Criatividade moldada em fibra

O estilo singular e a pouca duração do Kaiser-Darrin no
mercado fizeram dele um valioso item de coleção

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

Um leque, um livro aberto e duas ondas. O que isso tem a ver com a história que aqui contaremos? Bem, são eles os três principais elementos de estilo que caracterizam um dos mais excêntricos e bizarros carros americanos da década de 1950. Estamos falando do Kaiser-Darrin, um roadster lançado em 1953 que teve passagem relâmpago pela história do automóvel, por ser lançado já nos anos derradeiros de seu fabricante. Ele se destacou, acima de tudo, por seu desenho inusitado e foi apresentado como o primeiro carro feito em larga escala com carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro.

A obra tinha como autor o aclamado Howard ‘Dutch’ Darrin, que já havia desenhado alguns dos mais belos modelos Packard, como o Darrin 1940 e o Clipper 1941 ½ , além de passagens pelas européias Rolls-Royce e Hispano-Suiza. O projetista também foi responsável pelos primeiros Kaisers comercializados em 1947. Logo após essa parceria, ‘Dutch’ Darrin deixou a companhia por ela ter usado seu desenho antes de ele julgá-lo finalizado. Mas voltaria mais tarde para desenhar a notável linha Kaiser 1951.

Na fase de protótipo o Darrin usava um pára-brisa bipartido, com duas seções arredondadas no topo, que deu lugar a um mais comum na versão de produção

Quando a direção da empresa não aprovou sua proposta para o compacto Henry J, ‘Dutch’ Darrin saiu novamente, mas de maneira amigável. Começou a elaborar, em seu estúdio em Hollywood, um esportivo baseado na plataforma do compacto da Kaiser-Frazer como projeto pessoal. Henry J. Kaiser, dirigente da companhia, não gostou da idéia por não ter dado ao desenhista permissão para tanto. Mas sua esposa se encantou de tal maneira com o roadster, que ele considerou o projeto para produção.

A forma do leque foi usada na pequena grade do Kaiser esportivo, uma forma que alguns associavam a um beijo. Enquanto ainda era um protótipo, o carro apresentava pára-brisa duplo com cada lado arredondado na parte superior, a exemplo do Kaiser 1951. A forma dos vidros dianteiros lembrava um livro aberto. Visto de lado, o esportivo da Kaiser parecia as ondas que uma bicicleta forma ao passar por uma poça d'água em velocidade. Frente e traseira se projetavam cada uma para seu lado. A linha da cintura despencava bem na altura das portas, a exemplo de clássicos ingleses como o Jaguar XK e os MG TC e TD.

As portas corrediças, que se ocultavam nos pára-lamas dianteiros, eram um dos muitos elementos de estilo originais do roadster

Para completar as heterodoxas feições do carro, suas estreitas portas eram corrediças e ficavam escondidas atrás dos pára-lamas dianteiros quando abertas. A concepção desse sistema, aparentemente tão moderno depois de as minivans o disseminarem a partir dos anos 80, datava de 1922. Infelizmente, o inusitado ficou devendo na praticidade: o corte já estreito das portas ainda era prejudicado pela abertura parcial de ambas, que também emperravam com facilidade. A parte final não desaparecia, por abrigar as maçanetas.

A capota landau rebatível era um capítulo à parte do projeto. Ela podia ser disposta de três formas: fechada, semi-aberta como num targa e totalmente rebaixada. Entretanto, a Kaiser também criou um teto rígido que, por ter estreitas colunas, permitia ampla visibilidade e dava ao carro um aspecto de cupê hardtop. Ele deixava o Darrin mais harmonioso e elegante, especialmente se o teto fosse na mesma cor do carro, e diminuía a claustrofobia na cabine... Quebra-ventos de plástico, além de acrescentar um charme extra, diminuíam a turbulência no interior do veículo. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 5/4/05

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade