Estive há alguns dias
com o Ford Fusion — grande carro, em ambos os sentidos. Em meio às várias
boas impressões, um aspecto me incomodou: uma única alavanca, à
esquerda da coluna de direção, concentra os comandos de seta,
comutador de farol e limpador de pára-brisa. Como se sabe, na quase
totalidade dos carros nacionais esta última função fica na alavanca à
direita.
O Fusion não é o único com essa configuração, seguida também por
vários Mercedes-Benz, os picapes de origem americana e até o saudoso
Opala. Mas é bem possível que, ao tentar acionar um comando — às vezes
em emergência, como ao lavar ou varrer rapidamente o pára-brisa
atingido por um jato d'água —, o motorista não habituado ao carro se
confunda e acabe por efetuar o acionamento incorreto. Ou, por engano,
lave o vidro quando procurava acionar outro comando, como aconteceu
comigo.
Pela mesma razão, sempre fui um crítico do comando de buzina pela
mesma alavanca esquerda, adotado até há algum tempo em modelos de
marcas francesas e no Celta, para não falar em casos antigos. É que
todos os carros nacionais de hoje (o próprio Celta era a última
exceção, até abril deste ano) trazem a buzina no volante, seja em
botões ou na almofada central. A crítica ao comando diferente não é,
portanto, uma preferência pessoal, mas a proposta de se seguir uma
convenção em prol da segurança. Comandos como esse têm de estar na
mesma posição em todos os carros, para que sejam encontrados imediata
e intuitivamente, mesmo por um motorista que não conheça o veículo ou
que dirija vários modelos no dia-a-dia. Ou o leitor pode dizer que
nunca precisou buzinar em uma emergência?
O botão do pisca-alerta é outro que causa dificuldades. Em alguns
modelos está no centro do painel (onde considero ideal, ao alcance
também do passageiro), em outros no console ou mesmo acima da coluna
de direção. Não me esqueço de que, anos atrás, precisei frear forte
com um antigo Fiesta ao encontrar uma carroça — a de tração animal,
não certos carros... — em plena rodovia de pista única, a antiga
Rio-São Paulo, depois de uma curva. Busquei rapidamente o pisca-alerta
no painel enquanto freava, para avisar caso viesse alguém atrás, mas
demorei a encontrar: era um dos casos de botão sobre a coluna.
Além de itens de segurança, há outros comandos que deveriam ser
padronizados. Anos depois da proliferação de câmbios automáticos com
operação manual seqüencial (dos quais o Tiptronic da Porsche foi o
pioneiro, em 1989), a BMW resolveu inverter a posição das trocas,
colocando as ascendentes para trás e as reduções para frente. A
alegação de que esses movimentos correspondem aos do corpo do
motorista por inércia, ao acelerar e desacelerar, é até válida, mas o
que faz o motorista que já se acostumou ao antigo padrão? É natural
que, se distraído, vá comandar algumas trocas indevidas até se
habituar. Ainda bem que nesses câmbios existe salvaguarda contra
mudanças que levem a excesso de rotação do motor.
O fato é que, em se tratando de comandos, a confusão entre os
fabricantes e até entre modelos da mesma marca é geral. Um ato como
pressionar a ponta da alavanca à esquerda do volante pode gerar
efeitos os mais diversos, conforme o automóvel: buzinar, lavar o
pára-brisa (Fusion), acender as luzes traseiras de neblina (Fiat
Tipo), ativar o acendimento automático de faróis (Peugeot 307). A
outra alavanca, do limpador, também não segue um padrão: há carros em
que a posição desligada é a de cima, em outros a de baixo, e alguns
até no segundo ponto a partir de cima. Como se não bastasse, ainda há
quem resolva adicionar os botões do controlador de velocidade e do
computador de bordo a essas alavancas, como no novo Vectra.
Diante desses exemplos — há certamente outros, que convido o leitor a
comentar —, percebe-se que os fabricantes poderiam se esforçar em uma
padronização, em nome da facilidade e da segurança no uso do automóvel
(veja artigo de 2002 com nossas
sugestões para cada caso). De qualquer modo, há de se comemorar
que tenha sido extinta há muito tempo a posição inversa dos pedais,
com acelerador no centro e freio à direita, vista em carros de corrida
das décadas de 1940 e 1950. Não encontrar a buzina ou lavar o
pára-brisa de modo involuntário não é nada bom, mas existe confusão
bem pior... |