Na manhã desta
sexta-feira, ao conversar com o colunista Bob Sharp sobre as
mudanças do Corsa 2008, não demorei a perguntar se a General Motors
havia mesmo — como me parecia pelas fotos de divulgação — descartado
o painel com instrumentos brancos da versão Premium. Diante da
resposta positiva, minha sensação foi a de ter vencido uma batalha
de quase oito anos.
Não tenho nada contra instrumentos brancos, um recurso até comum
para diferenciar versões esportivas ou de topo. Só que a GM, desde
que os adotou no Corsa Wind modelo 2000, cometeu um erro: iluminou
os mostradores com uma luz branca-amarelada por trás, que os deixava
como lanternas à noite. Não só o resultado estético era discutível:
o esquema também incomodava os olhos do motorista, que acabava por
reduzir a intensidade da luz quando houvesse ajuste. Apesar de o
Best Cars ter se engajado contra essa solução durante anos, só
agora a GM a abandona no Corsa, como se espera que faça nos modelos
que ainda a usam.
Detalhes errados ou discutíveis nos carros não são poucos. A
Volkswagen criou um problema semelhante na recente remodelação do
Golf. No esportivo GTI os instrumentos agora têm fundo claro e
iluminação em branco — à primeira vista, um progresso em relação ao
arranjo de azul e vermelho, que sempre criticamos pela falta de
contraste com o fundo preto. O problema está nos mostradores do
relógio e do hodômetro: com forte luz branca, incomodam tanto à
noite que o motorista tem de reduzir sua intensidade, à custa da
leitura de outros mostradores (do rádio e do ar-condicionado) que
continuam em azul.
Por falar em azul e luz, a Ford conseguiu errar no Fiesta 2008 em
algo que surpreende: a luz-piloto que indica o uso de farol alto é
muito intensa, a mais forte que já vimos nessa função. Como um
fabricante centenário pode falhar em algo tão simples? Ao menos a
empresa abandonou nesse modelo — como fizera a GM no Celta 2007 — os
mostradores de cristal líquido para combustível e temperatura, que
por outro lado apareceram agora em Nissan Sentra, Renault Logan e
Palio ELX (apenas combustível neste último).
Posição e formato de comandos e funções é uma fonte comum de
problemas. Há casos de controles de ar-condicionado baixos demais,
que exigem afastar os olhos da estrada (Golf, Vectra); difusores de
ar também muito baixos, que impedem a refrigeração homogênea do
interior (Palio, Idea); rádios com botões pequenos e confusos
(modelos VW, Ford e GM, exceto os que usam aparelhos de tamanho
maior); controles elétricos de vidros à frente da alavanca de câmbio
e sem função um-toque (Citroën C3)
ou muito baixos nas portas (Scénic); conta-giros do tamanho do
mostrador de combustível, quase inútil (Gol e Fox); painel sem
porta-luvas (Fox); miolo de ignição que assume posição incômoda ao
dar partida (também Fox).
Tem mais. Comutador de farol que não garante o acendimento em facho
baixo a fim de evitar ofuscamento (Focus, S10 e Blazer); tomada de
energia longe do painel e retrovisores externos com um recorte que
prejudica o campo visual (Idea); estepe voltado para baixo no
porta-malas, um estorvo na hora de verificar a pressão (Civics
antigo e atual); volante longe do motorista e sem ajuste em
distância (Corolla); rádio que não funciona com a ignição desligada
(marcas japonesas em geral); chave com botões que acabam
pressionados sem querer, ao dar partida ou retirá-la do miolo (Palio
2008); alavanca de câmbio baixa demais, talvez esquecida na
transformação em minivan (Meriva e Zafira). E, como já foi tema do
Editorial, colunas dianteiras muito largas,
avançadas e às vezes em duplicidade, um atentado à segurança (Fox,
Meriva, Idea, Picasso). Ao menos o botão de buzina em posição não
usual, na alavanca da coluna de direção (equipava Celta e modelos
Peugeot e Citroën), já pertence ao passado.
E quanto ao funcionamento dos comandos? Na linha Ford o temporizador
do limpador de pára-brisa tem intervalo excessivo. No novo Civic o
controle elétrico dos vidros desativa-se ao abrir a porta, quando
deveria aguardar o fechamento da janela. No Vectra as alavancas da
coluna de direção são curtas, estranhas de usar e repletas de
pequenos botões. No Focus e no Stilo o encosto do banco, ao não
acompanhar o ajuste de altura do assento, dificulta encontrar uma
posição confortável para a região lombar. A buzina de vários
Peugeots e Citroëns, desde que passou à almofada do volante, requer
esforço e impede aquele toque breve comum em agradecimentos no
trânsito.
Há certamente mais exemplos, muitos citados em nossas avaliações (e
o leitor, claro, está convidado a enviar suas sugestões), que
mostram como é difícil um fabricante acertar em tudo o que compõe um
carro. Errar é humano, sei disso, mas uma falha que não se repete
nos concorrentes indica que o fabricante deve reestudar o caso com
rapidez. Em alguns casos, porém, só a teimosia explica insistir por
oito anos em uma solução criticável como o painel branco do Corsa e
outros modelos da GM, que já vai tarde. |