A Kaiser era a marca mais popular, tanto nos preços quanto na aceitação, do grupo Kaiser-Frazer, surgido após a Segunda Guerra Mundial. A empresa foi criada pelo armador Henry J. Kaiser e Joseph Frazer, que havia comandado a Graham-Paige antes do conflito. A outra marca do grupo era a Frazer e as duas divisões foram rápidas ao lançar projetos desenvolvidos no pós-guerra, só ficando atrás da Studebaker, com sua surpreendente linha 1947. Desde o início o traço de ‘Dutch’ Darrin era um diferencial de modernidade sem excessos ornamentais.

A grade inspirada em um leque era associada a um beijo por alguns, enquanto as laterais lembravam as ondas que um pneu forma ao passar pela água

O Kaiser-Darrin veio no embalo da febre que os roadsters europeus causaram na América na primeira metade dos anos 50. Após a volta dos soldados que se apaixonavam pelos modelos vendidos por marcas inglesas como Jaguar, MG e Riley, os militares queriam carros equivalentes produzidos em Detroit. Foi do mesmo fenômeno que surgiram o mais reverenciado — e duradouro — carro esporte americano, o Chevrolet Corvette, o adorável Ford Thunderbird de primeira geração e o meio inglês, meio americano Nash-Healey.

Outro destaque do Darrin e do Corvette em relação aos europeus era a fabricação em plástico reforçado com fibra-de-vidro, uma vantagem considerável, já que ambos precisavam de motores mais vigorosos — falha que a Chevrolet corrigiria já em 1955 com um V8. Ainda assim, com base no teste da revista Auto Age, o Corvette equipado com câmbio automático Powerglide de duas marchas fazia 171 km/h, dez a mais que o Darrin, e acelerava de 0 a 96 km/h em 11 segundos, contra 13,2 s do concorrente. Depois do Muntz Jet e do Nash-Healey, o modelo da Kaiser era o terceiro carro americano a trazer cintos de segurança como equipamento de série.

No interior do roadster, grandes instrumentos e decoração monocromática; o motor de 2,6 litros e 90 cv brutos é que decepcionava

Sob o capô do Darrin ficava um seis-cilindros em linha de 161 pol³ (2,6 litros) de carburação simples do compacto Henry J, adaptado pela Willys, então associada à Kaiser. A principal diferença era o cabeçote em "F", com válvulas de admissão no cabeçote e de escapamento no bloco; o comando vinha também no bloco. A potência era de 90 cv brutos a 4.000 rpm, dez a mais que a versão básica do propulsor, e o torque atingia 17,5 m.kgf a 1.600 rpm. Ele rendia 9,6 km/l, então uma boa marca. O mesmo motor seria visto no Brasil em modelos como Jeep, Rural e Aero-Willys. O Henry J também era o doador do chassi, cujo entreeixos media 2,54 metros. A tração era traseira e a caixa manual de três marchas trazia overdrive opcional.

O primeiro protótipo do Darrin estreara em Los Angeles em 26 de setembro de 1952, exibido como um pioneiro na carroceria de "fibra" e ainda equipado com o motor provisório de 80 cv, já usado no Henry J. A demora entre a apresentação e a produção tiraria a primazia do Kaiser no material da carroceria. Em 11 de fevereiro de 1953, as 60 primeiras unidades produzidas eram apresentadas ao público, mas o Darrin só estaria disponível para vendas na linha 1954, perdendo seu pioneirismo para o Corvette.

Chegando tarde ao mercado, mais lento e mais caro que o primeiro Corvette, o Darrin durou pouco e teve apenas 435 unidades fabricadas

A chegada tardia, a carroceria que insistia em ranger (feita pelo fabricante de barcos Glasspar), o preço 145 dólares mais salgado que os 3.523 dólares do Vette de 150 cv, o desempenho ainda mais tímido que o do modelo da GM e o sucesso do lançamento do Thunderbird, no fim de 1954, levaram o curioso conversível Darrin a se aposentar com apenas 435 unidades fabricadas. ‘Dutch’ Darrin adquiriu os 100 últimos e instalou neles motores V8 com compressor e 300 cv da Cadillac, conferindo ao carro o desempenho genuinamente esportivo que sua proposta sugeria.

Criada em 1953 com a compra da Willys-Overland pela Kaiser-Frazer, em sua luta para se manter no negócio frente à forte concorrência de Detroit, a Kaiser-Willys não conseguiu resistir depois de 1955. Talvez, se a empresa tivesse durado mais, teríamos visto o Kaiser-Darrin movido por um potente V8 como um dos mais poderosos carros americanos do período. Mas a história do Darrin, tão singular quanto seu desenho, fez dele um disputado clássico. Ele é uma prova de que a qualidade nem sempre é o que mais se fixa na memória e nos corações, quando impera a criatividade.

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