Que escrever bem não é uma habilidade de muitos brasileiros, já se sabe
há tempo. Conhecemos histórias de erros graves cometidos por
vestibulandos e vemos no dia-a-dia exemplos de redações malfeitas,
falhas de ortografia e de gramática em peças publicitárias. Mas há outra
atividade em que especial atenção precisa ser dada a esse quesito: a
jornalística.
Há seis meses falei aqui das revistas de preparação e personalização —
tuning, para usar o desnecessário inglês — e seu texto cheio de
gírias que agride o bom gosto (leia Editorial da
edição 181). Só que o problema está longe de se limitar a essas
publicações voltadas ao público jovem e irreverente: afeta também
aquelas que se julgam sérias e preocupadas com o bom português.
Por estes dias conversava com o colunista Bob Sharp, que ganhou da filha
no Natal o ótimo livro Ayrton, de Ernesto Rodrigues. Bob conta
que por todo lado da obra se lê cilindradas como unidade de
medida, como em "kart de 100 cilindradas", quando o correto é 100 cm³
de cilindrada. Há mais: motohome (e não motorhome),
kombi (com inicial minúscula, mesmo erro que se lê muito em relação ao
Fusca) e uma sucessão de "a Ferrari", "a Williams" e similares, ao se
referir ao veículo e não à equipe — será que alguém diz "minha carro"?
Erros conceituais também acontecem em grandes mídias. Na tabela de
preços do jornal A Folha de S.Paulo consta que o Citroën C3 é um
notchback, definição que se aplica a sedãs de três volumes, não a
hatchbacks como esse. O próprio termo notchback, mesmo que fosse
aplicado aos modelos corretos, não se justifica por haver expressões em
português consagradas pelo mercado e de conhecimento geral.
A Folha pode alegar que não precisa (não mesmo?) entender a fundo de
automóvel, pois não é especializada no tema. Mas ler que a suspensão do
Koeniggsegg é do tipo wishbone, na mais conhecida revista do
setor, é mesmo de doer. Double wishbone é como se define em
inglês o sistema de braços sobrepostos — uma tradução simples e fácil de
entender, que não à toa é utilizada no BCWS. Mas é bem mais
simples copiar o que diz a informação do fabricante...
O inadequado termo "montadora" já nem precisa ser comentado: fiz isso no
Editorial da longínqua edição 111, há
mais de três anos. Infelizmente, o impróprio uso parece só se ter
generalizado desde então. É montadora pra cá, montadora pra lá, em tudo
o que é imprensa, incluindo a dita especializada. Decidi há pouco que
passaria a usar juntadora de peças — sinônimo de montadora,
certo? — em conversas informais, para chamar atenção para o erro. Quem
sabe as pessoas se toquem e passem a usar um termo adequado, como
fabricante.
Outro hábito arraigado na imprensa, que não constitui erro mas em nada
ajuda o leitor, é empregar siglas para definir equipamentos ou sistemas.
Muitos podem saber o que são freios ABS (com sistema antitravamento),
mas quantos conhecem o que significam ESP (controle de estabilidade),
BAS ou AFU (assistência adicional de frenagem, nas siglas em inglês e em
francês), ou ainda BCM (sigla da GM para central elétrica integrada)?
Fora dos departamentos de engenharia seu uso não se justifica. A
intenção parece ser apenas a de criar jargões que só os iniciados na
área conhecem, como em uma conversa entre médicos ou uma peça jurídica.
Quando leio tudo isso, a impressão é de que alguns colegas jornalistas
parecem não perceber sua responsabilidade de — tanto quanto informar —
formar os leitores. Em um país que pouco lê livros, consome
músicas mal escritas e sofre, dia após dia, o ataque de programas
medíocres de rádio e TV, uma redação esmerada no jornal, site ou revista
pode ajudar em muito a instaurar os conceitos e a grafia corretos do que
se lê.
De uma coisa o leitor pode ter certeza: o BCWS nunca abrirá mão
dessa missão.
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A equipe agradece e retribui os votos de Boas Festas recebidos de:
Agência HP Press, Agência MSV Press, Alfapress, Audi, Bridgestone
Firestone, Daniel Landi, DKW.com.br, Estela Craveiro, Fiat (Itália),
Fundação Volkswagen, Honda, JLV Consultoria, Local da Comunicação,
Lucky Assessoria, Mastermidia Marketing, Maxpress, McCann, Nobel,
Peugeot, Porsche, PR Newswire, Renault, Roberto Pol Imprensa, SD&Press
Consultoria, SIG Comunicação, Sindirações, Stuttgart/Porsche, Toyota,
Universo Online, Volkswagen, ZDL e de centenas de leitores e amigos.
Nossos melhores votos de um grande 2005 a todos. |