Fluxo criativo

Derivado de um carro-conceito, o Mercury Turnpike Cruiser
reluziu uma época de excessos com soluções incomuns

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

O exagerado conceito XM-Turnpike Cruiser: "asas de gaivota" no teto, ogivas no parachoque dianteiro, lanternas traseiras de estilo ousado

Alguns elementos não chegaram ao Turnpike de produção, mas o estilo era semelhante e havia tomada de ar sobre o parabrisa para o interior

Na Detroit dos anos 50, as marcas de carros de passeio comercializavam um único modelo grande em variadas séries. Muitos nomes as batizaram ao longo dos anos e era comum um novo nome, aplicado à série topo-de-linha, tentar revigorar uma linha de produtos. A maior parte dessas séries não chegou a marcar a memória do público, tamanha era a rotatividade. Mas algumas, por um motivo ou por outro, ganharam notoriedade e viraram ícones de uma época. Basta lembrar o Bel Air e o Impala da Chevrolet, o Fairlane da Ford ou mesmo o curioso Turnpike Cruiser da Mercury, divisão intermediária da Ford Motor Company.

Lançada para 1957, essa série de topo da Mercury representou as peculiaridades de sua época e seu país de origem como poucos carros conseguiram. Por peculiaridades entenda-se o estilo inspirado na tecnologia desenvolvida para aeronaves e foguetes, ícones do que havia de mais avançado na engenharia da época. Nada da eficiência de deslocamento desses veículos tão aerodinâmicos: a idéia era usar suas formas para ornamentar a carroceria de carros grandes, potentes, espaçosos e confortáveis, bem ao gosto dos americanos. Uma camada de modernidade no que nada mais era que um padrão já tradicional.

A década de 1950 foi a que mais valorizou o estilo nos carros dos Estados Unidos. Poucas foram as inovações técnicas relevantes, mas o desenho definitivamente expressou a febre consumista que se apossou da América naqueles anos em que a paz e prosperidade eram medidas de forma material, por bens como casa, carro, televisor, fogão, lava-roupas. Cada ano-modelo trazia reestilizações que tornavam o novo superado e forjavam a necessidade de se adquirir o ainda mais novo. Quanto mais um carro incorporasse aspectos visuais das aeronaves, mais se ressaltava a sensação de modernidade desses redesenhos.

Para testar a aceitação dessas ousadias formais, Detroit deu grande impulso aos "carros de sonho" ou carros experimentais (hoje carros-conceito), idéia introduzida com o Buick Y-Job da General Motors em 1938. Durante a guerra, ilustrações de carros futuristas em revistas como Popular Mechanics, Mechanix Illustrated e Popular Science mantinham os americanos ávidos pelo que veriam nas ruas após o conflito. Os carros experimentais dos anos 50 preparavam o público para parte do visual e soluções dos próximos modelos de produção. Entre eles, um dos mais lembrados foi o Mercury XM-Turnpike Cruiser, apresentando em 1956 no Salão de Chicago.

Confeccionado na italiana Ghia, ele tinha a frente inclinada para dentro conforme se aproximava dos parachoques bipartidos. Cada um destes trazia duas vistosas imitações de turbinas de avião, que circundavam imitações de ogivas. Por conta dessa inclinação, os faróis do XM-Turnpike Cruiser eram ressaltados. A linha da cintura se elevava na parte posterior das duas portas, formando uma espécie de barbatana com formato em “V” aberto para as laterais até chegar às lanternas. O parabrisa era panorâmico e a área envidraçada bastante generosa. Era nas janelas que se via o aspecto mais interessante do modelo futurista.

O XM-Turnpike Cruiser era um cupê hardtop e acima de cada porta havia uma abertura extra transparente no teto. Estas duas peças de plástico se elevavam como asas de gaivota, uma releitura do que ocorria ao clássico Mercedes-Benz 300 SL de 1954. Depois delas, a linha do teto se rebaixava nas laterais, moldando os vidros traseiros envolventes. O que seria a janela traseira era uma porção mais estreita entre esses dois vidros, que podia ser deslizada para baixo e deixar fluir o vento. Os escapamentos cromados duplos saíam pelas laterais. No painel havia quatro instrumentos ressaltados à frente de quatro bancos individuais.

Em 1957 a Mercury já trazia a versão de produção daquele apanhado de idéias dignas de uma nave espacial do Buck Rogers do universo dos quadrinhos. O Turnpike Cruiser definitivo perdeu alguns recursos futuristas de estilo e ganhou outros. Vendido também no Canadá pela divisão Monarch, ele teve ampla divulgação como carro-madrinha oficial da 500 Milhas de Indianápolis, em 30 de maio de 1957. A partir dos quatro exemplares conversíveis feitos para o evento, a Mercury ofereceu algumas réplicas. Última versão lançada, o conversível era a mais trivial da linha. O Turnpike Cruiser — algo como “viajante das estradas” em inglês — marcou época mesmo por conta de suas versões hardtop, cupê e sedã sem colunas centrais. Continua

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Data de publicação: 6/1/09

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