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Marca, uma questão muito séria

O nome da corporação em geral está presente nos carros de sua
principal marca, mas não é assim na General Motors — ou não era

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editor

Quem conhece marketing, palavra que pode ser substituída por "técnicas de mercado" em nosso idioma, sabe que a marca é essencial para qualquer produto. Até como domínio na internet é fundamental que a marca esteja lá, para identificação e localização mais fáceis e, claro, associação direta, o que acaba levando a mais confiança no produto ou serviço.

Quando William Durant fundou a General Motors, em 1910, deu enorme passo em direção à formação de um conglomerado que seria líder no mundo antes de 1930. De lá para a cá a GM se expandiu a níveis inimagináveis em termos de presença mundial. Mas com um detalhe inusitado: essa indústria-monstro muitas vezes não está nos corações e mentes de quem ela depende, os consumidores.

A GM tem um leque de marcas de fazer inveja — Chevrolet, Buick, Cadillac, Daewoo, GMC, Holden, Opel, Pontiac, Saab, Saturn, Vauxhall e, até há pouco tempo, Oldsmobile. A troca de marcas quando um modelo alcança novos mercados é intensa, como ocorre na linha de carros grandes da australiana Holden, que assume logotipos Pontiac (nos EUA), Vauxhall (na Inglaterra), Daewoo (na Coréia) e, como sabemos, Chevrolet no Brasil. Mas nenhuma delas aplica a seus carros o nome General Motors. Por incrível que pareça, o único modelo a receber GM como marca foi o elétrico a bateria EV1, que não deu certo e foi descontinuado após terem sido fabricadas apenas 800 unidades, de 1996 a 2004.

Com a concorrência ocorre o contrário: suas marcas de empresa e de produto se confundem em grande parte dos casos. A Ford possui numerosas marcas sob seu guarda-chuva, mas usa mesmo o nome Ford na divisão com maior volume de produção. O mesmo acontece com a Fiat e a Volkswagen. Idem para Toyota, Honda e Nissan, que reservam a seus modelos de luxo, e apenas em alguns mercados, as marcas especiais Lexus, Acura e Infiniti, nesta ordem. A Toyota, aliás, até hoje não introduziu no Japão a marca Lexus, o que só acontecerá em agosto próximo. Nos últimos 15 anos, os carros dessa divisão têm sido vendidos com nomes diferentes e o logotipo da própria Toyota.

A respeito da Nissan (hoje associada à Renault) houve, contudo, uma situação diferente no passado. Os automóveis que a empresa produzia chamavam-se Datsun em outros países — Nissan, só no mercado japonês. Tudo ia muito bem até o fabricante, no início dos anos 70, resolver captar recursos nos mercados financeiros mundiais para ampliação da capacidade de produção. "Nissan? Que Nissan?", perguntavam os banqueiros, pois o que conheciam era a Datsun. A direção da empresa não pensou duas vezes e, da noite para o dia, a marca Datsun desapareceu do mundo. Agora era só Nissan.

Apesar dos exemplos que ensinam o contrário, na GM a curiosa situação de a marca do fabricante não constar de seus produtos persiste ainda hoje. Só que as recentes turbulências no mundo da corporação, como pagar 2,1 bilhões de dólares à Fiat Auto SpA. para não ter de comprar os restantes 80% da companhia (leia editorial), queda no preço das ações e vendas em declínio no mercado americano, levaram a empresa a efetuar algumas mudanças.

Uma delas foi o presidente e executivo-chefe Rick Wagoner assumir o comando da GM North America, a mais rentável unidade do grupo, acumulando funções. Outra, dentro do que está sendo tratado neste editorial, começar já na linha 2006 a aplicar uma plaqueta com as letras GM nos produtos americanos (foto). No último Salão de Detroit, em janeiro, o conceito GM Sequel já indicava a mudança que estava por vir.

Fica claro que gigante da indústria automobilística entendeu a importância de sua quase centenária marca. O que não dá para entender foi por que demorou tanto.

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Data de publicação: 16/4/05

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