Um modelo em escala 1:5 no museu
da Toyota mostra o caminhão G1, para 1,5 tonelada, que precedeu em dois
anos seu primeiro automóvel
Versões de 1961 (em cima) e 1967
do Stout, o antecessor do Hilux: um picape espartano e compacto com
motores de 1,5 e 1,9 litro a gasolina
O modelo 1971 mostra a primeira
geração do Hilux: desenho simples, tração traseira e várias opções de
motores nos EUA e outros mercados |
Enquanto projetava seu primeiro automóvel — o modelo
AA, que seria lançado em 1937 —, Kiichiro
Toyoda, o fundador da Toyota, sabia que o produto não teria um grande
mercado naquela fase de retração econômica do Japão. Assim, trabalhou em
paralelo em um caminhão leve com o motor do carro de passeio e baseado
no mesmo chassi, devidamente alongado e reforçado, que pudesse ser usado
para trabalho e vendido em maior volume. Lançado em dezembro de 1935, o
G1 seguia a concepção técnica de modelos norte-americanos da época, da
Ford e da General Motors. Com dupla rodagem na traseira e ambos os eixos
rígidos, transportava 1.500 kg de carga com um seis-cilindros em linha
de 3,4 litros e potência de 62 cv.
Ao G1 seguiram-se os modelos GA em 1936, GB em 1938, KB em 1942, KC em
1943 e BM em 1947. E foi também neste último ano, tão pouco tempo após o
fim da Segunda Guerra Mundial e seus efeitos devastadores sobre o Japão,
que a Toyota apresentou seu primeiro picape, chamado de Toyopet SB e
derivado do automóvel SA. Com apenas 3,95 metros de comprimento e motor
de quatro cilindros, 1,0 litro e meros 27 cv, era uma opção acessível,
robusta e econômica para empresários e fazendeiros naquele momento de
esforço pela recuperação econômica do país. Se em 1951 era revelado o
jipe BJ, que daria origem à duradoura série Land Cruiser (uma de suas
gerações tornou-se o Bandeirante
no Brasil), um ano mais tarde a linha de picapes evoluía para o modelo
SG. Com linhas arredondadas, lembrava modelos norte-americanos da época,
mas em menores dimensões
Já em 1953 aparecia a série RK, com desenho mais para automóvel que para
utilitário: capô quase tão baixo quanto os para-lamas, para-brisa
inteiriço, menor altura total. Uma versão remodelada do RK, lançada em
1957, era renomeada dois anos depois como Stout, palavra inglesa que
significa forte, robusto. Não que isso fosse sugerido por suas linhas
simples, levemente arredondadas, em que chamava atenção a cabine com
para-brisa e vidros bem grandes para o porte do veículo. De início foi
mantido o motor da linha R de 1,5 litro, com
comando de válvulas no bloco e 60 cv, mas a Toyota adotou mais tarde
uma unidade de 1,9 litro com 85 cv. De 1964 em diante o Stout foi
vendido nos Estados Unidos, onde os modelos japoneses ainda
engatinhavam. Foi em março de 1968 que a empresa deu um passo decisivo
pela consagração de seus picapes com o lançamento do Hilux, nome
derivado de "high luxury" ou alto luxo — um tanto pretensioso para a
proposta espartana do utilitário, com seu banco inteiriço revestido em
vinil e escassos equipamentos no interior.
Como o Stout, ele era construído com carroceria sobre chassi e vinha
apenas com cabine simples e tração traseira, com opção de maior
distância entre eixos de abril de 1969 em diante.
Suas menores dimensões
o afastavam dos grandes picapes
Chevrolet, Dodge e Ford
feitos nos EUA, o que facilitou sua aceitação entre usuários daquele
mercado que precisavam mais de praticidade que de espaço ou potência. O
projeto e a fabricação ficaram a cargo da Hino Motors, fabricante de
utilitários, caminhões e ônibus que a Toyota absorvera em 1966. O
desenho simples mostrava quatro faróis incrustados na grade, capô plano
— sem as laterais mais altas do Stout —, para-brisa menos envolvente que
no antecessor e um vinco duplo que percorria as laterais. No Japão o
Hilux mantinha o motor 2R de 1,5 litro do antigo picape, ajustado para
render 74 cv, e em 1971 cresceria para 1,6 litro e 90 cv. Já para
exportação aos EUA o utilitário recebeu o 3R de 1,9 litro e 85 cv, com
mais torque em baixa rotação — ainda assim, de desempenho um tanto
comedido em comparação ao dos utilitários de seis e oito cilindros
daquele país.
Por outro lado, o câmbio manual de quatro marchas era leve de operar e a
suspensão, de conceito tradicional (independente na dianteira, com
braços sobrepostos e molas helicoidais, e por eixo rígido na traseira
com feixes de molas semielíticas), resultava em um conforto de marcha
aceitável para ao tipo de veículo.
Já em 1970 estreava para os
norte-americanos um motor mais moderno, o 8RC, com 1,8 litro e
comando no cabeçote, de funcionamento
mais suave e que fornecia 97 cv e 17,7 m.kgf. O desempenho melhorava,
mas em dois anos vinha novo aumento de cilindrada: a unidade 18RC de 2,0
litros da mesma família, com 108 cv. A essa época, General Motors e Ford
recorriam aos próprios japoneses — da Isuzu e da Mazda, na ordem — como
fornecedores dos picapes compactos que elas vendiam nos EUA: o Chevrolet Luv e
o Ford Courier. Foi a forma que encontraram de
responder ao ataque asiático feito por Toyota, Nissan (com o Datsun
PL-620) e Mazda (com o B-1600). Quando os cinco oponentes foram reunidos pela revista Popular Mechanics,
o Hilux
mereceu elogios pela tampa da caçamba com chapa dupla, bom
comportamento da suspensão, comando hidráulico de embreagem e
freios com assistência.
Continua
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