Meio século de evolução

Aos 50 anos do carro nacional, uma reflexão sobre o que
oferecia um dos melhores automóveis daquele tempo

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNo mesmo mês em que a indústria automobilística brasileira completa 50 anos — marca merecidamente celebrada no Best Cars por um artigo especial —, chega o momento de refazermos e ampliarmos o artigo de história de um dos carros mais marcantes da fase inicial de nossa produção de automóveis: o FNM 2000 JK, mais tarde chamado apenas de FNM 2000 e 2150.

Pesquisar a fundo sobre esse grande carro, em meio às revistas mais antigas de meu arquivo pessoal, trouxe uma constatação curiosa de como nosso automóvel evoluiu nesse quase meio século, tornando-nos muito mais exigentes.

É natural que, se comparássemos os carros simples da época — Volkswagen sedã, Renault Dauphine, DKW-Vemag Belcar — com os mais acessíveis de hoje, já veríamos saltos impressionantes sob qualquer aspecto. No entanto, o JK não era um automóvel comum: era o mais moderno e veloz e estava entre os mais luxuosos e seguros nacionais de seu tempo. Quem teve a oportunidade de dirigi-lo na época, como o colunista Bob Sharp, só tece elogios a sua excelência.

A modernidade estava, por exemplo, nos pioneiros pneus radiais, cuja largura de 165 mm hoje só atenderia a um carro pequeno e leve (o JK pesava 1.360 kg). O motor de 2,0 litros usava recursos de ponta — como cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas e câmaras de combustão hemisféricas — para atingir a potência de... 95 cv, o que hoje se faz com 1,4 litro. Mesmo seu torque máximo, de 15,9 m.kgf, corresponde ao de um motor 1,6 16V atual.

O JK era veloz como nenhum outro. Pelos testes da época, atingia velocidade máxima de 155 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 18 segundos. Portanto, os carros mais lentos de nosso mercado hoje, como Fiesta e Clio com motor de 1,0 litro e oito válvulas, já poderiam deixar o Alfa Romeo brasileiro para trás em uma arrancada. E modelos pouco mais potentes — um Corsa 1,0, por exemplo — o superariam também em velocidade final.

Luxo e conforto eram outras características do sedã da FNM, um de nossos primeiros carros com ventilação forçada. Ar-condicionado em 1960, nem pensar — surgiria aqui só sete anos depois no Willys Executivo, e restrito ao banco traseiro. Manobrá-lo exigia braços potentes, pois o carro deixou o mercado sem receber direção assistida, que hoje pode ser incluída em qualquer modelo pequeno. Da mesma forma, alguns dos atuais carros de entrada já vêm com conta-giros, outra de suas primazias.

E o JK era, ainda, muito seguro comparado aos concorrentes. Seus freios usavam enormes tambores aletados de alumínio, um requinte enquanto não se tornavam comuns os discos que se vêem na dianteira em qualquer carro atual. Mas não contavam com assistência, o que requeria bastante esforço no pedal. Retrovisores? Havia um só, o interno. O externo esquerdo viria apenas na década seguinte.

Longe de querer desmerecer o FNM 2000 JK, grande automóvel que tanto representou para nossa indústria, podemos ver por estes exemplos como os tempos são outros. Muitos carros atuais podem decepcionar pelo acabamento ou deixar a desejar em vários aspectos, mas em uma visão geral não restam dúvidas: o supra-sumo de 50 anos atrás hoje está presente mesmo nos modelos mais acessíveis. Ainda bem.

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Data de publicação: 16/9/06

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