Com ajustes no modo de dirigir e cuidados com o carro, o motorista pode reduzir o consumo e aliviar o bolso em tempos de crise
Alguém aí interessado em economizar? É claro que sim, neste momento em que vivemos um cenário de recessão e desemprego. É hora de poupar onde for possível e, quando se trata do automóvel, as despesas com combustível estão entre as mais volumosas. Como reduzi-las?
À parte o caminho de diminuir o uso do carro, trocando-o pelos transportes coletivos ou a bicicleta, é possível tornar seu consumo mais moderado com algumas providências, tanto ao volante quanto em sua manutenção. Vamos a elas.
• Reduza a rotação. Os motores de aspiração natural a quatro tempos (não vale para turboalimentados e para os de dois tempos) têm sua maior eficiência operando com acelerador bem aberto, ou seja, pressionado mais. Contudo, se você dirigir assim levará o motor a altas rotações e produzirá mais potência, o que aumenta o consumo: a solução é usar o câmbio para manter a rotação baixa.
Em caixa manual, pode-se economizar trocando de marcha ao redor de 2.000 rpm na maioria dos carros e das situações de uso urbano
Em caixa manual é simples, podendo-se trocar de marcha ao redor de 2.000 rpm na maioria dos carros e das situações de uso urbano. “Escute” o motor: o importante é obter funcionamento regular após a mudança, sem trancos ou vibrações. Vários carros hoje trazem indicadores sugestivos do momento de troca, que endossam nossa recomendação. Em rodovia, só reduza quando realmente necessário: se puder conseguir o mesmo desempenho acelerando mais em marcha mais alta, prefira.
No caso de câmbio automático ou automatizado pode-se usar o modo de seleção manual, mas como proceder quando esse modo não existe? A solução é “ensinar” a central eletrônica da caixa que se deseja a troca para cima mais cedo, acelerando gradualmente e levantando um pouco o pé quando a rotação já permitir a mudança. O método aplica-se também a câmbios de variação contínua (CVT), que tendem a elevar a rotação se o motorista pisar mais e com rapidez no acelerador.
• Suavidade ao dirigir. Evite movimentos bruscos, tanto ao acelerar quanto ao frear. Antecipe-se: veja mais à frente e tire o pé do acelerador mais cedo ao avistar semáforo fechado, cruzamento, lombada ou outro obstáculo — o que também poupa os freios. Quando se roda sem acelerar a partir de certa rotação (em média, 1.500 rpm) e com câmbio engatado, o motor deixa de consumir combustível. Isso também permite aproveitar declives para economizar.
• Velocidade moderada. Ninguém quer perder tempo, tão escasso em nosso cotidiano, mas tenha em mente que o carro gasta bem mais ao viajar rápido. A resistência do ar cresce ao quadrado do aumento de velocidade: ao passar de 100 para 140 km/h, por exemplo, ela quase duplica (1,4 x 1,4 = 1,96) para um ganho de velocidade de apenas 40%. Com isso, a potência necessária e o consumo crescem de forma expressiva.
• Controlador, nem sempre vantajoso. Além da comodidade, o controlador de velocidade tem o benefício de solicitar ao motor apenas a potência necessária para manter o ritmo desejado pelo motorista, sem sobras, o que pode representar economia. No entanto, em rodovias com aclives frequentes, manter a velocidade com rigor pode implicar reduções de marcha que aumentam o consumo: nesse caso, usar o acelerador e tolerar certa perda nas subidas faz bem para o bolso.
• Eficiência no ar-condicionado. Use-o com moderação, o bastante para obter temperatura interna confortável. Ao chegar ao carro exposto ao sol intenso, procure rodar com vidros abertos — ao menos em parte — nos primeiros minutos para aumentar a renovação de ar e expulsar o calor interno. Estando a cabine mais fresca que a parte externa, usar a recirculação (entrada de ar fechada) aumenta a eficiência do sistema e reduz a demanda de energia, mas evite seu uso prolongado, que pode deixar o ar seco. E lembre-se: o ideal é direcionar o ar frio para cima da cabine, de modo a favorecer a troca térmica e a refrigeração homogênea.
• Dispense acessórios. Todo equipamento que consuma energia elétrica traz aumento de consumo, de faróis auxiliares ao desembaçador do vidro traseiro. Assim, use-os apenas quando necessário. Repare em quantos motoristas acionam os faróis de neblina junto aos principais em rodovias sem nevoeiro: puro desperdício de lâmpadas e energia. Por outro lado, não é por isso que você deve abandonar o bom hábito de viajar com faróis acesos de dia.
Procure programar mais tarefas para a mesma viagem ou em sequência, pois o motor consome mais na fase de aquecimento e em curtos trajetos
• Olho nos pneus. Já abordamos aqui os prejuízos — não só em termos de consumo — causados por pressão de enchimento dos pneus abaixo da recomendada. Verifique-a pelo menos uma vez por mês, evitando rodar muito antes (pneus aquecidos falseiam a medição), e experimente o resultado de aumentar a pressão em 2 a 3 lb/pol² se seu uso frequente for em pisos de boa qualidade: o carro rodará mais “solto” sem grande perda em conforto. Alguns fabricantes já informam no manual uma pressão “ecológica” para esse fim.
• Mais largos? Não, obrigado. Como também já comentamos, os carros atuais têm adotado rodas grandes e pneus largos em excesso, motivados pela preferência estética de muitos brasileiros. Em nome de um aspecto esportivo e uma vantagem nem sempre aproveitada em estabilidade, essa escolha prejudica o desempenho, o conforto e… o consumo. Se puder tomar a decisão na compra do carro, na troca de pneus ou ao colocar rodas diferentes, pense nisso e prefira medidas moderadas, que serão também mais baratas na reposição.
• Planeje os trajetos. Procure programar mais tarefas para a mesma viagem ou em sequência. O motor consome mais na fase de aquecimento, o que significa economia se não for preciso usar o carro para curtos trajetos em diferentes horários. Aproveite sistemas na internet e em aplicativos de celular para encontrar os trajetos menos congestionados.
• Sem vícios. Muita gente tem, ou mantém, hábitos ao volante que não trazem benefícios ou mesmo prejudicam o carro, como aguardar minutos com motor ligado antes de sair (pode-se rodar de imediato com moderação), acelerar com o carro parado (talvez resquício dos tempos de carburadores, nem sempre eficazes em manter a marcha-lenta) ou fazê-lo antes de desligar o motor (não faz sentido algum e, se a ignição for cortada muito cedo, pode até mandar combustível não queimado para o catalisador, danificando-o). Se for seu caso, livre-se desses vícios e o bolso agradecerá.
• Combustível, só de qualidade. A adulteração é um mal ainda frequente no Brasil, mas você pode tentar evitá-la abastecendo em postos conhecidos, recomendados por amigos e com preços dentro da média — valor muito baixo deixa suspeitas. Peça sempre nota fiscal para ter argumentos em caso de problemas e poder denunciar o posto com provável adulteração à Agência Nacional do Petróleo (ANP). Cada vez mais comum nos carros, o computador de bordo pode ser boa ferramenta para controlar o consumo médio de quem tem um padrão de uso: aumento repentino sem explicação pode indicar combustível de baixa qualidade.
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