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O carro do Santo

Famoso pela série da TV inglesa, o Volvo P 1800 trazia
uma esportividade que demorou a voltar à Suécia

Texto: Francis Castaings

A Volvo -- nome que em latim significa "eu rodo" -- é a mais antiga empresa sueca de automóveis. Fundada em 1927, no princípio fabricava automóveis muito parecidos com os norte-americanos, mas na década de 40 passou a construir modelos mais originais. Seus carros sempre se destacaram mundialmente pela segurança e robustez. Estudo feito na década de 80 revelou que um Volvo tinha a média de vida de 19,5 anos, a mais alta entre todos os automóveis do mundo.

Em 1956 a fabrica nórdica, situada em Göteborg, estava interessada em um cupê esporte. Os primeiros desenhos foram feitos pelo estúdios italianos Frua e Ghia, e um terceiro, pelo sueco Pelle Peterson, que já havia trabalhado na Frua. Este foi o escolhido -- e, em janeiro de 1960, no salão de Bruxelas, na Bélgica, o cupê P1800 era apresentado. Seu desenho fugia da rotina, não era nada ortodoxo.

Era um 2+2 com linhas arredondadas, frente longa e baixa e a traseira distinta, com sutis aletas nos pára-lamas. Detalhe interessante era o friso cromado lateral que saía do meio da linha do pára-lama dianteiro e findava, fazendo uma curva ascendente, após a porta dianteira. A grade frontal, oblonga, tinha pequenos retângulos e a seus lados dois grandes faróis redondos.

O interior era muito bem cuidado e acabado. O volante de três raios -- o último usado pela marca até retornar no novo S60 -- tinha boa empunhadura e tamanho correto. O painel, acolchoado, era completo e os bancos esportivos, mas confortáveis.

O motor de 1,8 litro, alimentado por dois carburadores horizontais SU, desenvolvia 108 cv a 6.000 rpm e era muito leve: só 143 kg, graças ao emprego de alumínio em alguns componentes. O peso total do carro era de 1.120 kg. O câmbio tinha quatro marchas sendo a última overdrive, recurso bastante apreciado na Suécia e uma característica Volvo na época.

Fazia de 0 a 100 km/h em 11,5 s e chegava a 175 km/h, desempenho muito interessante para a época. Tinha boa estabilidade em curvas, apesar dos estreitos pneus 165-15. Contava com freios a disco da marca Girling na dianteira e tambores atrás, com servofreio. Vários componentes mecânicos vinham do sedã 122 S, famoso em todo o mundo.

Os primeiros 250 cupês foram fabricados na Suécia; os outros seriam fabricados na Inglaterra pela Jensen (leia história), devido à baixa capacidade de produção da fábrica sueca. Mas, insatisfeita com o ritmo de produção, a Volvo se expandiu, construiu uma fábrica dois anos depois e passou a fabricar todos em seu próprio território. Então, a partir de 1963, o carro passou a se chamar 1800 S -- não de sport e sim de Sweden, ou Suécia.

Apesar das linhas pouco comuns, fazia sucesso na Europa e nos Estados Unidos. Alguns americanos o comparavam em prazer de dirigir ao Porsche 356 e aos antigos Ford Thunderbird -- só que era bem mais barato. Em 1965 o motor passava a 115 cv, com novo comando de válvulas. Em 1968 crescia para 2,0 litros e ganhava injeção eletrônica Bosch D-Jetronic, o que fez a potência aumentar para 130 cv e a velocidade final para 190 km/h. Com a denominação 1800 E, chegava a 100 km/h em 10 s. As rodas passavam a ser de alumínio, com pneus 185/70-15.

Em 1971 aparecia a 1800 ES, uma perua esportiva desenhada pelo italiano Coggiola. Destacava-se a grande porta traseira de vidro, sem armação, com dobradiças que vinham do teto e, embaixo, uma maçaneta cromada para sua abertura. Na lateral, atrás das portas dianteiras, havia outro grande vidro. Resultou num estilo interessante e único.

O primeiro P 1800 ficou mundialmente famoso graças ao sucesso da série de TV britânica O Santo. O ator Roger Moore, em inicio de carreira, na pele do detetive Simon Templar, fazia suas investigações a bordo de um modelo branco. A Jaguar foi sondada na época para usar o E-type, mas não quis patrocinar os episódios. A empresa sueca apostou e lucrou...

O cupê foi fabricado até 1971 e sua carroceria quase não sofreu alterações durante toda a produção. A produção da perua ES terminou em 1973. Ao total, foram produzidos 47.400 desses Volvos, símbolos de uma época de esportividade e dinamismo que demorou a retornar à fábrica sueca.