O penta de Balcarce

Campeão da Fórmula 1 por cinco vezes em um tempo de heróis,
Juan Manuel Fangio foi exemplo de ousadia e de caráter

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

O começo nas pistas: de Ford V8 em 1938 na primeira prova oficial (foto 1), no Chevrolet cupê (fotos 2 e 3) com o qual teria sua primeira vitória em 1940 e no Ford "La Negrita", com motor Chevrolet, em 1947 (foto 4)

A carreira internacional iniciava-se em 1948 com Maserati 4 CLT (foto) e Simca-Gordini; um ano depois vencia seis provas por diversas marcas

Os mais jovens pouco ouviram falar de um piloto fabuloso, um dos maiores de todos os tempos: Juan Manuel Fangio. Os argentinos têm muito orgulho desse homem que honrou sua pátria nas corridas, dentro e fora de seu país, conhecido também pelo carinhoso apelido de "El Chueco" (O Manco). Ele foi pentacampeão Mundial de Fórmula 1, ultrapassado em número de campeonatos apenas recentemente por Michael Schumacher.

Fangio nasceu em 24 de junho de 1911 na pequena cidade de Balcarce, a cerca de 400 quilômetros ao norte da capital Buenos Aires. De ascendência italiana, desde criança mostrou-se pouco estudioso, mas muito curioso em mecânica. Também gostava de futebol e, por causa das pernas arqueadas, recebeu o apelido de Manco. O primeiro carro que viu foi um monocilindro de um vizinho. Encantado, foi aconselhado pelo pai a estudar aquela máquina. Tornou-se aprendiz de mecânico em uma concessionária Rugby. Com apenas 12 anos, dirigiu um com carroceria de alumínio. Foi paixão imediata. Um ano depois passava a uma concessionária Studebaker. Dedicado e competente, aos 14 era mecânico montador.

Fez amizades sinceras e duradouras. Uma foi com o corredor Miguel Viggiano, com quem trabalhou como mecânico. Com poucos recursos, ambos tornavam as máquinas mais rápidas. Dele Fangio ganhou uma moto Indian. Pouco depois gostou de um Overland de quatro cilindros. Aos 15 anos, não ia mais à escola. Mas problemas renais e pulmonares o perturbavam quando fazia esforço físico por muito tempo. Já maior de idade, Juan se iniciava nas competições como mecânico co-piloto, em carros de amigos, como Manuel Ayerza, e corridas longas por estradas nem sempre boas. Mas seu sonho era mudar de lado: pilotar. A estréia se deu com um Ford Modelo A 1929 em outubro de 1936. Tudo no carro foi cotizado por amigos e parentes.

Para que a família não soubesse, usou o pseudônimo Rivadavia, seu time de futebol em Balcarce. Foi repreendido pelo pai, não por ter corrido e sim pela mentira. Seu objetivo ainda não era ganhar, mas fazer publicidade da oficina em que a equipe trabalhava. Toto, apelido do irmão mais novo Ruben, já participava. Em 1938 Fangio já pilotava em provas maiores na cidade litorânea de Necochea. Em circuitos especiais, ao lado do companheiro Bianchilli, pilotou um Ford V8 1934 com motor 1938 numa prova que seria sua primeira oficial e, entre 24 concorrentes, terminou em quinto. Também neste ano participou de sua primeira carretera — provas de longas distâncias muito afamadas por lá — com um Ford cupê. Correu ainda o GP Circuito Sul Americano, com etapas no Brasil, na Argentina, no Peru, Equador, na Colômbia e Venezuela. Foram mais de 7.300 km. Juan Manuel e Luis Finochietti terminaram em quinto lugar.

Em 1939 trocava de carro, agora um Chevrolet Business cupê verde ano 1938. Com pára-lamas cortados e motor alterado, enfrentou a duríssima corrida Gran Premio Internacional del Norte de 1940, com 9.445 km em diversos tipos de estrada, na maioria péssimas, de Buenos Aires a Lima, no Peru. Ida e volta, à média de 130 km/h, duraram duas semanas — e foi vencida por Fangio. Na Mil Milhas Argentinas ele ficou em oitavo lugar. Nesse ano sagrou-se campeão argentino na categoria. No ano seguinte, com o mesmo Chevrolet, veio ao Brasil e ganhou o GP Getúlio Vargas. Em seu país tornou a vencer provas importantes, tornando-se bicampeão. Já mostrava ser muito rápido tanto em piso seco quanto molhado.

Em 1941 repetia o campeonato e em 1942 ganhou, de Chevrolet, a corrida no Circuito Mare e Monti. Durante cinco anos no mundo inteiro as corridas foram interrompidas por causa da Segunda Guerra Mundial. Fangio manteve-se focado em sua oficina. Em 1946 era criada a categoria Mecânica Nacional, da qual podiam participar monopostos modificados. Um muito interessante dos irmãos Fangio foi um Ford T com motor Chevrolet de quatro cilindros, depois trocado por um seis-em-linha de 90 cv. Atingia 170 km/h e, por causa da cor, tinha o apelido de “La Negrita”. Ganhou em 1947 uma corrida diante de carros bem mais modernos e potentes. Usou também um Volpi-Chevrolet preparado e encerrou a temporada com um Chevrolet TC.

Em 1948 corria em Buenos Aires, Rosário e Mar del Plata, ora de Maserati 1,5-litro, ora de Simca-Gordini 1,2-litro. Em Reims, França, pilotava um Simca-Gordini de 1.430 cm³. Começava ali a carreira internacional. No ano seguinte participou de provas tanto na Argentina quanto na Europa. Em seu país usava o Volpi-Chevrolet na categoria de Carros Especiais e o TC na de carreteras. Na Europa vencia em San Remo, Itália e em Pau, Perpignan e Albi, na França, com um Maserati 4 CLT/48. Em Marselha ganhou de Simca-Gordini e em Monza, Itália, de Ferrari 166 F2. Suas qualidades estavam mais que provadas. Continua

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Data de publicação: 2/12/08

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