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A versão de rua foi bem recebida, mas o objetivo era a famosa prova francesa 24 Horas de Le Mans. Para esse fim recebeu um motor bem apimentado: 1.288 cm³, câmaras de combustão hemisféricas, duplo comando de válvulas, dois carburadores de corpo duplo Weber 45DCOE. O que mais chamava a atenção eram as cornetas de aspiração dos carburadores, o coletor e o enorme tubo de escapamento, uma das especialidades da Abarth. Com taxa de compressão de 10,4:1, desenvolvia 125 cv a 7.200 rpm para uma velocidade final de 230 km/h. Para parar o pequeno bólido usavam-se quatro freios a disco.

No modelo de corrida o interior era muito simples, como se espera. Para dois ocupantes, tinha um painel compacto em forma de hexágono, com um enorme conta-giros ao centro. Ladeavam termômetros de água e de óleo, manômetro de óleo e amperímetro. O volante de três raios metálicos era pequeno e tinha boa pega. As forrações de bancos, painéis de porta e teto eram as mais simples possíveis. Tudo em nome da leveza.

Sua estréia nas pistas se deu em junho de 1962 em Le Mans. Foram inscritos três Fiats Abarth 700 Bialbero e quatro Simcas Abarth 1300. Só um dos Simcas terminou, mas logo em seguida foi vitorioso na França em Charade, depois na 1.000 Quilômetros de Paris e em Vallelunga, na Itália. No Brasil fez enorme sucesso em corridas. Na década de 1960 as fábricas montavam equipes oficiais para divulgar a qualidade de seus produtos. Corriam pela Willys os modelos Dauphine, Gordini e Interlagos. A Vemag era representada pelos sedãs DKW; a FNM concorria com o 2000 e seu sucessor 2150; e a Simca, com o Chambord, que apesar da estabilidade respeitável era muito pesado e não tinha um motor moderno.

Cansada de ser superada após a entrada em cena do Karmann Ghia-Porsche e do Malzoni, a Simca dava um passo decisivo: trazia um Simca Abarth com a preparação mais afinada, de 125 cv, e uma versão 2000 com motor de 1.946 cm³, lubrificação com cárter seco, dois Webers 58 DCO, 192 cv a 6.800 rpm e dupla ignição. Pesava 725 kg e foi cronometrado a 255 km/h! Pilotos de alto calibre competiam com ele, como Luís Pereira Bueno, Camilo Christofaro, Chico Landi, Jayme Silva, Ciro Cayres, Wilson Fittipaldi Jr., Bird Clemente, José Carlos Pace e Mário César de Camargo.

Logo em sua primeira prova, a Três Horas de Velocidade, disputada em 1964 em Interlagos, São Paulo, o Abarth foi vitorioso nas mãos de Ciro Cayres e Jayme Silva. Pouco tempo depois, na 500 Quilômetros de Interlagos, outra vitória de Cayres e José Fernando "Toco" Martins. Na primeira edição da 6 Horas de Brasília, outra vez Ciro levou a melhor.

A versão 2000, com motor de 192 cv, fez sucesso também nas pistas brasileiras nos anos 60

No ano seguinte o carrinho também dominou a temporada. Venceu a 500 Quilômetros de Interlagos com Jayme Silva e a 12 Horas de Interlagos com Jayme, Ciro e "Toco". Ainda com Jayme faturou a 6 Horas de Interlagos, a 12 Horas de Brasília e mais uma prova em Recife. O grande Ciro completaria a façanha em Curitiba e Vitória. O esportivo francês teve concorrentes de respeito, como o Willys Interlagos, a interessante carreteira com motor de Chevrolet Corvette, o rápido e belo Alfa Romeo Giulia, o potente Ferrari 250 GTO e nosso valente DKW Malzoni. Mas não se intimidou.

Dois fatos interessantes merecem registro. Em um dos carros, no lugar do motor original, foi montado um V8 do Simca nacional com a cilindrada aumentada para 2.550 cm³. Outra curiosidade é que, como os dois Abarths estavam no Brasil em regime de importação temporária, tiveram de voltar para a Itália após dois anos correndo e vencendo aqui. Conta-se que uma irregularidade na papelada de readmissão impediu o desembarque no destino e, como não poderiam voltar ao Brasil, os carros estariam hoje repousando no fundo do mar Adriático...

É uma pena que Henri Théodore Pigozzi, tão dedicado à marca por anos, tenha deixado a Simca em 1963 e morrido em novembro de 1964, não vendo seus carros triunfarem em terras brasileiras.