Seguro, mas não muito

Com a proposta de competir com o Corvette e oferecer grande
segurança, o Bricklin SV-1 foi um fiasco como empreendimento

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O primeiro protótipo do SV-1: depois de rejeitar as linhas inspiradas no Datsun 240Z, a empresa chegava a um desenho típico dos anos 70 e 80

Vendido em cinco "cores de segurança", o Bricklin usava portas do tipo asa-de-gaivota, com acionamento automático lento e não muito robusto

O nome do americano Malcolm Bricklin, nascido em 1939, já havia ficado conhecido no mercado de automóveis pelos pequenos veículos da japonesa Fuji Heavy Industries — motonetas Rabbit e carros Subaru 360 — que ele tentara, sem muito êxito, introduzir no país. Se o título de "carro mais inseguro do mercado" atribuído ao 360 pela publicação Consumer Guide prejudicou os planos de Bricklin, pode também ter servido de inspiração para o desenvolvimento de seu próprio automóvel: o SV-1, sigla para Safety Vehicle ou veículo de segurança.

A proposta do empresário era aplicar a um modelo esportivo, de preço acessível, recursos de segurança que não só atendessem aos requisitos do governo, mas os superassem. O primeiro projeto foi elaborado por Bruce Meyers, criador do bugue Meyers Manx que havia tomado as praias californianas nos anos 60. Foram tentadas mecânicas da Chrysler, com motor de seis cilindros do Valiant, e da alemã Opel, mas o projeto não vingou — Malcolm achou as linhas elaboradas por Meyers parecidas demais com as do Datsun 240Z. Então veio Marshall Hobart, que refez o desenho. O primeiro protótipo usou um motor American Motors V8 de 360 pol³ (5,9 litros), que seria mantido no modelo final.

Para que o Bricklin se tornasse realidade foram criadas as empresas General Vehicle, Incorporated (GVI), em Scottsdale, no estado americano do Arizona, e Bricklin Motorcars, Limited, a unidade de fabricação em St. John, New Brunswick, no Canadá — local escolhido pelo forte investimento do governo local, interessado em abrir empregos. Em meados de 1974 o SV-1 chegava ao mercado apresentado como "um carro tão seguro quanto poderíamos fazer", mas também "bonito de ver, durável e fácil de manter", nas palavras do fabricante. Seu preço previsto de 3.700 dólares era atraente — 1.500 a menos que o de um Chevrolet Corvette Stingray.

O Bricklin era um cupê de linhas modernas para a época, não muito diferentes das que várias marcas adotariam em carros esporte no fim dos anos 70 e começo dos 80. É curiosa sua semelhança com o DeLorean DMC-12 de 1981. Tinha formas retilíneas, frente baixa e longa com faróis escamoteáveis, cabine recuada, vidros laterais pequenos. O pára-choque dianteiro — resistente a impactos a até 8 km/h, como exigido pela legislação americana de 1974 em diante — é que destoava um pouco do conjunto. A carroceria era feita com painéis plásticos reforçados com fibra-de-vidro, injetados já na cor desejada. Embora resistente e fácil de eliminar riscos, pois não havia pintura, era muito sensível a mudanças de temperatura e não se recomendava usar lava-rápido para evitar danos.

As cinco cores disponíveis eram tons de boa visibilidade, que reforçavam a preocupação com a segurança: branco, vermelho, laranja, verde claro e bege — chamados de Safety White, Safety Red e assim por diante. As portas abriam-se para cima, ao estilo asa-de-gaivota, o que a empresa considerava mais seguro, e foram as únicas de que se tem notícia com mecanismo automático para abrir e fechar. No entanto, o sistema hidráulico acionado por motor elétrico estava longe de ser confiável e trouxe muitas reclamações. Havia ainda a recomendação no manual de que, caso as duas fossem movimentadas ao mesmo tempo, isso ocorresse na mesma direção — abrir uma e fechar outra em simultâneo poderia danificar o sistema.

O painel era revestido para absorver impactos e os instrumentos (seis, incluindo contagiros, voltímetro e manômetro de óleo) contavam com luzes-piloto redundantes para alertar o motorista. O volante tinha três raios metálicos, aro revestido em couro e ajuste em altura. Ar-condicionado, direção assistida e cintos de três pontos eram de série, mas não havia cinzeiro ou acendedor de cigarros. Segundo o material de divulgação, "não queremos que você deixe cair um cigarro no colo e dirija seu belo carro contra uma árvore"... Continua

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Data de publicação: 3/2/09

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