Um americano na Europa

Irmão maior de nosso Polara, o Chrysler 160/180/2 Litre
teve uma conturbada carreira na França e na Inglaterra

Muitos — mesmo entre seus admiradores — acreditam que a marca Chrysler teve sua atuação limitada ao continente americano e à Austrália. Na verdade, porém, a empresa aplicou seu logotipo também a produtos fabricados na Europa, e não só em um país: esteve presente na França, Inglaterra e Espanha. E a linha de sedãs 160/180 pode ser considerada um símbolo desse processo.

As operações da Chrysler na Inglaterra iniciaram-se ainda na década de 1930, com importação e montagem de automóveis. Nos anos 60 adquiria a Rootes — conglomerado das empresas britânicas Hillman, Humber, Sunbeam e Singer — e a renomeava Chrysler UK Ltd. A injeção financeira dos americanos estava clara em todos os lados, dos aumentos de salários dos funcionários às instalações fabris, em Whitley, nas cercanias de Coventry. Enquanto isso, seguindo-se a sua aquisição pelos americanos, em 1963, a francesa Simca (a Société Industrielle de Mécanique et Carrosserie Automobile, fundada em 1935) tornava-se em 1970 a Chrysler France.

Buscando uma operação conjunta entre os braços britânico e francês, para competir com a Ford nos dois mercados e com as marcas européias da General Motors (Opel e Vauxhall), a empresa começava em 1966 o desenvolvimento de um sedã médio-grande, o projeto Carro C. Na Inglaterra ele substituiria o Humber Hawk e na França marcaria um retorno a esse segmento, no qual a Simca já não atuava desde o fim do Vedette, em 1961 — seu maior modelo era o médio 1301/1501. Seria um quatro-portas para a categoria superior à do Hillman Avenger, o Carro B, este o modelo que no Brasil daria origem ao Dodge 1800/Polara. Embora cada país tenha apresentado sua proposta, a diretoria deu preferência à dos ingleses.

A intenção era fabricar o Carro C em ambas as unidades e oferecer um novo motor V6 de 2,0 e 2,5 litros. Mas o governo francês na época impunha pesados impostos a motores de maior cilindrada, pelo que a versão local ficaria apenas com um quatro-cilindros. Em 1970, um reestudo levava à decisão de produzi-lo apenas na França e... sem o V6, que já estava amplamente testado e com ferramental instalado para a construção. Em meio à trapalhada, em setembro do mesmo ano eram apresentados no Salão de Paris os Chryslers 160, 160 GT e 180, apenas com o motor Simca de quatro cilindros.

"Um americano de Paris", anunciava a publicidade do sedã de três volumes e linhas convencionais, que media 4,53 metros de comprimento e 2,67 m entre eixos. Seu desenho era "limpo", com poucos frisos na carroceria, janelas sem quebra-ventos e uso moderado de cromados. Os faróis eram retangulares, e as lanternas traseiras, verticais. O interior agradava, com acabamento que simulava madeira, bancos dianteiros individuais com encostos de cabeça, volante de três raios e um amplo painel composto por cinco mostradores circulares.

Dois motores da mesma família estavam disponíveis, ambos com comando de válvulas no cabeçote e ignição eletrônica. O modelo 160 usava um com cilindrada de 1.639 cm³ e potência de 80 cv, suficiente para velocidade máxima de 155 km/h. No 160 GT e no 180 havia uma versão de 1.812 cm³ e 97 cv, para atingir 170 km/h. O câmbio podia ser manual de quatro marchas ou automático de três, com tração traseira. As suspensões eram convencionais: dianteira McPherson e traseira por eixo rígido, ambas com molas helicoidais — um eixo De Dion foi estudado, mas abolido por questão de custos. Os freios das versões de 1,8 litro eram a disco nas quatro rodas (apenas à frente no 160), um recurso raro na época. Continua

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Data de publicação: 27/6/06

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