Já vai tarde

A GM abandona no Corsa os instrumentos de fundo branco,
solução infeliz entre muitas nos carros nacionais

por Fabrício Samahá

Fabrício Samahá, editorNa manhã desta sexta-feira, ao conversar com o colunista Bob Sharp sobre as mudanças do Corsa 2008, não demorei a perguntar se a General Motors havia mesmo — como me parecia pelas fotos de divulgação — descartado o painel com instrumentos brancos da versão Premium. Diante da resposta positiva, minha sensação foi a de ter vencido uma batalha de quase oito anos.

Não tenho nada contra instrumentos brancos, um recurso até comum para diferenciar versões esportivas ou de topo. Só que a GM, desde que os adotou no Corsa Wind modelo 2000, cometeu um erro: iluminou os mostradores com uma luz branca-amarelada por trás, que os deixava como lanternas à noite. Não só o resultado estético era discutível: o esquema também incomodava os olhos do motorista, que acabava por reduzir a intensidade da luz quando houvesse ajuste. Apesar de o Best Cars ter se engajado contra essa solução durante anos, só agora a GM a abandona no Corsa, como se espera que faça nos modelos que ainda a usam.

Detalhes errados ou discutíveis nos carros não são poucos. A Volkswagen criou um problema semelhante na recente remodelação do Golf. No esportivo GTI os instrumentos agora têm fundo claro e iluminação em branco — à primeira vista, um progresso em relação ao arranjo de azul e vermelho, que sempre criticamos pela falta de contraste com o fundo preto. O problema está nos mostradores do relógio e do hodômetro: com forte luz branca, incomodam tanto à noite que o motorista tem de reduzir sua intensidade, à custa da leitura de outros mostradores (do rádio e do ar-condicionado) que continuam em azul.

Por falar em azul e luz, a Ford conseguiu errar no Fiesta 2008 em algo que surpreende: a luz-piloto que indica o uso de farol alto é muito intensa, a mais forte que já vimos nessa função. Como um fabricante centenário pode falhar em algo tão simples? Ao menos a empresa abandonou nesse modelo — como fizera a GM no Celta 2007 — os mostradores de cristal líquido para combustível e temperatura, que por outro lado apareceram agora em Nissan Sentra, Renault Logan e Palio ELX (apenas combustível neste último).

Posição e formato de comandos e funções é uma fonte comum de problemas. Há casos de controles de ar-condicionado baixos demais, que exigem afastar os olhos da estrada (Golf, Vectra); difusores de ar também muito baixos, que impedem a refrigeração homogênea do interior (Palio, Idea); rádios com botões pequenos e confusos (modelos VW, Ford e GM, exceto os que usam aparelhos de tamanho maior); controles elétricos de vidros à frente da alavanca de câmbio e sem função um-toque (Citroën C3) ou muito baixos nas portas (Scénic); conta-giros do tamanho do mostrador de combustível, quase inútil (Gol e Fox); painel sem porta-luvas (Fox); miolo de ignição que assume posição incômoda ao dar partida (também Fox).

Tem mais. Comutador de farol que não garante o acendimento em facho baixo a fim de evitar ofuscamento (Focus, S10 e Blazer); tomada de energia longe do painel e retrovisores externos com um recorte que prejudica o campo visual (Idea); estepe voltado para baixo no porta-malas, um estorvo na hora de verificar a pressão (Civics antigo e atual); volante longe do motorista e sem ajuste em distância (Corolla); rádio que não funciona com a ignição desligada (marcas japonesas em geral); chave com botões que acabam pressionados sem querer, ao dar partida ou retirá-la do miolo (Palio 2008); alavanca de câmbio baixa demais, talvez esquecida na transformação em minivan (Meriva e Zafira). E, como já foi tema do Editorial, colunas dianteiras muito largas, avançadas e às vezes em duplicidade, um atentado à segurança (Fox, Meriva, Idea, Picasso). Ao menos o botão de buzina em posição não usual, na alavanca da coluna de direção (equipava Celta e modelos Peugeot e Citroën), já pertence ao passado.

E quanto ao funcionamento dos comandos? Na linha Ford o temporizador do limpador de pára-brisa tem intervalo excessivo. No novo Civic o controle elétrico dos vidros desativa-se ao abrir a porta, quando deveria aguardar o fechamento da janela. No Vectra as alavancas da coluna de direção são curtas, estranhas de usar e repletas de pequenos botões. No Focus e no Stilo o encosto do banco, ao não acompanhar o ajuste de altura do assento, dificulta encontrar uma posição confortável para a região lombar. A buzina de vários Peugeots e Citroëns, desde que passou à almofada do volante, requer esforço e impede aquele toque breve comum em agradecimentos no trânsito.

Há certamente mais exemplos, muitos citados em nossas avaliações (e o leitor, claro, está convidado a enviar suas sugestões), que mostram como é difícil um fabricante acertar em tudo o que compõe um carro. Errar é humano, sei disso, mas uma falha que não se repete nos concorrentes indica que o fabricante deve reestudar o caso com rapidez. Em alguns casos, porém, só a teimosia explica insistir por oito anos em uma solução criticável como o painel branco do Corsa e outros modelos da GM, que já vai tarde.

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Data de publicação: 23/6/07

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