Kiyoshi Kawashima, que em 1951
projetou o motor da Dream Tipo E, pilota-a 40 anos depois; embaixo a
Super Cub, sucesso de 60 milhões
Soichiro com o amigo Takeo
Fujisawa (à direita, foto superior), que já em 1949 se tornou seu sócio,
e ao lado de um piloto de moto de corrida
O roadster S360, um dos
primeiros automóveis da Honda, e o carro de Fórmula 1 de 1964: outros
objetivos que Soichiro realizou com sucesso |
Seu objetivo era o mercado mundial: entendia que, se fizesse sucesso no
exterior, o consumidor local também o prestigiaria. Não seria um caminho
fácil, porém — no começo daquela década a Honda esteve perto da
falência. Uma situação que melhoraria com a chegada da Dream C70, em
1957, e da Super Cub C100 um ano depois — estrondoso sucesso que hoje
acumula mais de 60 milhões de unidades vendidas. Antes delas vieram a
Dream E (de quatro tempos e 150 cm³) em 1951, a Cub F (50 cm³) um ano
depois e a Benly J (90 cm³) em 1953.
Soichiro era considerado um grande líder. Dava oportunidade a novos
talentos, ensinava muito e ouvia com frequência a opinião de seus
funcionários, deixando-os à vontade para sugerir melhorias. Dava muita
atenção à qualidade. Entendia que um produto que pudesse ser feito em
passos fáceis poderia ser bem feito, e um produto que cumprisse sua
função com confiabilidade agradaria a seu usuário. "Não faça nada que dê
problema a seu cliente! Ao construir alguma coisa, pense em quem vai
passar o maior tempo com ela", dizia sempre.
Sua fórmula de trabalho era: reconheça uma necessidade, crie uma forma
única de satisfazê-la, agregue desempenho, qualidade e confiabilidade
incomuns e seu produto será bem-sucedido. Foi com esse método que ele
criou a série Cub, motonetas acessíveis e simples de usar e de manter,
mas com qualidade e durabilidade surpreendentes — impressiona quantas
ainda rodam décadas após sua fabricação. E foi assim que a empresa
chegou à liderança do mercado japonês de motos, em 1959.
Desafios eram uma paixão do empresário. Ao começar a exportar suas
motos, também em 1959, escolheu logo o competitivo mercado
norte-americano, que outras marcas evitavam, preferindo ganhar espaço na
Europa e no restante da Ásia. Contudo, o governo japonês impôs limites
aos investimentos que poderiam deixar o país, reduzindo em 25% o
montante que Soichiro pretendia usar. Além disso, as motos tiveram
problemas de qualidade que não ajudariam a firmar a marca no exigente
mercado. Ele então levou-as de volta ao Japão e refez grande parte de
seu projeto, de modo a oferecer produtos adequados à realidade dos
Estados Unidos, que incluía o tráfego a velocidades bem mais altas que
no país de origem. Em 1963 a Honda se tornaria líder de vendas nos EUA
e, cinco anos depois, chegaria à milionésima moto produzida.
Atento a tendências de mercado, Soichiro acompanhava também o setor de
competições em busca de novas tecnologias para suas motos. Em 1961 a
Honda vencia a prova Tourist Trophy na Ilha de Man, no Reino Unido, nas
categorias de 125 e 250 cm³. Ele agora tinha outro plano em mente:
fabricar automóveis. O Ministério do Comércio Internacional e da
Indústria (MITI) do Japão, porém, negou-lhe apoio financeiro por ele não
participar do zaibatsu, sistema em que as empresas eram controladas por
famílias. O MITI pretendia que o Japão tivesse apenas dois grandes
fabricantes de carros (Toyota e Nissan) para disputar o mercado mundial
e mais um de minicarros, em vez das 10 marcas atuantes até então.
Soichiro não se incomodou e lançou, assim mesmo, o utilitário T360 e o
roadster S360.
Enquanto ampliava suas opções de carros e motos, a Honda ingressava em
competições automobilísticas com sucesso. Começou em 1963 e, dois anos
mais tarde, vencia o GP do México de Fórmula 1, categoria em que
estreara no ano anterior. Dali em diante, Soichiro comandou numerosos
passos da empresa. Ainda em 1963 inaugurava uma linha de produção na
Bélgica; dois anos depois lançava o primeiro gerador portátil de
energia, abrindo um importante mercado para a Honda; em 1968 a marca
subia de categoria com o modelo 1300. Mais um ano e chegava a
CB 750 Four, que marcou a classe de
motos de grande cilindrada; em 1972 e 1976 chegavam às ruas os longevos
Civic e
Accord, na ordem. A empresa foi
também a primeira das japonesas a fabricar
carros nos EUA, de 1980 em diante, um novo passo no objetivo de êxito
mundial de seu fundador.
Assim como não deu seguimento à oficina de bicicletas de seu pai,
Soichiro firmou com o sócio e amigo Fujisawa o acordo de ambos jamais
forçarem seus filhos a entrar no negócio. Em 1973 ele abdicava da
presidência da empresa e se tornava consultor sênior; quatro anos mais
tarde, aos 71 de idade, lançava a Fundação Honda. Em 1983 deixava em
definitivo o fabricante aos 77. Morreu aos 84 anos em Tóquio em 5 de
agosto de 1991, deixando esposa e três filhos.
Soichiro Honda dava muito valor ao esforço — dizia que "o sucesso
representa o 1% de seu trabalho que resulta dos 99% de fracasso" — e
nenhum à posição social. Defendia que roupas de trabalho e boné
servissem tanto para visitar oficinas quanto para reuniões de negócios.
Esperava ser julgado por seus atos, não pelo corte de seu terno.
Acessível, passeava pela fábrica conversando com os empregados, ouvindo
e dando sugestões, verificando seu trabalho. Ele entendia que a ambição
não é um pecado e ajudou a mostrar ao mundo que o sucesso pode ser a
maior recompensa pelo trabalho árduo. Tal como aconteceu quando
perseguiu o primeiro carro que viu, passou sua vida correndo com todo o
empenho atrás do que parecesse estar além de seu alcance.
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