Fora de lugar

Buzina, pisca-alerta, limpador de pára-brisa: alguns
comandos deveriam estar sempre na mesma posição

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorEstive há alguns dias com o Ford Fusion — grande carro, em ambos os sentidos. Em meio às várias boas impressões, um aspecto me incomodou: uma única alavanca, à esquerda da coluna de direção, concentra os comandos de seta, comutador de farol e limpador de pára-brisa. Como se sabe, na quase totalidade dos carros nacionais esta última função fica na alavanca à direita.

O Fusion não é o único com essa configuração, seguida também por vários Mercedes-Benz, os picapes de origem americana e até o saudoso Opala. Mas é bem possível que, ao tentar acionar um comando — às vezes em emergência, como ao lavar ou varrer rapidamente o pára-brisa atingido por um jato d'água —, o motorista não habituado ao carro se confunda e acabe por efetuar o acionamento incorreto. Ou, por engano, lave o vidro quando procurava acionar outro comando, como aconteceu comigo.

Pela mesma razão, sempre fui um crítico do comando de buzina pela mesma alavanca esquerda, adotado até há algum tempo em modelos de marcas francesas e no Celta, para não falar em casos antigos. É que todos os carros nacionais de hoje (o próprio Celta era a última exceção, até abril deste ano) trazem a buzina no volante, seja em botões ou na almofada central. A crítica ao comando diferente não é, portanto, uma preferência pessoal, mas a proposta de se seguir uma convenção em prol da segurança. Comandos como esse têm de estar na mesma posição em todos os carros, para que sejam encontrados imediata e intuitivamente, mesmo por um motorista que não conheça o veículo ou que dirija vários modelos no dia-a-dia. Ou o leitor pode dizer que nunca precisou buzinar em uma emergência?

O botão do pisca-alerta é outro que causa dificuldades. Em alguns modelos está no centro do painel (onde considero ideal, ao alcance também do passageiro), em outros no console ou mesmo acima da coluna de direção. Não me esqueço de que, anos atrás, precisei frear forte com um antigo Fiesta ao encontrar uma carroça — a de tração animal, não certos carros... — em plena rodovia de pista única, a antiga Rio-São Paulo, depois de uma curva. Busquei rapidamente o pisca-alerta no painel enquanto freava, para avisar caso viesse alguém atrás, mas demorei a encontrar: era um dos casos de botão sobre a coluna.

Além de itens de segurança, há outros comandos que deveriam ser padronizados. Anos depois da proliferação de câmbios automáticos com operação manual seqüencial (dos quais o Tiptronic da Porsche foi o pioneiro, em 1989), a BMW resolveu inverter a posição das trocas, colocando as ascendentes para trás e as reduções para frente. A alegação de que esses movimentos correspondem aos do corpo do motorista por inércia, ao acelerar e desacelerar, é até válida, mas o que faz o motorista que já se acostumou ao antigo padrão? É natural que, se distraído, vá comandar algumas trocas indevidas até se habituar. Ainda bem que nesses câmbios existe salvaguarda contra mudanças que levem a excesso de rotação do motor.

O fato é que, em se tratando de comandos, a confusão entre os fabricantes e até entre modelos da mesma marca é geral. Um ato como pressionar a ponta da alavanca à esquerda do volante pode gerar efeitos os mais diversos, conforme o automóvel: buzinar, lavar o pára-brisa (Fusion), acender as luzes traseiras de neblina (Fiat Tipo), ativar o acendimento automático de faróis (Peugeot 307). A outra alavanca, do limpador, também não segue um padrão: há carros em que a posição desligada é a de cima, em outros a de baixo, e alguns até no segundo ponto a partir de cima. Como se não bastasse, ainda há quem resolva adicionar os botões do controlador de velocidade e do computador de bordo a essas alavancas, como no novo Vectra.

Diante desses exemplos — há certamente outros, que convido o leitor a comentar —, percebe-se que os fabricantes poderiam se esforçar em uma padronização, em nome da facilidade e da segurança no uso do automóvel (veja artigo de 2002 com nossas sugestões para cada caso). De qualquer modo, há de se comemorar que tenha sido extinta há muito tempo a posição inversa dos pedais, com acelerador no centro e freio à direita, vista em carros de corrida das décadas de 1940 e 1950. Não encontrar a buzina ou lavar o pára-brisa de modo involuntário não é nada bom, mas existe confusão bem pior...

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Data de publicação: 24/6/06

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