No mesmo mês em que a
indústria automobilística brasileira completa 50 anos — marca
merecidamente celebrada no Best Cars por um
artigo especial —, chega o
momento de refazermos e ampliarmos o artigo de história de um dos
carros mais marcantes da fase inicial de nossa produção de automóveis:
o FNM 2000 JK, mais
tarde chamado apenas de FNM 2000 e 2150.
Pesquisar a fundo sobre esse grande carro, em meio às revistas mais
antigas de meu arquivo pessoal, trouxe uma constatação curiosa de como
nosso automóvel evoluiu nesse quase meio século, tornando-nos muito
mais exigentes.
É natural que, se comparássemos os carros simples da época —
Volkswagen sedã, Renault Dauphine, DKW-Vemag Belcar — com os mais
acessíveis de hoje, já veríamos saltos impressionantes sob qualquer
aspecto. No entanto, o JK não era um automóvel comum: era o mais
moderno e veloz e estava entre os mais luxuosos e seguros nacionais de
seu tempo. Quem teve a oportunidade de dirigi-lo na época, como o
colunista Bob Sharp, só tece elogios a sua excelência.
A modernidade estava, por exemplo, nos pioneiros pneus radiais, cuja
largura de 165 mm hoje só atenderia a um carro pequeno e leve (o JK
pesava 1.360 kg). O motor de 2,0 litros usava recursos de ponta — como
cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas e câmaras de combustão
hemisféricas — para atingir a potência de... 95 cv, o que hoje se faz
com 1,4 litro. Mesmo seu torque máximo, de 15,9 m.kgf, corresponde ao
de um motor 1,6 16V atual.
O JK era veloz como nenhum outro. Pelos testes da época, atingia
velocidade máxima de 155 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 18
segundos. Portanto, os carros mais lentos de nosso mercado hoje, como
Fiesta e Clio com motor de 1,0 litro e oito válvulas, já poderiam
deixar o Alfa Romeo brasileiro para trás em uma arrancada. E modelos
pouco mais potentes — um Corsa 1,0, por exemplo — o superariam também
em velocidade final.
Luxo e conforto eram outras características do sedã da FNM, um de
nossos primeiros carros com ventilação forçada. Ar-condicionado em
1960, nem pensar — surgiria aqui só sete anos depois no Willys
Executivo, e restrito ao banco traseiro. Manobrá-lo exigia braços
potentes, pois o carro deixou o mercado sem receber direção assistida,
que hoje pode ser incluída em qualquer modelo pequeno. Da mesma forma,
alguns dos atuais carros de entrada já vêm com conta-giros, outra de
suas primazias.
E o JK era, ainda, muito seguro comparado aos concorrentes. Seus
freios usavam enormes tambores aletados de alumínio, um requinte
enquanto não se tornavam comuns os discos que se vêem na dianteira em
qualquer carro atual. Mas não contavam com assistência, o que requeria
bastante esforço no pedal. Retrovisores? Havia um só, o interno. O
externo esquerdo viria apenas na década seguinte.
Longe de querer desmerecer o FNM 2000 JK, grande automóvel que tanto
representou para nossa indústria, podemos ver por estes exemplos como
os tempos são outros. Muitos carros atuais podem decepcionar pelo
acabamento ou deixar a desejar em vários aspectos, mas em uma visão
geral não restam dúvidas: o supra-sumo de 50 anos atrás hoje está
presente mesmo nos modelos mais acessíveis. Ainda bem. |