Em 1953 era apresentada a segunda geração do Prefect e do Anglia (série 100E), que trocava o formato "vertical" por um estilo mais elegante, baixo e largo, com três volumes. Era um carro todo novo, com estrutura monobloco, suspensão dianteira independente (conceito McPherson, que a própria Ford havia lançado no Vedette francês de 1948), motor com bomba d'água e freios de comando hidráulico, embora mantivesse o câmbio de três marchas e o limpador a vácuo. Agora media 3,84 metros de comprimento e 2,21 m entre eixos e pesava 765 kg.

A geração de 1953 trouxe um ar bem diferente ao Prefect (foto) e ao Anglia, que assumiam o formato três-volumes com estrutura monobloco e suspensão dianteira independente

O motor de 1,2 litro continuava com 30 cv e torque de 7,2 m.kgf. Uma perua chegou a ser oferecida: a derivada do Prefect chamava-se Squire, e a da linha Anglia, Escort — curiosamente, a mesma denominação do carro que, em 1968, se tornaria o sucessor do sedã. A mecânica era igual à do automóvel, mas o desempenho ficava um pouco pior com o peso de 815 kg. A evolução técnica não permitia que o novo Anglia continuasse o mais barato carro da Inglaterra, mas a Ford encontrou uma solução que hoje parece familiar aos brasileiros: manteve a antiga geração em linha, com acabamento ainda mais despojado e renomeada — de forma muito apropriada — Popular.

Sem aquecimento interno, com revestimento em vinil e isento de qualquer item supérfluo, o carro teve seu sucesso ampliado por uma norma governamental, vigente desde o fim dos anos 40, que impedia o comprador de um veículo zero-quilômetro de vendê-lo por três anos. Assim, quem não dispunha do valor de um Anglia, Austin A30 ou Morris Minor, por exemplo, tinha de escolher entre o Popular ou um carro velho, anterior ao conflito.

O Popular: um antigo Anglia com acabamento despojado, mantido em produção para atender aos que só podiam comprar carros anteriores à guerra

Tanto o Anglia/Perfect de segunda geração (que totalizaram 345.800 unidades produzidas) quanto o Popular (150.000) foram feitos até 1959, quando a Ford os substituiu por um novo Anglia de formas ousadas. O antigo Anglia, série 100E, foi então transformado em Popular e manteve-se em linha por mais três anos, lado a lado com a nova geração.

No Brasil
Logo após a guerra, o Brasil estava carente de automóveis novos, uma vez que a importação de veículos particulares fora interrompida por três anos. Já os ingleses, depois de resistirem bravamente a Hitler, enfrentavam racionamentos e precisavam exportar produtos manufaturados em troca de alimentos e artigos de primeira necessidade.
 
Juntando uma coisa à outra é fácil entender por que o Brasil, então um país agrícola, foi subitamente tomado por carrinhos ingleses —a maioria deles populares. De uma hora para outra, passaram a ser comuns em nossas ruas marcas como Triumph, Standard Vanguard, Austin, Jowett, Hillman, Rover e Vauxhall. A mais popular de todas era a Morris, que por alguns meses de 1951 conseguiu a façanha de brigar com a então imbatível Chevrolet pela liderança de vendas no Brasil.

Neste cenário, a Ford entendeu que poderia ter seu quinhão trazendo os pequeninos Prefect e Anglia produzidos em Dagenham. Por volta de 1947 chegaram por aqui os primeiros Prefects, em geral verdes, azuis ou pretos. Em termos de mecânica, eram uma miniatura dos velhos Fordinhos americanos. Já o Anglia tinha apenas duas portas. No embalo vieram outros Fords ingleses: os furgões Fordson (uma espécie de Prefect de carga, muito popular entre padeiros e tintureiros) e os caminhões Thames. Em 1949 chegou o Prefect com alterações de estilo.

Mais baratos que os Fords americanos, Anglia e Prefect tornaram-se bem populares por aqui. Tanto que a Ford não tardou a montá-los em regime de CKD em sua fábrica de São Paulo, com peças vindas da Inglaterra. Os carrinhos ingleses, porém, andavam muito menos que os americanos.

Bem ajustado, um Prefect podia manter velocidade de cruzeiro de 70 km/h e, nas subidas de serra, faltava-lhe força. Tinha também a fama de esquentar muito, já que não usava bomba d'água, mas termo-sifão. De quebra, sua aparência antiquada rendia comparações com "caixa de fósforos em pé" e outros gracejos.

Mesmo assim, encontraram muitos compradores por aqui. Serviram a gente em início de carreira (como o jovem locutor Cid Moreira) e até como meio de transporte diário para o palhaço Carequinha. Em São Paulo foram adotados nas auto-escolas e, em cidades do Nordeste, chegaram a ser usados como táxis. A montagem prosseguiu até por volta de 1952. Depois, para desenvolver a indústria nacional e evitar a evasão de divisas, vieram restrições cada vez maiores às importações. A nova geração de Prefect e Anglia já não deu as caras por aqui.

Assim como todos os outros carros ingleses, os pequenos Fords começaram seu longo processo de decadência no Brasil. Sua resistência não era a mesma dos carrões americanos e nossos mecânicos, acostumados aos brutos automóveis ianques, ajudaram a encurtar a vida dos britânicos. Por fim, as peças de reposição escassearam. Pelos anos 60, já em pleno domínio da indústria nacional, carro inglês era coisa de gente sem dinheiro. No começo da década seguinte sumiram de vez de nossas ruas, para morrer esquecidos em ferro-velhos.

Hoje são raros os sobreviventes, que resistem em mãos de apaixonados por modelos antigos. Nas fotos, um raro Prefect de primeira geração no Rio de Janeiro e um Fordson em fim de carreira no Rio Grande do Sul.

Jason Vogel

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