ao Modelo B, o Ford Modelo 18
popularizou o V8 e se tornou ícone dos hot rodders

O ano de 1932 é fundamental na história da Ford e do automóvel americano. Henry Ford colocava nas concessionárias de sua marca duas versões de um novo carro: o Modelo B e o Modelo 18. O primeiro, com motor de quatro cilindros, resgatava um nome usado de 1904 a 1906 e, por si só, já evoluía o aclamado Modelo A feito de 1928 a 1931. Mas o Modelo 18, muito semelhante ao B, trazia um marcante elemento diferencial: o primeiro motor V8 do fabricante, o pioneiro dessa configuração fabricado em massa. Foi ele o grande responsável por popularizar esse tipo de propulsor nos Estados Unidos e, em conseqüência, no mundo.

Fabricantes franceses já faziam motores em "V" desde o século 19. A Panhard-Levassor dispunha de um V2 Daimler já em 1891, a Mors teve um V4 em 1897, a Antoinette criou seu oito-cilindros em 1900 e a Ader ofereceu propulsores V2, V4 e V8 de 1900 a 1904. Em 1905 a inglesa Rolls-Royce já tinha seu V8 e em 1910 a De Dion-Bouton lançava o primeiro V8 feito em série — ainda que em quantidades modestas para os padrões estabelecidos pela General Motors ao passar a produzir seus próprios V8 em larga escala, para o Cadillac 1915. Seis anos depois nascia a Lincoln, já adotando V8, e em 1922 ela se tornava parte do grupo Ford.

Para a maioria dos motoristas, porém, dirigir um carro com motor V8 ainda era um sonho distante. O lançamento do V8 da Ford coroava a evolução do popular Modelo A em Modelo B, uma atualização sutil desse projeto que substituiu com grande êxito o lendário Modelo T. A rigor, não havia diferenças mecânicas relevantes — além do motor — ou estéticas entre o Modelo B e o 18, mas a versão mais potente logo superou a outra nas vendas. Se o novo V8 era inspirado no da Lincoln, embora com foco na fabricação em massa, o quatro-cilindros não deixava de trazer novidades em relação ao de 1931.

Enquanto o Modelo A produzia a potência de 40 cv a 2.200 rpm, o Modelo B rendia 50 cv a 2.800 rpm (sempre valores brutos). Se o modelo antigo tinha taxa de compressão de 4,2:1, o B tinha 4,8:1. O cabeçote com câmaras de combustão aprimoradas e o novo comando de válvulas, que permitia um tempo maior de abertura, contribuíam para a potência mais alta. Ao lado direito inferior do bloco ficava a bomba de combustível do tipo diafragma, enquanto o tanque foi movido para a traseira do carro.

Mesmo com as consideráveis melhorias do quatro-cilindros, a grande estrela da linha 1932 era mesmo o Modelo 18 com seu V8, que respondia ao seis-cilindros em linha da Chevrolet. Era a primeira vez em que a Ford oferecia um segundo tipo de motor. O nome do modelo abreviava em números "o primeiro Ford V8", mas, para o grande público e para a posteridade, ele se tornaria conhecido simplesmente como Ford V8. O motor construído em corpo único, sem separação entre bloco e cabeçote, era compacto com sua cilindrada de 221 pol³ (3,6 litros). Tinha 90 graus entre as bancadas e usava um carburador descendente. Por 610 dólares, entregava ao motorista 65 cv a 3.400 rpm, 30% a mais que o Modelo B.

O bloco do motor foi o maior desafio de Henry Ford durante o desenvolvimento do projeto. Os motores de oito cilindros eram, até então, pesados e caros de fabricar. A opção mais óbvia para um desempenho melhor era um seis-cilindros, mas Ford não gostava dessa opção, já vendida pela Chevrolet. Ele fazia questão de que o bloco fosse uma peça única para facilitar a produção em massa — só que não havia tecnologia para isso na época. Ford e um grupo de engenheiros ficaram baseados no Fort Myers, antigo laboratório de Thomas Edison, desenvolvendo o bloco em sigilo. Continua

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Data de publicação: 22/5/07

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