Um campeão na contramão

O Auburn Speedster conquistou recordes e corações,
mas por um equívoco de marketing nunca vendeu bem

É curioso como nos anos 30, sob a sombra de sua maior recessão econômica, os Estados Unidos viram nascer alguns de seus mais sofisticados automóveis. Surgiram Duesenberg J e SJ, Cadillac V16, Cord 810/812, Chrysler Airflow e, entre outros, o Auburn Speedster. Este último até hoje arranca suspiros. No entanto teve um único, porém fatal defeito: seu preço. Era caro demais para o público em geral e, apesar da sua excelência no desenho e na engenharia, seus anúncios enfatizavam o preço bem abaixo dos concorrentes. A aparente vantagem dava fama de barato ao que deveria ser um símbolo de status.

Conterrânea da Studebaker no estado americano de Indiana, a Auburn Automobile Company surgiu na cidade que lhe deu o nome em 1900. A empresa pertencia aos irmãos Frank e Morris Eckhart, que já fabricavam carruagens na Eckhart Carriage Company. Eles usavam motores, chassis e eixos de diversos fornecedores e vendiam seus carros localmente. Em 1903 levaram ao Salão de Chicago um modelo Runabout, com motor de um cilindro e transmissão por corrente, que despertou interesse no público. Seus veículos evoluíram para dois cilindros em 1905, quatro em 1909 e seis em 1912.

Modesta, a empresa comercializava cerca de 2.500 carros por ano num esquema de demonstrações ao público sem lojas próprias. Dificuldades financeiras na década de 1910 levaram um grupo de investidores de Chicago a socorrê-la em 1919. A falta de experiência no setor da nova direção, aliada à crise econômica, fez com que a Auburn quase falisse em 1924, mesmo com o atraente Beauty Six na linha. A produção quase parou e centenas de carros estavam sobrando no pátio. Foi quando chegou o gerente-geral Errett Lobban Cord, um empreendedor de 30 anos, que já fizera sucesso em Chicago vendendo carros da marca Moon.

Cord priorizou a venda do estoque elevado e decidiu baixar o teto dos carros, pintá-los de cores vivas e revesti-los com quantidades generosas de níquel. O resultado foi o pátio logo esvaziado e um lucro para a Auburn. Em 1926 ele já dirigia a empresa, para a qual organizou entregas sistematizadas e uma rede de concessionárias. Cord ainda criaria um grupo que incluiu a lendária Duesenberg, além de importantes fornecedores, como a fábrica de motores Lycoming. Em 1928 surgia o primeiro Speedster, uma opção de carroceria que ganharia prestígio de modelo exclusivo e seria mais notória que todos os outros Auburns.

O desenho, de autoria do Conde Alexis de Sakhnoffsky, era notável pela inclinação acentuada do pára-brisa em "V" sobre uma longa e alta dianteira, combinada à traseira curta e baixa à moda boat-tail. Nesse estilo popular entre os conversíveis da época, os lados do carro terminam voltados para o centro, formando um bico na traseira, semelhante à proa (frente) de um barco. Eram linhas adotadas por fabricantes de renome como a versão mais esportiva da linha. O Auburn Speedster vinha em duas cores, outra característica comum nesse tipo de carroceria.

Os motores Lycoming 8-115 e 8-77 do Speedster tinham oito cilindros em linha e eram derivados do 8-88 introduzido em 1925. O primeiro rendia potência bruta de 115 cv a 3.300 rpm. Havia um seis-cilindros para outros modelos da linha. A grande inovação técnica do ano era a adoção de comando hidráulico dos freios, no lugar do mecânico. Havia outras carrocerias disponíveis, como o sedã phaeton conversível apresentado em simultâneo ao Speedster. Os preços eram comparáveis aos Buicks do período, bem abaixo dos concorrentes supersofisticados, como o Stutz Blackhawk, que custava mais de duas vezes e meia os 1.895 dólares do Speedster 8-115. Continua

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Data de publicação: 15/2/05

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