Depois de uma fase infeliz, o principal sedã da empresa
bávara volta a entusiasmar em estilo com a sexta geração
Texto: Edilson Luiz Vicente – Fotos: divulgação
Quando a BMW lançou o Série 3 como sucessor da linha “Nova Classe”, em 1975, provavelmente já esperava o sucesso da nova geração. O que ela talvez não previsse é que o êxito seria tão grande a ponto de, 37 anos depois, o Série 3 — hoje com ampla família que abrange cupê, sedã, perua e conversível — ser responsável por quase a metade das vendas da marca bávara em âmbito mundial.
É interessante notar, nesse processo de concepção do Série 3, como caíram bem todas as características de estilo da BMW em um modelo menor, no segmento que para ela seria de entrada. Apesar de a primeira geração já ter a qualidade e o peso da marca BMW destacando-se perante a concorrência, foi com a segunda geração (1981) que ele visivelmente se tornou um modelo de luxo, ou premium como se costuma dizer hoje, característica fortemente mantida geração após geração.
O Série 3 não é apenas requintado: ele possui qualidades de construção, acabamento, conforto, equipamentos e comportamento dinâmico diferenciados que fazem jus a essa qualificação. E foi também na época, com a segunda geração, que a BMW começou um processo de renovação no estilo, mantendo suas fortes características de identidade, mas com um salto de qualidade de aparência.
O novo carro tem o estilo mais esportivo, não só pelo desenho da frente, mas também pelas linhas mais dinâmicas e fluidas, e está maior e mais largo que a geração anterior
No modelo dos anos 80 o desenho começou realmente a chamar a atenção e transmitir toda a força da marca, destacando mais o modelo. Para completar, a cereja do bolo se tornou a versão esportiva M3, que — ao contrário dos triviais apliques com a intenção de dar um visual esportivo — revelou a preocupação em estar acima da média por meio de modificações na carroceria, como a inclinação do vidro traseiro. Isso tornou a versão realmente diferenciada, características também mantidas até hoje. Se as versões normais de produção do Série 3 já eram atraentes, o M3 dava uma aula de estilo.
A terceira geração, de 1990, quebrou vários paradigmas da marca. O que já era bom havia se tornado ainda mais atraente, sendo que algumas características de estilo foram mantidas, mas executadas de forma brilhante e somadas a uma nova arquitetura — cujas características têm sua base mantida até hoje —, formas mais retilíneas e visual mais jovial, esportivo e de aparência mais aerodinâmica que o de seu antecessor.
O sucesso foi tanto que era de se esperar que a quarta geração (1998) fosse melhor ainda, e a BMW não desapontou: o estilo geral do modelo foi atualizado mantendo a identidade, com linhas mais arredondadas, encorpadas e imponentes. O esportivo M3 ficou simplesmente espetacular.
O lançamento da quinta geração, em 2005, foi em uma época turbulenta para a BMW. As novas características de estilo adotadas como identidade da marca, em modelos como o Série 7 de 2001 e o Série 6 de 2003, tiveram uma repercussão muito negativa entre parte do público e o Série 3, mesmo sendo o menos afetado pela controversa ousadia de Chris Bangle, esteticamente perdia parte do apelo conquistado com as gerações anteriores. A única versão que se manteve no nível foi a M3, graças a uma diferenciação ainda maior. O cupê M3 parecia ser um carro todo diferente e não mais derivado, como suas gerações anteriores.
O novo Série 3 diante das gerações anteriores, com a primeira à direita: elementos
de desenho preservados em um sedã que ganhou imponência e esportividade
Enfim chegou nosso assunto, a sexta geração, apresentada em 2011 na Europa e lançada aqui em junho. Nota-se que certas características da arquitetura do Série 3 definidas desde a terceira geração permanecem, como a frente bem curta e o capô baixo, e em consequência toda a carroceria é baixa. Também as relações de proporção entre tamanho de capô, habitáculo recuado e tamanho do porta-malas são bem características do modelo — e estão entre suas melhores qualidades do ponto de vista estético.
O novo Série 3 tem o estilo mais esportivo, não só pelo desenho da frente, que transmite essa sensação, mas também pelas linhas mais dinâmicas e fluidas — caso da coluna C um pouco mais inclinada, como na terceira geração. Esse modelo está maior e mais largo que a geração anterior, e a predominância de temas e linhas horizontais evidencia isso. A BMW também adotou superfícies multifacetadas que proporcionam um maior contraste entre sombra e luz, com atenção especial em deixar boas porções de superfícies pegando luz para dar leveza ao modelo. Isso ao mesmo tempo contribui com o toque esportivo (como podemos observar nos para-lamas, em especial o traseiro) e enfatiza a largura do carro.
A conclusão a que se pode chegar é que, desde que o estilo da BMW se tornou polêmico, as vendas não caíram porque as qualidades dos automóveis e o prestígio da marca compensaram a insatisfação de muitos. O Série 3 da quinta geração perdeu, a nosso ver, o estilo atraente e cativante desde o primeiro olhar, aquela coisa de provocar o desejo de ter um na garagem, mas o retrocesso parece estar compensado nesse sexto modelo por meio de importantes passos adiante.
A BMW vem tentando inovar seu estilo sem cair em mais polêmicas. Apesar de o novo Série 3 ser superior também em estilo à geração anterior, não chega a causar aquelas boas sensações que a terceira e a quarta geração transmitiram em suas épocas, e alguns detalhes ainda podem causar opiniões divergentes. Em um carro que é tecnicamente superior e de uma marca de prestígio, o estilo também deveria estar à altura: se a sensação em geral é boa, ao mesmo tempo fica a impressão de que poderia ser melhor.
Essa queda abrupta do capô é o tipo de elemento que dá o que falar. É bastante ousado, mas o resultado estético abre discussões.
A dupla grade está bem pronunciada e com o destaque que merece, com o contorno cromado e evidente. A própria BMW chama a grade de “rim” (no caso, dois deles). Como alusão ao órgão humano, soa esquisito, mas parece ser herança dos tempos em que as grades eram longas na vertical, finas e arredondadas, como nos modelos dos anos 30 a 60.
Uma das maiores características do Série 3 é o capô baixo, com a abertura da caixa de roda bem próxima (balanço curto). Isso sempre foi muito atraente e esportivo desde que começou a se evidenciar, na terceira geração.
Linhas multifuncionais: dão estilo à lateral, alongam o carro visualmente, não deixam ficar uma área enorme vazia e sem graça, e podem até sugerir reforço estrutural. Por tudo isso, estão presentes na maioria dos carros. Nesse modelo são simples e bem resolvidas.
Ótimo trabalho de escultura: as bolhas dos para-lamas, em especial as traseiras, acrescentam um bom toque de esportividade e beleza a todo o visual.
Essa linha do para-choque está terminando de forma um tanto arbitrária, perdendo o sentido. Traz dúvidas se a superfície está com defeito ou se faltou terminar ou fazer a conexão com algum lugar.
O detalhe inferior do para-choque está estranho com os cantos tão retos, além de não combinar com nada do carro. Faz parecer que não deveria estar aí.
O defletor formado na tampa do porta-malas é mais uma das características que compõem a identidade do Série 3. Mesmo que alguém possa achar meio antiquado, sem isso poderia perder um pouco da graça.
Outras características marcantes desse BMW são o habitáculo recuado e o capô longo. Também pode até ser considerado antiquado, mas é um dos pontos altos da estética do modelo.
Podemos observar que a linha de cintura não é tão alta, nem o perfil das janelas muito baixo, como dita a moda atual. Mesmo assim, transmite modernidade.
O Série 3 tem uma grande lista de características de estilo que devem ser mantidas geração após geração. A curvatura da janela traseira é um exemplo que certamente traz um problema enorme para os profissionais de Estilo: como renovar e transmitir a sensação de novidade sem mexer na forma usada desde os anos 60, quando foi introduzida pelo diretor de Estilo Wilhelm Hofmeister?
A curvatura do teto é muito bonita, assim como a inclinação bem acentuada da coluna C e sua passagem suave para o porta-malas. Muito bom.
Um carro dessa categoria com um vão tão grande que é possível enxergar através dele é inaceitável. Parece ser consequência da ideia de conectar os faróis à grade, que vista de longe parece interessante, mas de perto a execução deixa a desejar.
Tanto o contorno quanto os detalhes da abertura do para-choque ficaram muito bem trabalhados e bonitos. Valorizam o desenho frontal.
Não parece, mas essa pequena aba é um detalhe que enriquece o estilo. Muito bom.
Sem contar o vão do capô, são três linhas que os vincos formam de cada lado. É muita coisa junta, e os dois vincos do capô terminam na dianteira de forma arbitrária. Discutível.
Esses vincos e suas respectivas superfícies pegando luz, que formam a combinação emoldurando os elementos refletivos, ficaram muito bem esculpidos. Valorizam o estilo do para-choque traseiro.
Difícil imaginar uma explicação para essa pequena moldura estar aí. Não faz sentido algum, não agrega nada e nem embeleza.
À primeira vista esse vinco parece desnecessário, mas esculpir as várias transições das superfícies da tampa traseira, sem ele, ficaria muito difícil e o resultado provavelmente não seria de muita qualidade.
Mesmo se a traseira em geral lembra a do atual Série 5, isso não é um defeito. O desenho das lanternas é bonito e os contornos simples e bem feitos, uma enorme evolução em relação à geração anterior.
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