Da cidade para o mundo

De início um hatch bem pequeno, o Honda City cresceu e passou por
cinco gerações até assumir as formas com as quais o conhecemos

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Com 3,40 metros bem aproveitados e motor de 1,2 litro com 67 cv, o City oferecia agilidade, economia e praticidade de uso a baixo custo

Ressalto no capô, pneus mais largos, bancos envolventes, painel com mais instrumentos: é a versão Turbo, que conseguia 100 cv e 15 m.kgf

Para muitos brasileiros, City (cidade em inglês) pode parecer um novo nome na linha Honda, adotado apenas no sedã lançado em 2009 no País. Engano: a história do City no Japão e em outros mercados já se aproxima de 30 anos e inclui cinco gerações, sendo duas como um hatchback compacto e três como sedã médio-pequeno.

A lacuna que o City veio preencher foi aberta com o crescimento do Civic, lançado em 1972 com três portas, 3,55 metros de comprimento e motor de 1,2 litro. Maior e mais potente a cada geração, o Civic já não atendia ao segmento logo acima dos kei jidosha ou "carros K" — os diminutos modelos japoneses com motor de 660 cm³ e dimensões limitadas por lei para que obtenham benefícios fiscais. Isso abriu espaço para o City, lançado em novembro de 1981 com tamanho pouco menor que o do primeiro Civic: 3,38 m de comprimento, 1,57 m de largura, 1,47 m de altura e 2,22 m de distância entre eixos.

Com três portas, cinco lugares, motor transversal e tração dianteira, o City seguia o conceito de máximo aproveitamento de espaço que norteou vários projetos da época, como Fiat Uno em 1983 e Suzuki Alto (Maruti 800 na Índia) em 1984. Chamavam atenção elementos como capô curto e em forte ascendência, enormes portas laterais, amplos vidros e colunas estreitas, receita para ótima visibilidade. Faróis circulares ladeavam a grade e os para-choques eram de plástico, outra tendência de seu tempo. Os retrovisores fixados ao capô eram obrigatórios no Japão. No interior, o espaço era maior que o esperado por suas dimensões externas e havia boas soluções, como uma área plana no topo do painel e uma prateleira abaixo dele para acomodar objetos.

O motor de 1,2 litro do City tinha quatro cilindros, comando de válvulas no cabeçote e o sistema CVCC (câmara de combustão com turbilhonamento controlado), em que o desenho do cabeçote promovia melhores condições de queima da mistura ar-combustível para reduzir as emissões poluentes. A potência de 67 cv e o torque de 10 m.kgf lidavam bem com o baixo peso a partir de 655 kg, deixando-o bastante ágil no trânsito. Havia opção entre caixas manuais de quatro e cinco marchas e a automática de três; a suspensão independente usava o conceito McPherson à frente e atrás. Uma versão furgão de dois lugares, voltada ao uso profissional e ao transporte de cargas leves, foi lançada ao mesmo tempo. Teve como um dos objetivos o mercado australiano, pois evitava as restrições do governo local à importação de carros de passageiros. Já os europeus receberam o City com o nome Jazz (usado hoje no Fit daquele continente), pois a Opel alemã tinha direitos sobre o nome City.

Interessante era a Motocompo, uma motoneta de 50 cm³ que podia, mediante rebatimento do banco e do guidão, ser encaixada no porta-malas do carro. Em agosto de 1982 aparecia a versão E1 do City, ainda mais econômica, com consumo médio de 21 km/l pelo ciclo padrão japonês. Os entusiastas por desempenho, porém, logo eram atendidos: um mês depois a Honda apresentava o City Turbo, em que o mesmo motor recebia turbocompressor IHI (Ishikawajima Heavy Industry) e a moderna injeção eletrônica PGM-FI da Honda para obter 100 cv e 15 m.kgf, marcas compatíveis com um bom 1,8 da época. O retardo de entrada do turbo em ação (turbo lag) era reduzido pela turbina compacta e de baixa inércia. Com 730 kg, de 0 a 100 km/h ele precisava de apenas 12 segundos, deixando para trás o mais pesado Nissan Pulsar e o menos potente Daihatsu Charade Turbo.

A proposta havia surgido na mente de Hirotoshi Honda, filho do fundador da empresa Soichiro Honda e proprietário da preparadora Mugen. A própria fábrica aprovou e assumiu a ideia. Para lidar com seu desempenho, o Turbo vinha com pneus 165/70 R 12, freios dianteiros a disco ventilado e suspensão recalibrada com estabilizador em ambos os eixos. A aparência antes singela do City ficava mais esportiva com um ressalto no capô, grade com seção fechada no lado esquerdo, faróis de neblina, teto solar, para-choque com defletor e logotipos Turbo na frente, nas laterais e na traseira. Por dentro, os bancos traziam revestimento em tons vivos como vermelho e o nome da versão grafado nos encostos, o volante de três raios era similar ao de Hondas mais refinados e o painel colocava um velocímetro digital dentro do conta-giros, enquanto a pressão do turbo era mostrada ao lado. Continua

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Data de publicação: 5/1/10

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