De Detroit a Belfast

Depois de uma carreira na GM marcada pelo sucesso dos esportivos,
John Zachary DeLorean fracassou com seu carro feito na Irlanda

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

DeLorean em 1965, quando se tornou diretor geral da divisão Pontiac, e o primeiro dos "carros musculosos", desenvolvido sob sua tutela: GTO

O engenheiro ao lado do Firebird, outro grande Pontiac lançado em seu período, e no começo dos anos 70, tempo de brilho e prestígio para ele

O mundo do automóvel está cercado de cidades-símbolo muito importantes. Na Itália falamos de Milão e nos vem à cabeça a Alfa Romeo; Turim nos traz a Fiat, a Abarth e a Lancia; a Ferrari está na mítica Modena. Na Inglaterra temos em Coventry a sede da Jaguar e Crewe até hoje abriga a Bentley. Na França, Sochaux é sinônimo de Peugeot e, na Alemanha, Stuttgart remete a Mercedes-Benz e Porsche, enquanto Munique é sede da BMW. Nos Estados Unidos, Detroit — no estado de Michigan, no norte do país — foi a "capital do automóvel" em termos mundiais por muito tempo.

Estão lá a Ford (em Dearborn, na região metropolitana) e a General Motors, que reunia as divisões Chevrolet, Oldsmobile, Buick, Pontiac e GMC. E foi lá também que nasceu John Zachary DeLorean, em 6 de janeiro de 1925. Era filho de Zachary Delorean, de descendência romena, e Kathryn Pribak, de origem húngara, e viviam numa pequena casa de classe média baixa. John, o mais velho de três irmãos, desde cedo se mostrou um aplicado aluno, com destaque para as ciências exatas. O pai, operário das fundições da Ford, de uma forma ou outra influenciou a carreira do filho. Seu ensino médio foi na Cass Technical High School, em Detroit, que teve outro prestigiado aluno que amava automóveis: Preston Tucker.

Entre 1942 e 1945 DeLorean prestou serviço militar e serviu na guerra. Teve que interromper seus estudos de engenharia mecânica no Instituto de Tecnologia de Lawrence, que conseguiu concluir em 1948. Dois anos depois, aos 25 de idade, estava sedento por mais conhecimento e ingressava no MS Automotive Engineering ou Chrysler Institute. Trabalhou na empresa sem muito entusiasmo e, em 1952, foi trabalhar na Packard com o amigo e chefe de engenharia Forest McFarland, criador da caixa automática Ultramatic. Em 1954 terminava seu MBA na Universidade de Michigan e casava-se com Elizabeth Higgins.

Em 1956 já sabia dos problemas da companhia, que partilhava as linhas e plataformas com a Studebaker, e recebeu um convite para trabalhar na maior empresa dos EUA e maior produtora de automóveis do mundo. Era a grande chance de uma bela carreira na General Motors. O convite veio de Semon E. "Bunkie" Knudsen, graduado em engenharia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e filho de um ex-presidente da GM, William S. Knudsen. Bunkie era o responsável pela divisão Pontiac e havia muito seguia os trabalhos de jovens engenheiros. Treze anos mais velho que John Zachary, sabia muito bem “caçar” talentos para o grupo.

A Pontiac na época era tida como uma marca de carros para senhores sisudos e sérios. Quem gostava da marca eram os tradicionais, não havia gente nova. Essa fleuma tinha de ser mudada. A Chevrolet era a mais popular, a Buick e a Oldsmobile tinham seu público cativo na classe média e a Cadillac era para os sofisticados. Faltava uma divisão com esportividade e jovialidade, aliadas à discrição, sem ter que ousar demais e aproveitando o uso de componentes de outras marcas. Em 1957 a Pontiac tinha os modelos Bonneville, Catalina, Skychief, StarChief e a perua Safari.

Os primeiros anos de DeLorean na divisão foram bons. Aperfeiçoou os automóveis nas partes de transmissão e de freios e em 1961 já era o chefe de engenharia. Um novo projeto estava em andamento e DeLorean estava engajado nele: o compacto Tempest, com a nova imagem da marca que se prolongaria por anos — a grade dianteira separada. Em 1964 um carro lançado sob a tutela desse engenheiro audaz mudaria o cenário norte-americano. O Tempest recebia um motor V8 de 389 pol³, ou 6,4 litros, e assumia a denominação GTO. Nascia o primeiro muscle car, ou carro musculoso, do país. Fez surgir toda uma tendência de carros compactos — para os padrões de lá — com motores grandes e muita potência. Dentro do próprio grupo, Buick, Oldsmobile e Chevrolet seguiram a receita à risca, assim como as concorrentes Chrysler, Ford e American Motors. A febre durou uma década até sucumbir à crise do petróleo e às normas de emissões. Continua

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Data de publicação: 16/6/09

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